Redação Pragmatismo
Racismo não 21/Ago/2020 às 16:19 COMENTÁRIOS
Racismo não

Comentário racista de professor desencadeia série de denúncias

Publicado em 21 Ago, 2020 às 16h19

Alunas dizem que não se surpreendem com comentário flagrado nas redes, pois conduta racista do professor em sala de aula já havia sido denunciada e extremismo se agravou no período eleitoral. Em outra publicação, o professor debochou da menina de 10 anos estuprada e insinuou que ela poderia ter se defendido

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O professor Murilo Vargas, que dá aula de espanhol na escola CEM 804, no Distrito Federal, republicou a foto de uma modelo negra de cabelo crespo e a chamou de “cosplay de microfone”.

Na publicação, realizada nesta quinta-feira (20), o professor debocha de uma postagem que constava a seguinte frase: “Não consigo ouvir o seu racismo por causa do volume do meu cabelo”.

Internautas reagiram com críticas. A comunidade escolar onde ele trabalha iniciou uma campanha pela demissão do professor. A Secretaria de Educação afirma que vai “apurar o assunto”.

“A Secretaria de Educação reafirma a sua missão educacional de assegurar o respeito à diversidade e à pluralidade na rede pública de ensino e, com isto, contribuir para que se propague em toda a sociedade.”

Uma estudante de 17 anos disse que já presenciou o professor chamar uma aluna negra de “macaca” em sala de aula. Questionada se a turma procurava a diretoria, ela afirmou que sim. “A gente contava, mas era a palavra dele contra a nossa”.

Segundo a aluna, a postagem do professor nas redes sociais foi uma oportunidade de tornar o caso público. “É a primeira vez que a gente consegue registrar ele fazendo isso”, afirmou.

Uma outra aluna, menor de idade, disse que o comportamento de Murilo se agravou no período eleitoral. “Ele deixava claro o posicionamento dele de extrema direita e criticava alunos que eram de esquerda. Ele chegou a comentar que ‘esquerdista não morre nem com tiro na cabeça pois não tem cérebro para poder matar’”, conta. Ela reforça que a diretoria sabia da situação, mas nunca tomou providências.

Em outra publicação, o professor insinuou que a menina de dez anos estuprada pelo tio não deveria ter feito o aborto e que ela poderia ter se protegido da violência sexual sofrida. Em uma das publicações ele diz “Entre a criança e o bebê, fico com quem era completamente incapaz de se defender”.

Investigação

Na manhã desta sexta-feira (21/8), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), informou que vai apurar o caso.

A Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil da Seccional do Distrito Federal (OAB-DF) também publicou nota de repúdio em relação ao comentário com conteúdo racista feito por um professor da rede pública de ensino.

De acordo com a nota, o comentário do professor trouxe constrangimento para grande parcela das mulheres negras, “já que os padrões as obrigavam a mudar sua beleza natural para serem socialmente aceitas. Por isso, o ataque à mulher negra que assume seu cabelo e sua ancestralidade deve ser veementemente combatido”.

“Realça-se que com a ‘piada’ do professor, figura que aparenta autoridade, outros usuários passaram a fazer comentários de cunho racista, inclusive, com alusão ao holocausto e a grupos nazistas, o que demonstra que a dita piada desencadeou o ataque à comunidade negra”, observa a nota assinada pela presidência da comissão da OAB-DF.

“Racismo não é mal-entendido, é crime! Portanto, repudiamos os fatos ocorridos e lembramos que muito embora seja garantida a liberdade de expressão, esta não deve jamais ultrapassar os limites da dignidade da pessoa, ou mesmo do coletivo, como foi o caso. Especialmente, tratando-se de pessoa que exerce tão relevante e essencial profissão, a docência”, continua.

Por fim, a Comissão de Igualdade Racial afirma que vai requisitar às autoridades responsáveis a apuração da postura do servidor público em sala de aula e nas redes sociais.

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