Espanha condena intervenção militar na Venezuela
Após mensagem de Guaidó de que as outras nações devem considerar "todas as opções" para retirar o presidente Nicolás Maduro, Espanha recusa opção militar para a crise da Venezuela
O governo da Espanha condenou qualquer tipo de intervenção militar na Venezuela. A declaração foi feita logo após o líder da oposição no país vizinho, Juan Guaído, publicar no Twitter que as outras nações devem considerar “todas as opções” para retirar o presidente Nicolás Maduro do poder.
O apelo de Guaidó aconteceu no sábado (23), quando partidários da oposição passaram horas tentando furar um bloqueio do governo para conseguir a entrada de comida e suprimentos médicos no país. Pelo menos quatro pessoas foram mortas e mais de 300 ficaram feridas.
“Os acontecimentos de hoje me obrigaram a tomar uma decisão: propor à Comunidade Internacional de maneira formal que devemos ter abertas todas as opções para conseguir a libertação desta pátria”.
Los acontecimientos de hoy me obligan a tomar una decisión: plantear a la Comunidad Internacional de manera formal que debemos tener abiertas todas las opciones para lograr la liberación de esta Patria que lucha y seguirá luchando.
¡La esperanza nació para no morir, Venezuela!
— Juan Guaidó (@jguaido) 24 de fevereiro de 2019
O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, deve anunciar “medidas concretas”, e “ações claras” no encontro da cúpula do Grupo Regional de Lima, em Bogotá (capital da Colômbia) que acontece nesta segunda-feira (25), com a participação de Guaidó, disse uma fonte das autoridades norte-americanas entrevistadas pelo The Guardian.
“O que aconteceu ontem [sábado] não vai nos impedir de obter ajuda humanitária na Venezuela”, disse a autoridade.
Apesar do aumento de tensão na fronteira entre Venezuela, Brasil e Colômbia, o governo espanhol se posicionou contra o uso de qualquer força estrangeira.
“Nem todas as opções estão na mesa”, disse o ministro das Relações Exteriores do país, Josep Borrell para a agência de notícias espanhola Efe, no domingo.
“Nós claramente advertimos que não apoiaremos – e condenamos veementemente – qualquer intervenção militar estrangeira, o que é algo que esperamos que não aconteça”, completou, repetindo apelos por novas eleições no país:
“A solução na Venezuela só pode ser alcançada através de uma solução democrática acordada pelos venezuelanos e a convocação das eleições presidenciais”. No final de janeiro Borrell se posicionou de forma semelhante, quando disse que, para o Estado espanhol, a situação na Venezuela é um “assunto interno”.
Isso não necessariamente significa que a Espanha apoia o governo Maduro. No início de fevereiro, logo após Guaidó se auto proclamar presidente interino, chamando o país para novas eleições com o objetivo de destituir Maduro, o primeiro ministro da Espanha, Pedro Sanchez reconheceu o líder da oposição.
Naquele momento, Sánchez disse que existem laços profundos que ligam Espanha à América Latina e prometeu trabalhar para ajudar a “trazer liberdade, prosperidade e harmonia a todos os venezuelanos”.
A decisão de reconhecer Guaidó, levou Maduro a atacar a Espanha acusando o primeiro ministro de ser um covarde e fantoche dos EUA.
A relação entre os dois países vem sendo roída há mais de uma década. Em 2007, o rei Juan Carlos mandou o presidente Hugo Chávez se calar durante um encontro de cúpula.
Em janeiro do ano passado, Maduro expulsou o embaixador espanhol da Venezuela. Em seguida, Madri se manifestou declarando o embaixador venezuelano na Espanha persona non grata. Logo depois, Maduro disse que a Espanha é dirigida por uma “elite racista oligárquica colonial” que se intromete em assuntos de outras nações. Entretanto, três meses depois da troca de farpas, os dois países concordaram em normalizar as relações diplomáticas.
Com apena 35 anos, Guaidó acelerou a transformação da política venezuelana e conseguiu reunir a oposição ao declarar-se líder legítimo no país, quando assumiu a Assembleia Legislativa, em janeiro. Desde então, vinha afirmando que seu foco era uma transição pacífica e novas eleições.
Na manhã desta segunda (25), Guaidó disse pelo Twitter que mais de 160 soldados e policiais fugiram para a Colômbia, recusando-se a continuar seguindo as ordens do governo Maduro. “Muitos mais seguirão seu exemplo”, completou.
Porém, seus comentários no sábado, falando em “todas as opções” para retirar Maduro do poder, apontaram que a opção pacífica já teria se esgotado. A publicação recebeu, inclusive, apoio de políticos no exterior favoráveis a intervenção militar na Venezuela. Um deles é o senador da Flórida, de raiz hispânica, Marco Rubio. Ele escreveu no Twitter:
“Os graves crimes cometidos hoje [sábado] pelo regime de Maduro abriram as portas para várias ações multilaterais em potencial que não estão na mesa há apenas 24 horas”, disse em resposta a Guaidó.
Na manhã deste domingo, o senador acrescentou: “A disposição de muitas nações de apoiar ações multilaterais mais fortes para desalojá-las aumentou dramaticamente”.
Já o secretário de Estados dos EUA, Mike Pompeu foi mais cauteloso, dizendo que “mais ações serão contempladas” na reunião desta segunda-feira, mas o foco seria em sanções, ajuda humanitária e ações dos próprios venezuelanos.
Donald Trump ainda não respondeu a Guaidó, mas no mês passado disse que “todas as opções estavam na mesa” e sugeriu invadir a Venezuela.
O líder da oposição venezuelana exilado, David Smolansky, próximo a Guaído, avaliou que o colega não quis dizer pelo Twitter que defende uma intervenção militar estrangeira. “Ainda é um movimento pacífico”, disse. “A violência de ontem [sábado] veio de gangues e forças de seguranças armadas pró-governo”.
Porém, ao ser pressionado se apoiaria uma intervenção militar no futuro, respondeu que não descartaria a necessidade: “A única opção que temos é restaurar a democracia e a liberdade com pressão interna e externa”.
A chefe do escritório de direitos humanos da ONU, e ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet criticou as mortes no final de semana chamando de “cenas vergonhosas” do governo Maduro.
“Estas são cenas vergonhosas. O governo venezuelano deve impedir que suas forças usem força excessiva contra manifestantes desarmados e cidadãos comuns”. Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que a violência seja “evitada a qualquer custo e que a força letal não seja usada em circunstância alguma”, pedindo que “todos os atores reduzam as tensões e busquem todos os esforços para evitar uma nova escalada”.
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