Pedagoga morta pelo marido na frente dos filhos "sonhava viver em paz"
"O que ela levava não era vida. Já pensou dormir ao lado de um homem que colocava um revólver embaixo do travesseiro?", desabafa a irmã. Pedagoga foi assassinada pelo marido na frente dos dois filhos. O homem não aceitava o fim do relacionamento
A pedagoga Leonice Teixeira, de 32 anos, foi assassinada a tiros pelo marido em Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina. O crime ocorreu na casa em que a vítima vivia com a família.
Ricardo Ralf, de 34 anos, tentou tirar a própria vida e está internado em estado grave. A PM registrou a ocorrência como feminicídio seguido de tentativa de suicídio.
De acordo com a investigação, o casal estava passando por um período de desavenças e a mulher teria resolvido sair de casa, e que essa teria sido a motivação do homicídio. Leonice morreu dois dias antes de completar 33 anos de vida e oito de casamento.
“Agora ela descansou”, diz Leila Teixeira, irmã da vítima. “O que ela levava não era vida. Já pensou dormir ao lado de um homem que colocava um revólver embaixo do travesseiro? Isso não é a paz que ela tanto queria.”
“Me marcou uma fala da madrinha de casamento enquanto carregava o caixão no sepultamento. Ela dizia que ‘há oito anos estávamos levando para o altar. Hoje, estamos levando para o túmulo’. É algo muito doloroso”, diz a irmã de Leonice. “Ela foi vítima de feminicídio e não vou me calar até ele pagar.”
A família conta que a união começou a desandar há pouco menos de dois anos, depois que Ricardo passou a ter ataques de ciúmes e ameaçá-la de morte.
As juras de morte eram intensificadas quando Ricardo consumia bebidas alcoólicas, segundo a família da vítima. Mesmo com as ameaças, Leonice teria buscado ajuda psicológica e religiosa para resgatar o casamento, mas sem sucesso.
No último domingo, decidiu pôr fim no relacionamento e sair de casa ao ser mais uma vez ameaçada de morte. O casal tinha dois filhos, uma menina de quatro anos e um menino de um ano.
“Ele saía, bebia e usava drogas. Quando retornava para casa, começava a discutir e brigava. Minha irmã tentava arrumar a situação, levou o marido ao psicólogo, à igreja, mas ele sempre recusava. Ela tentou de toda a maneira salvar o casamento pelos filhos. Mas, quando viu que não tinha mais jeito, decidiu sair”, conta Leila.
Ela lembra que Leonice sofreu agressão física duas vezes e era alvo constante de ameaças. Foi quando começou o trabalho como consultora de cosméticos, em busca de independência financeira, que o marido teria mudado drasticamente de comportamento.
“Depois que ela começou a trabalhar como consultora, se valorizou muito mais. Se arrumava, maquiava, fazia as unhas. Isso despertava olhares e ele vivia cheio de ciúmes, fuçando o celular dela para ver se achava algo. Não a deixava sair ou a seguia mesmo quando passeava apenas com meninas. Não era nem tanto agressão física, mas psicológica”, diz a irmã.
Os parentes relatam que as ameaças de morte também atingiam as crianças. A vítima teria contado aos familiares que ele pretendia matar a família inteira ou assassinar os filhos para Leonice “conviver com a dor” da perda caso optasse pelo divórcio.
“Ele dizia que, se fosse para se separar, iria acabar com a família, matando a Nice e as crianças. Outra vez, disse que mataria as crianças e se suicidaria, deixando ela viva para conviver com essa dor. A pressão na cabeça dela era demais.”
Leonice, no entanto, nunca registrou um boletim de ocorrência contra Ricardo. “Minha irmã tinha medo e não queria ver o pai dos filhos dela preso”, diz Leila.
O primeiro tiro que Ricardo deu em Leonice foi nas costas dela. Depois, se aproximou, encostou a arma no lado esquerdo da testa da esposa e atirou à queima-roupa.
Ricardo é de uma tradicional família de comerciantes em Camboriú. Até o início das ameaças contra Leonice, era visto como um “cidadão de bem”.