Bolsonaro grita com jornalistas para esconder culpa por mortos
Nuvem de fumaça: Jair Bolsonaro nos ensinou que, quando ele surta em público, atacando alguém ou alguma coisa com um discurso ensaiado, temos que olhar também para o outro lado. Ou seja, algo que ele quer esconder com as repercussões do seu surto
Leonardo Sakamoto, em seu blog
Jair Bolsonaro nos ensinou que, quando ele surta em público, atacando alguém ou alguma coisa com um discurso ensaiado, temos que olhar também para o outro lado. Ou seja, algo que ele quer esconder com as repercussões do seu surto. É uma técnica rudimentar de nuvem de fumaça, mas se encaixa bem em suas aptidões.
Na manhã desta terça (5), o presidente da República berrou com a reportagem da Folha de S.Paulo, mandando os jornalistas calarem a boca e atiçou sua claque, que também atacou a imprensa. Ele negou que tenha demandado a troca do superintende da Polícia Federal no Rio de Janeiro — antigo desejo seu.
A dificuldade de fazer essa substituição foi um dos motivos de insatisfação com o ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e com o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.
O atual superintendente, Carlos Henrique Oliveira, foi convidado para ser o diretor-executivo da instituição. Uma mudança espertinha, que garante um álibi para a interferência na PF a fim de colocar alguém mais alinhado à necessidade de ficar de olho nos interesses do presidente e de sua família no seu Estado-base.
Há um efeito colateral desejado nisso tudo. Enquanto ele grita com a imprensa, apoia manifestações que pedem um golpe militar, faz vistas grossas para funcionário do seu governo que agride enfermeiras, ameaça o Supremo Tribunal Federal, não precisa responder sobre os mais de 7,3 mil mortos oficiais por Covid-19. O número é subdimensionado, contudo – de acordo com pesquisadores, o real pode ser nove vezes maior.
Ele tem menosprezado o coronavírus e bombardeado sistematicamente as medidas de isolamento social que evitam sobrecarga no sistema de saúde e ajudam a reduzir a quantidade de óbitos. Ao mesmo tempo, esforça-se para terceirizar a responsabilidade pelos efeitos sanitários e econômicos da pandemia a governadores e prefeitos.
Ao mesmo tempo, sua demora em garantir ajuda a trabalhadores informais e formais atingidos e micro e pequenas empresas prejudicadas semeou caos social e econômico. Muitos não conseguiram acesso ao auxílio emergencial porque o sistema digital simplesmente não os reconhece.
Quanto mais as medidas de isolamento horizontal surtem efeito, reduzindo o impacto da pandemia, mais Bolsonaro diz que elas não servem para nada. Vende isso como a “prova” de que estava certo em chamar a pandemia de “gripezinha” e que a paralisação de atividades não essenciais era desnecessária. Quer se beneficiar daquilo que sistematicamente ataca.
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”, perguntou o presidente da República no último dia 28.
Ficar quieto e não atrapalhar ao invés de torturar a República, assassinar a democracia e criar cortinas de fumaça para esconder sua incompetência na tragédia humanitária que vivemos. Só isso.