A era da insensatez
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
O historiador britânico Eric Hobsbawm definiu a Europa do final do século XVIII aos meados do XIX como sendo a era das revoluções, devido às transformações sociais e econômicas que esse continente sofreu e que, com menor ou maior intensidade, influenciaram o resto do mundo, para ou bem e para o mal.
Passaram-se quase duzentos anos. Muitos dos paradigmas iniciados nas revoluções francesas e inglesas ainda se fazem presentes na nossa sociedade. Para o bem ou para o mal.
Avançamos, contudo, socialmente em diversas áreas, apesar dalguns pesares.
Parece, entretanto, que hoje, no Brasil, estamos vivendo uma era de mudanças, mas claramente mudanças para pior. Às luzes do Iluminismo sobrepõem-se o obscuro das insensatezes.
Em nome de mudanças, defende-se o que talvez nem no Antigo Regime, na França pré-Revolução, seria aceitável.
O interesse coletivo foi deixado de lado para se lutar pelo individual.
Por vaidade, pessoas defendem o seu próprio mal, só pra não assumir que erraram.
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Os insensatos são explicitamente contra uma educação de qualidade e emancipadora. Nosso maior intelectual, e um dos maiores do mundo, Paulo Freire, é defenestrado em seu próprio País.
O Presidente defende que todas as pessoas andem armadas. Com fuzil, inclusive. Segundo ele, isso iria trazer mais segurança à população. Mesmo que os especialistas discordem.
Não obstante os horrores comprovados, bem comidos vestem verde e amarelo pra defender a volta da ditadura, em plena democracia.
Quando o mundo luta pra comermos melhor, defende-se os venenos como tempero.
Num claro regresso às políticas de aceitação dos diferentes, acusam os homossexuais de aberrações.
A ministra fala uma besteira por semana. E é aplaudida por homens que, doravante, só usam azul.
Ao ministro da Justiça foi prometido uma vaga no STF para que assumisse o cargo. E continua aplaudido por mulheres que, doravante, só vestem rosa.
Querem fazer o trabalhador labutar até morrer, lhe surrupiando direitos históricos. E há aplausos dessa mesma classe de trabalhadores que jura que conseguirá capitalizar parte do seu salário visando à aposentadoria. O infeliz nem do SPC consegue sair e acha que vai conseguir poupar.
A Educação, que, consenso, precisa ser melhorada, tem recursos cortados. E parte da população, aplaude. Mesmo que sem convicção, apenas por mister de defender o lado que escolheu.
O Presidente chamou milhões de idiotas por estarem reclamando direitos. Idiotas o aplaudiram.
Num trânsito com números bélicos de fatalidade, o se quer aumentar a velocidade e praticamente acabar com a punição por multas. Faz sentido. O cidadão de bem não financiou cinquenta mil na sua SUV tracionada pra andar só a oitenta, embora os buracos.
A insensatez é aplaudida por insensatos que o fazem muitas vezes sem estarem de fatos convencidos. Apenas repetem dados falaciosos e/ou falsos. E pregam sensatez.
Eric Hobsbawm, se vivo, talvez escrevesse sobre esse fenômeno brasileiro. No que seria criticado por gente que não o leriam ou, se tentassem, de qualquer forma não iriam compreender nada, como fizeram com Paulo Freire. Os sensatos só entendem a linguagem objetiva e sensata da Damares.
Os sensatos não querem estudar.
Os sensatos só querem andar armados e em alta velocidade.
É pra segurança.
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*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha” e 1º Secretário do Simpo”