Redação Pragmatismo
Jair Bolsonaro 07/Mar/2019 às 20:06 COMENTÁRIOS
Jair Bolsonaro

Bolsonaro despeja um "golden shower" em seus milhões de eleitores

Publicado em 07 Mar, 2019 às 20h06

De repente, Jair Bolsonaro informa aos seus 57 milhões de eleitores que o voto deles não passa de uma concessão dos militares. Para usar uma expressão que caiu nas graças do presidente, é como se ele despejasse um "golden shower" sobre as urnas que o elegeram

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(Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro fez, nesta quinta-feira (7), um discurso em que vincula democracia e liberdade à vontade das Forças Armadas.

Em uma fala de pouco mais de 4 minutos na cerimônia de formação de fuzileiros navais no Rio de Janeiro, o presidente disse que seu governo será exercido ao lado “daqueles que amam a democracia e a liberdade. E isso, democracia e liberdade, só existem quando as Forças Armadas permitem”.

O presidente também disse que quer fazer do Brasil um país de primeiro mundo e que reconhecerá os militares neste contexto. Prometeu ainda debater uma nova “retaguarda jurídica” para os militares.

A fala de Bolsonaro foi duramente criticada. O líder da oposição na Câmara, deputado Alessando Molon (Rede-RJ), repudiou a fala do presidente. “Dizer que a democracia e a liberdade só existem quando as Forças Armadas querem é uma ameaça inaceitável”, escreveu o parlamentar, também no Twitter.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) limitou-se a dizer o discurso de Jair Bolsonaro foi “mal interpretado”.

Josias de Souza, jornalista do UOL, repudiou a fala do atual chefe do Executivo:

Houve um tempo em que a “democracia” brasileira levava aspas. Nessa época, havia três poderes: Exército, Marinha e Aeronáutica.

Após a redemocratização, quando o voto tirou as aspas da democracia, passaram a existir quatro poderes: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e o Dinheiro da corrupção, que antes era acobertado pela censura.

Sob Bolsonaro, o sistema político brasileiro atingiu, finalmente, a perfeição. Virou uma democracia cuja Presidência está 100% isenta de democrata.

A conjuntura está crivada de ironias. Numa cruzada solitária, o capitão formou com o general Hamilton Mourão uma chapa puro-sangue militar. Cavalgando sobre os escombros de um sistema político apodrecido, prevaleceu sobre o petismo no segundo turno.

De repente, informa aos seus 57 milhões de eleitores que o voto deles não passa de uma concessão dos militares. Para usar uma expressão que caiu nas graças do presidente, é como se Bolsonaro despejasse um “golden shower” sobre as urnas que o elegeram.

Por sorte, a mesma democracia que tolera um presidente que faz aliança preferencial com a tolice permite que os eleitores exerçam a cada quatro anos, com irrestrita liberdade, o inalienável direito de fazer besteiras por conta própria.

Com a ajuda dos militares, que têm direito a voto. A despeito da possibilidade de alternância no poder, um jovem que ouve Bolsonaro discursando deve se perguntar: “Será que democracia é isso mesmo?”

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