Bolsonaro rifa Paulo Guedes e abre espaço para a era Rogério Marinho
Nas discussões internas do governo, o dogmatismo cego de Paulo Guedes matava qualquer tentativa de mobilização econômica. Prova disso foi a reunião ministerial com Guedes humilhando os generais de Bolsonaro
Vamos tentar estimar o cenário econômico sob Jair Bolsonaro. O primeiro passo é o diagnóstico sobre o comportamento da indústria regional, de acordo com os dados de junho divulgados na Pesquisa Mensal da Indústria do IBGE, Os resultados são ilusoriamente otimistas.
Em relação ao mês anterior, celebrou-se o crescimento em 13 estados e queda em apenas 1 – Mato Grosso. Porém, se comparar o nível de junho com janeiro, haverá 13 estados em queda e apenas 1 em alta – Goiás. E se a comparação for com 12 meses atrás, também apenas Goiás mostrou aumento.
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Repare que as menores quedas, desde janeiro, ocorrem em estados com preponderância da indústria extrativa, como Goiás (+3,2%), Mato Grosso (-1%), Pernambuco (-1,3%), Pará (-2,7%) e Minas Gerais (-4,7%).
Nos indicadores nacionais, fica nítida a queda da indústria de transformação e a resistência da indústria extrativa, beneficiada pelo aumento das importações chinesas.
A indústria extrativa tem pouco impacto na economia como um todo, por dispor de uma rede de fornecedores extremamente restrita. Além disso, gera pouco emprego.
O segundo ponto são os efeitos da renda básica sobre a economia e sobre a popularidade de Bolsonaro. Embora a decisão de R$ 600,00 tenha sido da Câmara, Bolsonaro está colhendo os frutos. À renda básica está sendo atribuído o mérito de ter impedido uma queda maior na economia; e uma queda maior na popularidade de Bolsonaro.
Nas discussões internas do governo, o dogmatismo cego de Paulo Guedes matava qualquer tentativa de mobilização econômica. Prova disso foi a reunião ministerial do dia 22 de abril, com Guedes humilhando os generais de Bolsonaro pela tentativa de lançar o plano Pró Brasil.
Agora, a Câmara quebrou o dogmatismo cego de Guedes e reforçou enormemente os argumentos de Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, ao lado de Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, um sopro de racionalidade no jardim zoológico do Ministério de Bolsonaro.
Ontem, o Ministro da Privatização, Salim Mattar, e Paulo Uebel, responsável pelos estudos de reforma administrativa, pediram demissão, sinalizando a debandada da equipe de Paulo Guedes.
Antes deles, já havia saído Mansueto de Almeida, que seguiu para o Banco Pactual para administrar a carteira de créditos que o Banco do Brasil transferiu para lá, com inacreditáveis 90% de deságio.
Completa-se, assim, o aggiornamento de Bolsonaro, ao custo de 100 mil mortes pelo Covid-19.
Do desenho inicial, abriu mão do falso discurso moralista de Sérgio Moro, está se afastando cada vez mais dos olavistas, aproximou-se do Centrão, atraindo, agora, Michel Temer, abriu mão do discurso anti-ambientalista, está rifando Paulo Guedes e até se solidarizou com um motoboy negro agredido pela polícia.
Mas, por trás desse novo Bolsonaro, o verdadeiro Bolsonaro continua firme como uma rocha, ampliando a radicalização das polícias, através do WhatsApp, ampliando o armamento da população e esperando reunir condições para tentar o ataque final contra as instituições.