Bolsonetes, à luta!
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Discordo que a maioria dos trabalhadores que ainda defendem Jair Bolsonaro o faz por inconsciência de classe ou por ignorância. Eles o fazem por orgulho.
O maniqueísmo dicotômico que tomou conta do País desde o golpe contra a Dilma dificulta o reconhecimento de erro. De todos os lados, diga-se.
É muito difícil prum eleitor do Bolsonaro, cujo argumento principal era elevá-lo à categoria de “mito”, reconhecer logo em poucos meses que estava errado e que, realmente, a melhor opção seria qualquer outro. Inclusive um petista, no segundo turno.
E os eleitores do Bolsonaro estão sim arrependidos. Ou são incoerentes.
Ressalvada a luta pela facilitação de posse e porte de armas, tudo que ele prometeu na campanha não está cumprindo.
A “nova política” está se mostrando tão velha como as outras, inclusive com o próprio Bolsonaro afirmando que assegurou uma vaga no STF pro outro “mito”, o Moro, largar a magistratura e assumir um (super, sic) ministério.
Sobre velha política, aliás, Bolsonaro vai dar quarenta milhões para que cada deputado aprove a reforma (destruição) da previdência. Reforma essa que, em campanha, prometeu não fazer, o que serviu de argumento pro voto de muita gente que agora a defende. Incoerência? Não. Orgulho.
Bolsonaro prometeu melhorar a Educação. Ele vai fazer isso justamente retirando verbas dessa pasta. É evidente que não se melhora nada cortando investimentos. Mas os que antes defendiam que a Educação com o petê havia piorado agora defendem, indiretamente, que ela não é importante pro progresso do País. Estão mesmo convictos disso? Claro que não.
Eu até entendo o ressentimento de alguns contra os funcionários públicos. Amiúde são pessoas que prestaram inúmeras provas, mas sem sucesso em nenhuma delas. Aí ficam acusando os servidores de terem regalias. Uma inveja que evoca inverdades.
Quanto à Educação, também são geralmente pessoas que não conseguiram fazer uma universidade pública e/ou não levaram adiante por frustrantes motivos cursos de pós-graduação.
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Nos dois casos, como disse, são equívocos. Os servidores públicos não têm privilégios. O que causa mais indignação é a estabilidade, por exemplo. Mas há que se dizer que ela não é incondicional e existe justamente pra proteger a sociedade de nomeações e perseguições políticas no serviço que é prestado ao público.
Muitos apoiam a reforma alegando que vai acabar com as mamatas do serviço público. Não sabem, por desconhecimento ou má-fé, que os servidores mais beneficiados com salários enormes pouco ou nada serão afetados por essas mudanças.
E quanto às universidades, em sã consciência, à exceção do Ministro da Educação (que, apesar de ser de exatas, têm problemas com conta simples de percentagem), ninguém acha que elas são locais de balbúrdia. Os cursos superiores brasileiros, de tecnologia várias e das áreas de humanas, estão produzindo conhecimentos reconhecidos e premiados pelo mundo todo. Aliás, em se tratando de conhecimento, o mundo reconhece mais nosso intelectualismo do que nós próprios. Herança dum pensamento ainda colonialista. Mas isso é papo de bagunceiro das humanas.
Fato é que, como disse, os eleitores do Bolsonaro sabem que erraram. Muitos ainda nutrem a esperança de serem chamados naquele concurso em que ficaram na enésima posição. Assim como têm filhos e entes que sonham em fazer um curso superior de excelência sem pagar nada, a não ser o cafezinho do intervalo, que também sofre com a inflação (há o lanche coletivo do DCE, mas isso já é com os bagunceiros da História e afins).
Por isso, bolsonetes, apoiem as greves que estão na eminência de acontecer. Os comunas-petralhas-lulistas-esquerdopatas-marxistas ou seja lá qual a alcunha que lhes derem estão lutando também pelo seus direitos.
Provavelmente, no fundo, vocês queriam estar ali trancando o trânsito e gritando palavras de ordem, mas têm medo de paralisar e serem demitidos. É justo vossos receios e contra esse cerceamento de liberdade de expressão aqueles grevistas também estão lutando. Por isso, apoiem as greves. Buzinem. Façam barulho. Deem um sinal de joinha. É tempo de recuperarmos o atraso. Sem ressentimentos. Sem inveja.
Mostre que de fato amam o Brasil, como diziam amar ano passado. Um Brasil dos brasileiros e não dos interesses estrangeiros.
Vamos juntos.
À luta!
*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha” e 1º Secretário do Simpo”