USP repudia professor que chamou gays de "aberração"
Eduardo Gualazzi disse que pobres “se recusam a trabalhar”, chamou LGBTs de “aberração”, enalteceu a “raiz europeia da nação brasileira” e criticou a miscigenação de raças. O professor ainda fez questão de revelar em quem votou nas eleições de 2018
Em aula inaugural do curso de Direito na USP na última segunda-feira (25), o professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi distribuiu um texto aos alunos elogiando a ditadura militar e afirmando, entre outras coisas, que pobres são “minoria do submundo que se recusam a trabalhar” e LGBTS, “aberração”, além de “tarados e taradas”.
Nesta quarta-feira (27), a Faculdade de Direito da USP decidiu reprovar publicamente as declarações do docente. Celso Fernandes Campilongo, diretor em exercício da Faculdade, afirma que a USP “zela pela liberdade de cátedra e expressão” mas repudia “manifestações de discriminação, preconceito, incitação ao ódio e afronta aos Direitos Humanos”.
“A USP mantém a tradição “da promoção dos valores da igualdade e da cidadania. É dever dos docentes, em consonância com a ordem constitucional, enfrentar estereótipos de gênero, raça, cor, etnia, religião, origem, idade, situação econômica e cultural, orientação sexual e identidade de gênero (LGBT), dentre outras, jamais incentivá-los”, afirma Celso Fernandes Campilongo.
“A liberdade de cátedra e expressão não pode se traduzir em abuso e desrespeito à diversidade. O respeito a todos, maiorias ou minorias, é valor inegociável. Vozes que, eventualmente, fujam dessas diretrizes não representam o pensamento prevalecente na Faculdade de Direito e merecem veemente desaprovação”, conclui o diretor.
Eduardo Lobo Botelho Gualazzi é professor do curso de “Direito Administrativo Interdisciplinar”. Até agora, ele não se manifestou sobre a polêmica.
Além de elogiar a ditadura no texto distribuído em sala de aula, Gualazzi fez questão de informar a seus alunos em que votou em Jair Bolsonaro para presidente da República, Major Olympio para senador, Luiz Philippe de Orléans e Bragança para deputado federal e Paulo Skaf para governador de SP no primeiro turno — e João Doria no segundo.
No texto, o professor da USP também louva a “raiz europeia da nação brasileira” e critica a miscigenação de raças.
2014
Essa não é a primeira vez que Gualazzi desenvolve materiais de aula como esse. Em 2014, ele ministrou a aula “Continência a 1964”, na qual fez um discurso pró-ditadura militar.
“Mais uma vez, afirmo, reafirmo, e reitero o inteiro teor de minha aula Continência a 1964, de 31 de março de 2014”, diz o texto distribuído na segunda (25).
Relembre:
Eduardo Gualazzi
Fiel às gravatas borboletas e ao aristocratismo, que ele elenca como a primeira das características a definir sua personalidade, Eduardo Gualazzi, 70, é professor de direito administrativo da USP desde 1986. Ele é descrito dentro da instituição como um homem fechado, extremamente conservador e temperamental.
Gualazzi redige seus textos em uma máquina de escrever e sempre os registra em cartório. Não usa e-mail nem celular. O professor chegou a trabalhar como advogado na Procuradoria do Estado de São Paulo era próximo ao ex-presidente Jânio Quadros.