Redação Pragmatismo
Barbárie 23/Jul/2020 às 15:21 COMENTÁRIOS
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Médico acusado de estuprar crianças é defensor da "família tradicional"

Publicado em 23 Jul, 2020 às 15h21

Médico fez campanha pelo impeachment de Dilma, falava frequentemente sobre 'Jesus Cristo' e protestava contra a adoção de crianças por casais homossexuais. Ele foi afastado pelo CRM após diversas denúncias de estupro

médico familia tradicional
Médico usava as redes para fazer campanha pela “família tradicional”

Joaquim de Carvalho, DCM

O médico pediatra Allessio Sandri, afastado pelo Conselho Regional do Paraná sob acusação de abusar sexualmente de crianças e adolescentes, é cidadão de bem, fez campanha na rede pelo impeachment de Dilma Rousseff e depois pediu votos para João Amoêdo, do Novo.

Na rede, ele ainda fala de Jesus e, no ano passado, postou uma mensagem a favor da família tradicional, numa mensagem típica dos bolsonaristas, em contraposição aos que defendem a adoção de crianças por casais homossexuais.

O lado obscuro desse médico que tem consultório em Umuarama, no Oeste do Paraná, começou a ser revelado no ano passado, quando a atriz Nina Marqueti, que foi sua paciente durante anos, o denunciou publicamente. Outras mulheres fizeram o mesmo.

A Polícia Civil abriu inquérito e uma investigação do Conselho Regional de Medicina teve como resultado o afastamento do profissional.

Um dos depoimentos colhidos pela polícia dá conta de Alessandro Sandri colocou o pênis para fora enquanto atendia uma criança, longe da mãe, que ficou fora do consultório a pedido dele.

Outro relato registra que ele beijou uma criança de 11 anos à força enquanto a atendia, também com a mãe fora do consultório a pedido dele.

Nesse caso, a criança não teve coragem de falar para a mãe e pediu que uma amiga fizesse o comunicado, por WhatsApp.

“Eu fui vítima de violência sexual aos 16 anos, dentro de um consultório médico”, diz a Nina Marqueti, no vídeo que abriu a campanha “Onde dói” e encorajou outras mulheres a também quebrarem o silêncio. Nina Marqueti conta que passou por uma consulta por problema estomacal e o médico a orientou a ficar nua e colocou o dedo em sua vagina.

“O meu estuprador era também o meu pediatra, que me tratava há alguns anos. Depois de muitos anos de silêncio, porque é muito difícil falar desse tipo de crime, eu decidi compartilhar essa minha experiência através da minha arte, através da minha peça solo ‘A Flor da Matriarca’. E foi compartilhando essa minha experiência que eu encontrei apoio e força para denunciar na justiça o médico que me violentou. Encontramos sete outras vítimas e foi através dessa movimentação que eu e o grupo de mulheres da resistência no exterior, junto com outros coletivos feministas decidimos criar a plataforma Onde Dói. A plataforma tem como objetivo mapear os casos de violência sexual perpetrados por profissionais da área da saúde, colher e orientar as vítimas desse tipo de crime. Se você foi vítima de um crime sexual enquanto paciente, saiba que você não está sozinha. Acesse agora ondedoi.org.br e preencha o nosso formulário. Juntas nós somos mais fortes. Nós sabemos onde dói”, diz Nina.

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