Redação Pragmatismo
Notícias 16/Set/2020 às 16:43 COMENTÁRIOS
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A cidade que não permite outdoors críticos a Bolsonaro

Publicado em 16 Set, 2020 às 16h43

Terra sem lei: outdoors elogiosos a Jair Bolsonaro são exibidos em cidade do MS, mas o surgimento de uma única peça crítica ao presidente foi o suficiente para desencadear ódio, ameaças e censura

outdoor bolsonaro são gabriel

Em São Gabriel do Oeste, cidade do interior do Mato Grosso do Sul, a lei que impera ainda é a do coronelismo. Nesta semana, um outdoor crítico ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi censurado menos de três horas após ser instalado em um terreno privado.

Um homem chegou a ser filmado com uma motosserra em mãos para destruir o cartaz, mas a peça foi coberta com uma lona preta antes que ele utilizasse a máquina.

Segundo testemunhas que conversaram com o Pragmatismo Político, os responsáveis pelas ações intimidatórias são fazendeiros da região. Com cerca de 27 mil habitantes, São Gabriel do Oeste é o maior produtor de suínos e avestruzes do Estado de Mato Grosso do Sul. Também é o maior produtor de soja do estado.

O outdoor que provocou ódio e ameaças questiona o presidente sobre a movimentação financeira entre as contas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro e o ex-assessor e amigo da família, Fabrício Queiroz. “São Gabriel quer saber por que foi depositado 89 mil na conta da sua mulher”, indaga o cartaz.

O outdoor foi idealizado pelo advogado Ailto Roberson Seibert. “Já fizemos ações parecidas em outras cidades de Mato Grosso do Sul. Mas é a primeira vez que isso acontece. Apareceram lá com uma motosserra, outros falaram que iam colocar fogo, pressionaram o dono do ponto. Foi censura explícita! Aqui é por meio da força mesmo, acham que é terra de jagunço. Ainda existe liberdade de expressão nessa cidade, nesse país? Ainda somos de fato um Estado Democrático de Direito?”, questionou o advogado.

Segundo o advogado, o dono do terreno é figura conhecida entre os fazendeiros e chegou a ser ameaçado em um grupo de WhatsApp. “Fizemos uma vaquinha e arrecadamos R$ 1 mil para a confecção do outdoor, mas autorizamos que o cartaz fosse coberto porque o dono da área pediu”.

Passo Longo, dono do ponto, se explica em um áudio enviado aos bolsonaristas. “Bom dia pessoal, aqui é o Passo Longo. Quem mandou fazer esse outdoor foi um advogado aí. Ele pegou, chegou, aluguei para ele, pagou adiantado até, e ele falou que ia vir de fora, não me falou o que era. Aí hoje de manhã, quando colaram me falaram que era do Bolsonaro, daí os peões chegaram aqui falando. Daí é complicado né?”.

Um morador confirmou que o local é “terra de coronéis e de ditadores” e que “ladrões nos roubam a liberdade de expressão”. “Aqui não tem lei, manda quem tem dinheiro”, acrescentou uma moradora.

Outros moradores garantem que cartazes de apoio a Jair Bolsonaro são comumente vistos na região e jamais foram vandalizados. Ailto Seibert diz que acionará o Ministério Público de Mato Grosso do Sul após o incidente.

“A liberdade de expressão é pilar fundamental e viabilizador da dinâmica democrática. Tal grau de relevância, no entanto, não permite que seu uso se dê de tal forma que prejudique o âmbito da liberdade alheia. Iriei hoje conversar com o Ministério Público sobre esses fatos e todos os ataques que a mim forem direcionados, ainda que em grupos fechados, serão alvo de pedido de indenização por danos morais”.

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