Casal bolsonarista que agrediu fiscal quebra silêncio e descarta pedido de desculpas
"Cidadão, não. Engenheiro civil, formado, melhor que você". Ao lado de quatro advogados, Casal que protagonizou a fase mais repercutida do mês afirma que "não há motivo para pedir desculpas" e reclama: "a nossa vida acabou!"
Leonardo Santos Neves de Barros, 43 anos, e Nivea Valle Del Maestro, 39, não se arrependem de ter ofendido o superintendente de Educação e Projetos da Vigilância Sanitária, o doutor em medicina veterinário Flávio Graça, no último sábado durante a fiscalização de um restaurante no Rio de Janeiro.
O vídeo com as ofensas foi divulgado no dia seguinte pelo Fantástico, da TV Globo. O engenheiro civil e a química afirmaram que apenas se arrependem de ter saído de casa naquele dia para ir ao restaurante que gostam e não têm por que pedir desculpas para Graça. As informações são dos portais Extra e G1.
“Arrependimento não é uma palavra que eu usaria. Eu diria que o meu tom de voz pode ter sido alterado, mas eu continuo achando que não é uma questão de estar certo ou não. Estávamos usando do nosso direito de questionar o trabalho daquele servidor. Eu posso questionar qualquer servidor público ou quem está nos atendendo. Ele estava trabalhando para gente e temos o direito de questioná-lo”, disse Nivea.
O casal quebrou o silêncio e deu sua versão para a agressão quatro dias após a reportagem ser divulgada. Ao lado de quatro advogados, em um escritório na Barra da Tijuca, Leonardo afirma que “em nenhum momento quis intimidar ou ameaçar o fiscal” e que contestaria qualquer decisão de um servidor público caso ele achasse que estava errada ou excessiva. O engenheiro também não vê motivo para pedir desculpas a fiscal. Já que “como pagador de seus impostos, tem direito a questionar”.
“Qualquer pessoa tem direito de questionar o serviço público. Ali não foi afronta ou qualquer tipo de intimidação. Questionei aquilo que achei que não era certo, pois tenho conhecimento no assunto. Talvez, o que houve foi uma descontextualização da situação. E outra, eu como pagador do imposto, eu pago salário de qualquer servidor público. As pessoas ficam com medo de dizer isso. Mas o termo servidor público é de servir ao público. Eu queria uma resposta. Não estou pedindo nada demais”, afirmou Leonardo.
No dia da confusão, segundo a Vigilância Sanitária, o estabelecimento estava lotado, muitos clientes estavam sem máscaras e alguns deles tentaram impedir a fiscalização da autarquia.
Durante a discussão, Leonardo falou para o fiscal da Vigilância Sanitária que “ele era o seu chefe” e Nivea completou dizendo que “eles pagavam o salário” do agente público. Para o casal, Flávio Graça não deveria ter usado o termo “cidadão”, que para o casal soou como pejorativo e ofensivo.
“Quando eu falo para ele “melhor do que você”, digo que o meu marido sabe o que fazer naquela situação e o fiscal, não. O meu marido falava com ele e toda vez ele saia andando. Só fiz aquilo tudo para defender o Leonardo. Em nenhum momento eu quis humilhar e ofender o agente”, disse Nivea.
No dia seguinte a reportagem, Nivea foi demitida da Taesa, local onde trabalhava como especialista de planejamento e controle desde janeiro deste ano. Na quarta-feira, a empresa onde Leonardo prestava serviço resolver desliga-lo. O casal afirma que foi condenado pelas empresas onde trabalhavam sem o amplo direito de defesa.
A dupla afirma que estavam jantando quando ficou sabendo por amigos da repercussão da reportagem. “Fomos condenados sem direito a defesa. Hoje, a nossa vida acabou. Graças aos amigos não fizemos uma loucura, porque o que estão fazendo com a gente é um linchamento virtual. Tem todos os nossos dados pessoais. Tivemos que excluir nossas redes sociais por conta disso. A nossa vida está acabada”, reclamou Nivea.
Questionado se pediria perdão ao fiscal da Vigilância Sanitária, Leonardo Neves diz que não fez nada de errado para “se desculpar” e que respeita o trabalho dos servidores do estado.
Sobre o auxílio emergencial de R$ 600 que recebeu do governo federal, Leonardo voltou a confirmar que pediu o benefício. Recebeu as três parcelas, mas, segundo ele, devolveu.
Nivea Del Maestro afirmou que nunca fez o registro no Conselho Regional de Química porque decidiu não seguir na carreira. Segundo ela, após se formar foi trabalhar na área de gestão e se especializou em gerenciamento de projetos de Tecnologia da Informação (TI).
Nas redes sociais, Leonardo se define como “pai, casado, engenheiro, atleta amador, mergulhador. Direita, anti-PT, anti-PSOL, anti-PC do B, anti extrema imprensa e conservador”.
Em um outro vídeo que circula na internet, Leonardo conversa com um jornalista enquanto Nívea grita: “Ô raça vagabunda do caralho”, dirigindo-se ao profissional de imprensa.
Em depoimento, o empresário Fabrício Aiala revelou o que passou recentemente com Nívea. “Uma pessoa que causava polêmica cotidianamente em minhas redes sociais, discutindo com meus amigos em meus posts. Uma Bolsonarista cujas manifestações em seus perfis sempre me indignavam, mas nunca fui capaz de contra argumentação. Eu apenas lamentava em silêncio. Faz alguns meses que a extirpei das minhas redes e ontem levei um baita SUSTO com a reportagem do FANTÁSTICO”.