"Anna Karina morrer é demais para mim", desabafa Caetano Veloso
"Muitas pessoas que amo e admiro morreram. Isso acontece o tempo todo. Quando a gente fica mais velho, o ritmo acelera. Normal. Mas Anna Karina morrer é demais para mim [...]". Caetano Veloso faz desabafo comovente sobre morte de Anna Karina
por Caetano Veloso
Muitas pessoas que amo e admiro morreram. Isso acontece o tempo todo. Quando a gente fica mais velho, o ritmo acelera. Normal. Sou de uma geração que teve motivos para supor que viu mais amigos, amantes e ídolos morrerem ao longo da juventude do que acontece geralmente.
Drogas, prisões, aids. Mas deve ser ilusão. Outras viram guerras, desastres econômicos, e, em regiões delimitadas, secas, enchentes, terremotos. Escrevo raros posts aqui. Obituários são frequentes.
Normal.
Mas Anna Karina morrer é demais para mim. Suponho que para a maioria das pessoas que lêem posts em redes sociais ela não seja ninguém. Para mim, Anna Karina é uma das mais fortes maravilhas das telas de cinema. Eu a encontrei uma vez: a produtora Liège Monteiro e o cineasta Neville de Almeida me apresentaram a ela aqui no Rio.
E fiquei muito emocionado ao vê-la de perto.
Mas a notícia de que aquela moça de O Demônio das Onze Horas, de Viver a Vida, de Uma Mulher É Uma Mulher – o encantamento mais intenso do fim de minha adolescência – morreu me fez sentir (até hoje só tinha pensado, mas agora é visceral) a necessidade de fechar para balanço. Fui ver Henrique Vieira no Carlos Gomes, conversei com familiares e amigos, mas eu não estava aí.
Estava sozinho dentro de mim mesmo, chorando e sabendo que tenho que pesar as coisas da minha vida de outro modo.
Anna Karina
A atriz francesa Anna Karina morreu no sábado (14) em Paris, aos 79 anos. Ela foi uma das maiores estrelas do movimento conhecido como Novelle Vague e faleceu devido à um câncer, conforme noticiou a agência France Presse (AFP) neste domingo (15).
A artista se tornou conhecida durante a década de 1960, principalmente por sua atuação em filmes do diretor Jean-Luc Godard, 89 anos, que também foi seu companheiro na época. Ela também fez carreira na música.
De origem dinamarquesa, Anna Karina começou sua carreira como modelo na França, para onde se mudou aos 18 anos. Ela se chamava Hanne Karin Bayer até adotar o nome artístico por sugestão da estilista Coco Chanel.
Ela participou de, ao todo, sete filmes com Godard, sendo um dos principais ‘O Pequeno Soldado’ (1963), protagonizado por ela. A dupla se casou em 1961. Dirigida por Godard, Anna Karina estrelou ainda ‘Uma mulher é uma mulher’ (1961), ‘Viver a vida’ (1963) e ‘O Demônio das Onze Horas’ (1965). Apesar da intensa parceria, os dois não se encontravam fazia duas décadas.