Redação Pragmatismo
Notícias 23/Jul/2019 às 13:05 COMENTÁRIOS
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Os celulares de Joice e Paulo Guedes foram mesmo hackeados?

Publicado em 23 Jul, 2019 às 13h05

As notícias de que Joice Hasselmann teve o celular invadido no final de semana e, agora, que Paulo Guedes também foi vítima de um 'ataque hacker' devem ser lidas no contexto da estratégia de defesa da Lava Jato

joice hasselmann celular hackeados

Jornal GGN — Quando o dossiê com as conversas de Telegram que colocam a Lava Jato na berlinda veio à tona por meio do Intercept Brasil, a estratégia de Sergio Moro já estava pronta: associar o vazamento ao site de Glenn Greenwald a um ataque hacking que o ministro afirmou ter sofrido dias antes.

O mesmo teria ocorrido com Deltan Dallagnol, e a Polícia Federal abriu 4 procedimentos investigativos por conta disso.

Jornalistas do Intercept nunca deram pistas sobre a natureza da fonte do vazamento, muito menos sobre ajuda de qualquer hacker.

Além disso, até agora, Moro não apresentou uma evidência robusta que confirme esse suposto vínculo entre os ataques aos celulares que a PF investiga e o dossiê.

Mas a cada nova matéria divulgada pelo Intercept, a estratégia de Moro é reforçada com frases que criminalizam a atividade dos jornalistas.

Em uma de suas primeiras entrevistas defensivas ao Estadão, o ex-juiz da Lava Jato chegou a provocar Greenwald diretamente, questionando por quanto tempo mais ele iria continuar recebendo a colaboração de um criminoso, participando de um “crime em andamento”.

Moro teceu com fios de pós verdade a ideia de que o ataque hacking é o que abastece o Intercept, e procuradores logo entraram na onda para manter a história do crime em andamento bem viva. Basta lembrar do episódio do “hacker aqui” em um grupo do Conselho Nacional do Ministério Público.

As notícias de que Joice Hasselmann teve o celular invadido no final de semana e, agora, que Paulo Guedes, ministro da Economia – Pasta que tem o Coaf sob seu manto – também foi vítima de um ataque hacking igual a Moro, devem ser lidas no contexto dessa estratégia de defesa da Lava Jato.

Dizer que há um crime em andamento garante a Moro uma carta na manga: poder recorrer ao “estado de flagrante delito” para, mais cedo ou mais tarde, avançar com ações policiais ostensivas contra o Intercept.

Uma jogada arriscada porque, segundo especialistas, poderia configurar o uso do aparato de Estado em causa própria, por parte de Moro. Na opinião do professor de Direito Rogério Dultra, da Universidade Federal Fluminense, o ministro poderia ser alvo de dois tipos de ação: uma por crime de responsabilidade – em que o Congresso será chamado a se manifestar e processar – e outra por improbidade, cuja tramitação é teoricamente mais “eficaz”, pois se dá no Supremo Tribunal Federal e pode ser movida por qualquer cidadão.

Moro pode ter começado a testar a temperatura de uma ação contra o Intercept quando o portal O Antagonista – seu porta-voz informal desde os tempos de Lava Jato – vazou a informação de que a PF solicitou um relatório completo, ao Coaf, sobre as finanças de Greenwald.

O objetivo seria o de encontrar qualquer indício que possa levar a supostos pagamentos feitos a um suposto hacker, e arrastar o jornalista para a investigação formal.

Houve reações por parte de instituições nacionais e até internacional, e o Coaf foi provocado a responder se estava, de fato, fazendo uma devassa nas contas de Greenwald. O feedback foi evasivo, e depois a Folha de S. Paulo passou a publicar notinhas dando conta de que tudo foi um “balão de ensaio”.

De chamar atenção, ainda, a sequência dos fatos. Dias antes da deputada Joice Hasselmann alegar invasão em seu celular – e também associar com o que aconteceu com Moro – Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, acolheu um recurso de Flávio Bolsonaro que impede o Coaf de ser utilizado em investigações sem prévia autorização da Justiça. Como isso teria afetado a possível ação da PF contra Greenwald?

Folha trouxe nesta terça (23) a novidade sobre Paulo Guedes também ter entrado na lista de hackeados, sem apresentar um detalhe sequer sobre qual foi a “providência” tomada pelo ministro.

Mas é evidente que os dois casos fazem parte da grande narrativa construída por Moro com apoio dos procuradores, pois tanto Joice quanto Guedes tiveram número registrado no Telegram, sem que sejam adeptos do aplicativo, e houve, com a parlamentar, tentativa de conversar com jornalistas.

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