Jornalista dá aula anti-homofobia após noticiar caso de homem alvejado por beijar companheiro
Homem beija companheiro em bar e é alvejado com 4 tiros. Antes dos disparos, atirador gritou: "você não tem vergonha?". Ao noticiar caso, jornalista da Globo dá aula de bondade e sensatez
Um homem foi agredido e baleado após dar um selinho no companheiro em um bar na Região Metropolitana de Salvador na última semana. Marcelo Macedo, de 33 anos, levou 4 tiros de arma de fogo.
Antes do ataque, o agressor questionou se a vítima não tinha “vergonha de fazer isso na frente de pais de família”. As informações são da delegada Thais Siqueira, responsável pelo caso.
“Ele estava com um rapaz no bar, trocando carícias normais de casais, e chegou a ter um beijo, um selinho. Foi quando uma pessoa se aproximou e perguntou. Ele levantou para se explicar e começou a ser agredido”, relata a delegada.
Um dos tiros atingiu um dos braços da vítima e outros três o abdômen. Ele teve o baço e o pulmão perfurados. Além de ser alvejado, Marcelo Macedo também foi agredido fisicamente por outro homem que acompanhava o atirador.
Marcelo sobreviveu e se recupera no Hospital Geral de Camaçari (HGC). “As pessoas têm que ter consciência e respeitar a forma como a gente ama”, desabafou o homem, que passa bem após ser submetido a cirurgias.
A vítima ressaltou ainda que espera que os criminosos sejam punidos. Até a publicação deste texto, nenhum dos agressores foi preso.
Jornalista da Globo
Ao noticiar o caso na TV Globo/BA, a apresentadora Jessica Senra fez um desabafo ao vivo que repercutiu fortemente nas redes sociais. Confira o que ela disse:
“Segundo a vítima, o suspeito perguntou a ele, ao Marcelo, se não tinha vergonha de fazer ‘isso’ na frente de pais de família. ‘Isso’ era carinho, era beijo. Quer dizer, beijar, fazer carinho em alguém, na cabeça do homofóbico ofende, mas agredir e tentar matar não ofende?! A homofobia é isso, é ignorância, é falta de qualquer lógica. Uma das explicações pra homofobia é que ela tem a ver com o machismo, com a ideia de superioridade do homem sobre a mulher. Perceba que muitos homossexuais são chamados de ‘mulherzinha’, como se isso fosse ofensivo, como se ser mulher fosse uma ofensa. Porque o modelo de homem na nossa sociedade é baseado na masculinidade viril e agressiva. Os homossexuais mais afeminados, inclusive, são mais discriminados que aqueles que não são. Por isso a gente sempre diz que o combate ao machismo precisa ser de toda a sociedade, porque é uma coisa absolutamente irracional”
Em entrevista ao portal Universa, Jessica comentou a repercussão de sua fala:
“Recebi muito amor, apoio e incentivo. E muitas mensagens me tocaram. Muitas. Relatos de LGBTs que têm o medo como companhia diária. Pessoas que se sentem tolhidas no seu direito de manifestar carinho, amor, porque isso pode lhes custar a vida. Percebi a importância de usar um espaço como o que tenho para mostrar um ponto de vista que ainda não é o dominante. Continuamos com a visão machista, racista, homofóbica de mundo de milhares de anos atrás. E essa visão é opressora para a maioria da sociedade. Se a gente parar para pensar, todos nós sofremos pelo menos uma dessas opressões. Apenas homens brancos e heterossexuais estariam fora dessa lista – mas até eles sofrem com a opressão machista, num modelo de masculinidade que é tóxica, que lhes impede de ser sensíveis, que exige a violência como forma de expressão. E isso não é bom para ninguém. Então, já passou da hora de nos desconstruirmos dos valores que nos foram incutidos e nos reconstruirmos como seres humanos mais empáticos e cuidadosos uns com os outros”
Jessica Senra tem quase 20 anos de profissão, conquistou diversos prêmios na área e recentemente ocupou a bancada do Jornal Nacional.