Professor é assassinado a tiros por aluno dentro da escola
Professor de 41 anos é assassinado a tiros por aluno dentro da sala dos professores em Goiás. Colegas de profissão lamentam: “era uma pessoa tranquila, serena e equilibrada”. Família está em choque e estudantes fazem homenagem. Vítima deixa casal de filhos pequenos
O professor Júlio Cesar Barroso de Souza, de 41 anos, foi assassinado a tiros por um aluno dentro da Escola Estadual Céu Azul, na cidade de Valparaíso (GO). O crime aconteceu na terça-feira, 30 de abril.
Neste feriado de 1º de Maio, Dia do Trabalho, a Polícia Civil de Goiás prendeu o adolescente de 17 anos que cometeu o assassinato. A própria mãe indicou para os policiais onde o filho estava.
“A mãe nos levou até o menino, que estava em cima de uma árvore na casa de uma amiga. Ela foi até ele, os dois trocaram um abraço e o garoto se entregou”, relatou o delegado Rafael Pareja, responsável pelo caso.
No dia do crime, o adolescente do 2º ano do ensino médio foi repreendido pelo professor no período da manhã e, em tom de ameaça, saiu da escola dizendo que voltaria.
A tarde, por volta das 15h, o rapaz retornou uniformizado, com um revólver na cintura e deu dois tiros em Júlio Cesar – um pelas costas e outro na cabeça da vítima, que já estava caída no chão.
No momento do crime, os estudantes saíam das salas para o intervalo. Houve pânico, corre-corre e gritaria. Muitos se esconderam dentro das salas de aula e chegaram a pensar que se tratava de um ataque como o de Suzano
Além de professor, Júlio Cesar exercia a função de coordenador da Escola Estadual Céu Azul. Ele estava na sala dos professores quando foi assassinado.
Despedida
O sepultamento de Júlio Cesar aconteceu na manhã desta quinta-feira (2) e o clima era de tristeza e indignação. O professor Mateus Alves descreveu o coordenador como uma pessoa “tranquila, serena e equilibrada”.
“A escola terá que passar por uma transformação radical. A sala dos professores não tem condição alguma de permanecer onde está”, ressalta. Segundo Alves, o colégio ficará de ponto facultativo até dia 13 de maio.
Apesar da tragédia, Mateus espera transmitir uma mensagem de esperança a todos que atuam na profissão. “Meu recado para todos os professores é não desistir jamais, nunca deixar de acreditar na humanidade. Não é o primeiro episódio assim e não será o último, mas não deve trazer um desespero. O educar pesa mais do que todas essas dificuldades”, disse.
A professora de artes visuais Maria Florência Benitez, 57, disse que foi uma das primeiras a ver o coordenador caído no chão, ensanguentado.
“Estava entrando em sala para começar uma aula quando ouvi quatro disparos. Vi de longe o pé dele e achei que ele ainda estava vivo. Saí correndo e, ao entrar na sala dos professores, o Júlio estava agonizando. Estou sem dormir, só pensando nisso”, contou.
Estudantes da escola também foram dar o último adeus a Julio Cesar; alguns vestidos de preto, em sinal de luto. Um colega de sala do estudante apreendido diz que “nunca imaginou que ele fosse chegar a esse ponto”.
Segundo o garoto de 17 anos, o atirador era calado e conversava com poucos. “Eu estava passando perto da escola no dia e só vi a multidão correndo desesperada, dizendo que tinham acertado alguém”, lembra.
Segurança
A coordenadora pedagógica Aline Arantes, 37, trabalhava lado a lado com a vítima. “Um cara tranquilo que jamais levantou a voz para alguém. Uma excelente pessoa. Ficamos muito surpresos. O aluno tinha um perfil intimidador, mas nunca pensamos que isso poderia acontecer aqui. Estamos muito abalados”, pontuou.
“Um aluno jamais pode entrar em uma escola armado. Queremos respeito. Temos medo. Nos sentimos ameaçados a todo momento. Até mesmo por isso não levamos em consideração o fato de o aluno ter sido ríspido com o Júlio. Isso nunca tinha ocorrido aqui. Temos uma clientela difícil, mas não imaginaríamos que chegaria a esse ponto”, acrescentou Aline.
Viúva inconsolável
Daiane Alves, de 31 anos, esposa de Julio Cesar, se mostrou completamente inconformada com o assassinato do marido. Ainda não é possível acreditar no que aconteceu. A ficha não caiu. Estávamos juntos há 15 anos e eramos casados há oito. Vai me fazer muita falta”, desabafou.
“Júlio era um pai, marido e professor exemplar. Temos um casal de filhos pequenos, de 3 e 6 anos, e eles estão muito tristes. Provavelmente não compreenderam que nunca mais vão ver o pai. O que sinto agora é dor. Vamos seguir a vida. Vou trabalhar para cuidar dos meus filhos, que é o que ele também faria”, lamentou.