As mortes e o Bolsonarismo
O governo(?) ganharia se conseguisse combater a pandemia. Mas perde pouco a menosprezando em prol duma abstração: a economia.
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Ainda que de humanas, vou me atrever a fazer uma análise numérica neste texto.
Agora, enquanto isolado em casa escrevo, temos pouco menos de sessenta mil mortes por coronavírus. Chegaremos em sessenta mil provavelmente no Jornal Nacional de amanhã.
Por enquanto, todas as previsões mesmo minimamente otimistas se mostraram otimistas demais. Só as pessimistas se concretizaram, ganhando o título de realistas. Algumas pessimistas até estavam na verdade otimistas.
Brinco com as palavras pra tentar amenizar a angústia do momento trágico.
Mas, aos meus números:
Vou também fazer uma suposição que espero bem pessimista. Imaginemos que teremos até a criação da vacina cem mil mortes.
Agora uma situação hipotética inverossímil: cada uma dessas vítimas, fez dez bolsonetes culparem diretamente o Presidente(?) por essas mortes. Seja por omissão, por estratégias erradas ou por dar diariamente péssimos exemplos, enfim, o motivo não importa. O exercício é imaginar que a cada morte, dez bolsonetes viram-se contra Bolsonaro por causa da morte por covid do familiar, do amigo, do colega…
Bem, seguindo esses meus (oxalá) pessimistas números, teremos um milhão de pessoas a mais contra o governo(?). E, claro, também estou fantasiando inverossimilmente uma situação em que todos os dez envoltos da vítima eram apoiadores do governo(?).
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Essas um milhão de pessoas representam meio porcento da população brasileira (arredondando, pra baixo, duzentos milhões de brasileiros). Só que Bolsonaro tem o apoio incondicional de trinta porcento da população. Mesmo considerando que esses um milhão de desafetos saíram desse grupo, ainda restariam, de novo arredondando generosamente, 29% de apoio a este governo(?).
É um assunto delicado e posso ser acusado de “torcer pro vírus” ou mesmo de perversamente torcer que mais mortes ocorram. Não! Espero sinceramente me fazer compreender. É justamente o contrário.
Acho que por mais mortes que venhamos a infelizmente ter, elas não vão afetar substancialmente o governo(?).
As mortes, mesmo que sejam às centenas de milhares, não são páreo para o bolsonarismo. Os trinta porcento de apoio são, como eu disse, incondicionais e, até poderíamos dizer, em alguns casos, irracionais.
O governo(?) ganharia se conseguisse combater a pandemia. Mas perde pouco a menosprezando em prol duma abstração: a economia. Guiada por outra abstração, o (deus) mercado.
Por isso, mais do que nunca: quem puder, fique em casa. E sejamos liberais ao extremo: nos cuidemos, pois o governo não o fará.
*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”
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