"A gravidez era indesejada", diz mãe que matou bebê de 46 dias
Bebê tinha 46 dias e morreu asfixiada com uma fralda. A mulher foi liberada após passar por audiência de custódia. A Justiça entendeu que, pelo fato de ela estar em estado puerperal, caberia a liberdade provisória
Uma mãe foi presa por matar a própria filha na manhã da última terça-feira (3) em Brasília (DF). A bebê tinha apenas 46 dias de nascida.
Em depoimento, a mulher, que não teve a identidade divulgada, disse que a gravidez era indesejada e confessou ter sufocado a criança com uma fralda.
A mãe foi indiciada por homicídio duplamente qualificado — meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima — e liberada em seguida após passar por audiência de custódia.
Ao chegarem na casa da família na manhã de terça, os policiais se depararam com o corpo da bebê no colchão. Inicialmente, na delegacia, a mãe alegou que amamentou a filha e, em seguida, a colocou para dormir. Disse ainda que, ao acordar, notou que a criança não respirava.
No entanto, de acordo com o delegado Raphael Seixas, à noite, uma testemunha compareceu à delegacia informando que a mãe teria confessado a ela que matou a menina.
“Desde o começo das investigações, desconfiamos de um suposto homicídio, até por conta da frieza da suspeita durante o depoimento. A perícia esteve no local, e o cadáver foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML) para constatar as causas da morte”, afirmou.
Após o depoimento da testemunha, agentes voltaram ao endereço da mulher para efetuar a prisão, mas ela não estava em casa. Na manhã de quarta-feira, os policiais voltaram ao local e a prenderam em flagrante.
Ao ser interrogada, a autora confessou o assassinato e disse que a gravidez era indesejada. A mulher foi encaminhada ao IML, onde a equipe médica constatou estado puerperal.
A Justiça entendeu que, pelo fato de ela estar em estado puerperal, caberia a liberdade provisória, mediante uso de tornozeleira eletrônica. A mulher é casada e tem outros dois filhos. A juíza determinou que, por segurança, ela permaneça longe das crianças.
De acordo com o delegado Raphael, não se sabe se, no momento do crime, os demais familiares estavam na residência. “Temos 10 dias para concluir o inquérito. Agora, ouviremos o depoimento do pai, além de outras testemunhas, para reunir novos elementos”, conta o delegado.
Estado puerperal
Obstetra do Centro de Medicina Fetal em Brasília (Cemefe), Cybelle Bertoldo explica que o estado puerperal se divide em três fases.
“O blues (tristeza) puerperal é aquela tristeza que desaparece aos poucos, mas a mãe não chega a rejeitar o bebê. Essa atinge cerca de 80% das mulheres. A depressão pós-parto é uma melancolia impactante, em que a mãe tem dificuldade de vínculo com a criança e apresenta irritabilidade. Por último, há a psicose puerperal, que é um transtorno mais grave, em que há casos de agressão contra o bebê”, detalhou.
Segundo a especialista, a psicose puerperal é a mais rara e acomete menos que 0,2% das mulheres. “Esses sintomas podem aparecer 15 dias após o nascimento do bebê. O exame para identificá-los consiste em uma avaliação psicológica, na qual os profissionais colocam em consideração os fatores de risco da gravidez, se a paciente foi agredida durante a gestação ou se é algo indesejado”, ressaltou.