Usando um saco plástico, polícia mata homem negro nos EUA
Vídeo mostra policiais colocando capuz na cabeça de homem negro que implorou pela vida nos EUA. As imagens são perturbadoras
Um vídeo divulgado nesta quarta-feira (2) mostra o momento em que policiais colocam um capuz na cabeça de um homem negro, identificado como Daniel Prude, perto de Nova York, nos EUA. Prude morreu em 30 de março por asfixia.
A divulgação das imagens ocorre em meio ao debate sobre a violência policial e o racismo nos Estados Unidos. O país vive uma onda de protestos desde a morte de George Floyd, em maio. Os atos ganharam novo impulso recentemente após policiais balearem sete vezes Jacob Blake pelas costas.
No caso de Prude, a polícia foi acionada pela própria família da vítima, que buscava ajuda por causa de supostos problemas mentais do homem.
As imagens divulgadas pela família do homem mostram Prude nu, cooperando com os policiais e atendendo às ordens de ficar no chão. Ele estava com as mãos atrás das costas, algemado. Nevava em Nova York, e ele pediu para que os agentes o deixassem ir.
Ainda preso no chão, Prude começou a se contorcer e a gritar para que os policiais o liberassem. Em um momento, quando já estava algemado, ele grita: “Me dá sua arma, vou precisar”.
É aí que os agentes de segurança colocam sobre a cabeça do homem um capuz para evitar que a saliva do preso escape e alcance os policiais. A medida se tornou padrão com a pandemia do novo coronavírus, e, na época, em março, Nova York vivia o início da fase mais grave do surto.
Prude, então, começou a se debater e a implorar para que os policiais o liberassem. Um deles segurou a cabeça do homem sobre o asfalto, apertando o capuz, enquanto outro se ajoelhou sobre as costas da vítima. Essa ação durou cerca de dois minutos. Policiais chegaram a rir enquanto ele se debatia no chão.
Sem ar, Prude parou de gritar. Somente quando começou a sair água da boca do detido é que os policiais demonstraram preocupação. No fim do vídeo, uma ambulância é vista, e médicos fazem procedimentos de reanimação para tentar salvar o homem.
Um médico concluiu que a morte de Prude foi um homicídio causado por complicações de asfixia por ação física. O relatório aponta como fatores complicadores a situação de delírio em que Prude estava e a intoxicação por fenciclidina, droga analgésica que causa alucinações.
Irmão chamou a polícia
De acordo com a agência Associated Press, Daniel Prude morava em Chicago e havia acabado de chegar em Rochester, na região de Nova York, para visitar a família. O irmão Joe Prude ligou para os serviços de emergência para avisar que Daniel tinha saído de casa com aparentes problemas de saúde mental.
“Eu telefonei para pedir ajuda para o meu irmão. Não para ele ser linchado”, disse Joe em entrevista.
A investigação está a cargo da procuradora-geral de Nova York, Letitia James — pela lei local, mortes de pessoas desarmadas em ações policiais vão para inquérito estadual.
Um policial argumentou que colocou o capuz porque Prude cuspia na direção deles e que eles estavam preocupados com uma eventual contaminação pelo novo coronavírus.
Joe Prude, o irmão que avisou as equipes de emergência, criticou a ação policial em entrevista nesta quarta. “Como vocês o veem e não dizem: ‘O homem está sem defesas, preso e nu no chão. Ele já está algemado’? Por favor!”, questionou. “Quantos mais vão morrer até a sociedade entender que isso precisa parar?”
Associated Press (AP)