Idoso negro é agredido em hospital do RS e sua esposa infarta
Acusado de furto, idoso negro é agredido em hospital do Rio Grande do Sul e sua esposa infarta e morre ao tentar defendê-lo. Equipe chegou a pedir desculpas pelo "equívoco", mas já era tarde demais
Na madrugada o último sábado (18), Everaldo da Silva Fonseca, de 62 anos, foi agredido fisicamente e verbalmente por funcionários do Hospital Dom João Becker, em Gravataí, no Rio Grande do Sul.
Os funcionários do hospital acusaram o idoso de furto de celular de uma das técnicas de enfermagem. Durante a madrugada, Everaldo relatou que foi muito humilhado e deram um soco em suas costas.
A esposa do idoso, Maria Gonçalves Lopes, 55, assistindo a cena, ficou agitada, implorou para os funcionários não agredirem seu marido, teve uma parada cardíaca e morreu.
O filho do casal, Jonatas Lopes Fonseca, relatou que os funcionários tentaram, inclusive, encontrar o celular com Maria Gonçalves, retirando as fraldas que a mulher usava.
“Ela tentou gritar para pedir ajuda, foi humilhada também, reviraram a cama, tiraram as fraldas dela para ver se encontravam o celular”.
O idoso foi forçado para fora do hospital e ficou na rua, chorando, longe de sua esposa que estava tendo um ataque cardíaco. Depois de toda a humilhação e agressões, o celular foi encontrado em outra sala dos próprios funcionários do Hospital Dom João Becker.
Em seguida, os funcionários tentaram se desculpar com o idoso. “Depois de tudo isso, eles quiseram me agradar, trouxeram maçã, pão e suco, como se isso fosse amenizar a humilhação que passei e a vida da minha esposa. Estou destruído por dentro”, desabafou Everaldo.
A família compareceu ao hospital e foi registrado um Boletim de Ocorrência. Eles alegam que Everaldo foi vítima de racismo. Único negro naquele momento no hospital, apenas ele foi acusado pelo suposto furto.
Everaldo da Silva Fonseca estava no hospital acompanhando a esposa, internada por problemas no fígado. Ele e Maria Gonçalves Lopes eram casados há 32 anos.
Hospital abre sindicância
No domingo (19), o Hospital Dom João Becker informou que abriu uma sindicância para apurar o caso. Os funcionários envolvidos foram afastados das funções.
O corpo de Maria Gonçalves Lopes foi sepultado neste domingo, no Cemitério Municipal de Gravataí. “Não vão trazer minha mãe de volta, mas minha mãe foi embora vendo uma cena, o meu pai sendo batido, o meu pai apanhando”, desabafou a a filha, Joice Lopes Fonseca.
Em nota, o hospital tentou minimizar o incidente e disse que Maria não morreu por causa das agressões sofridas pelo marido. Segundo o hospital, ela faleceu por “desnutrição grave”. A família contesta.
“Ela estava desnutrida, sim, mas ela estava lúcida. Ela morreu vendo meu pai ser agredido”, diz a filha.
Segundo o delegado Regional de Gravataí, Juliano Ferreira, imagens de câmeras de segurança do hospital foram solicitadas na segunda-feira (20).
“Pelo o que a vitima nos relatou, se for confirmado, é agressão, injúria racial, constrangimento, e até tortura se for comprovado uma situação prolongada”, esclarece o delegado.