Sergio Moro congela diante de duas deputadas na Câmara
Audiência com Sergio Moro na Câmara dos Deputados para discutir ilegalidades da Lava Jato é marcada por perguntas sem respostas. Ministro foge de questionamentos, mas é obrigado a ouvir verdades incômodas
O ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, presta depoimento nesta terça-feira (2) a três comissões da Câmara: de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ); de Trabalho, Administração e Serviço Público; e de Direitos Humanos e Minorias.
Moro responde a questões dos deputados sobre as revelações do site The Intercept Brasil sobre sua condução dos processos da Operação Lava Jato. A audiência é tumultuada e o presidente da sessão, deputado Felipe Francischini (PSL-PR), ameaçou suspender a reunião.
Como no depoimento ao Senado, Moro afirmou não reconhecer a autenticidade dos diálogos, mas admitiu que “algumas” (mensagens) podem ser dele, “algumas podem ter sido adulteradas total ou parcialmente”.
Diferente do que ocorreu no Senado Federal, na Câmara dos Deputados o ministro teve de enfrentar contestações muito mais sólidas.
A deputada Jandira Feghali chegou a desafiar Moro a assinar autorização para o Telegram mostrar suas mensagens. Ela entregou o papel nas mãos do ministro. Assista:
Mantendo a pressão, a jovem deputada Fernanda Melchionna, de 35 anos, também repreendeu Moro ao pedir que o ministro a olhasse nos olhos. Até esse momento, Moro havia apresentado um comportamento infantiloide e debochado na reunião.
“Eu gostaria de pedir que o ministro me olhasse. Eu sei que ele está acostumado a ver e ouvir a quem concorda com ele, inclusive gente que pede fechamento do Supremo e Congresso, mas eu sou deputada eleita e peço que ele tenha atenção nas perguntas que farei”, disparou.
O deputado Rogerio Correia lembrou que, em um dos trechos de diálogos de Moro, ele aconselha o procurador Deltan Dallagnol a afastar a procuradora Laura Tessler, que não era suficientemente “firme” para conduzir o processo contra o ex-presidente Lula.
“Pediu para afastar, e afastou”, disse Correia. “The Intercept, BandNews, Veja, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, todos confirmam os conteúdos (da Vaza Jato). O senhor continua negando os diálogos? Eu sugiro uma CPI”, prosseguiu.
“In Fux we trust”
Em outro momento da audiência, Moro também foi questionado sobre uma mensagem na qual afirmou “In Fux we trust” (Em Fux nós confiamos), em referência a decisões tomadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Fux.
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“Se aquela mensagem existiu de verdade, seria uma paródia do dólar norte-americano (as cédulas trazem a inscrição In God we trust — Em Deus nós confiamos). O juiz falar que confia em um ministro, em um procurador, agora é alguma ilegalidade?”
Desculpas ao MBL
O deputado Helder Salomão, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria e um dos autores da proposta de audiência com o ministro, em uma das suas indagações quis saber porque Moro pediu desculpas ao MBL.
“O senhor gravou áudio pedindo desculpas ao MBL, isso me causou estranhamento. Se o senhor coloca em dúvida a veracidade das informações divulgadas pelo The Intercept Brasil, porque fazer um pedido de desculpas ao MBL?. A pergunta ficou sem resposta.
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