Delmar Bertuol
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Colunistas 24/Out/2020 às 16:23 COMENTÁRIOS
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AH!... AS MULHERES

Delmar Bertuol Delmar Bertuol
Publicado em 24 Out, 2020 às 16h23

Delmar Bertuol*, Pragmatismo
Político

A atividade era recortar imagens que representavam a natureza, o meio ambiente. Isso pra fomentar nos pequenos a ideia da importância da preservação.
Recortamos, minha filha e eu, imagens de animais, de plantas, de frutas,… mas ainda tinha espaço pra colar mais fotos figuras no círculo há pouco pintado por ela e que simbolizava nosso planeta.
Aí, folheando a revista de sei-lá-quantas-edições-atrás, vi a foto duma mulher bonita. Obviamente deveria ser propaganda de produto de beleza, num anúncio enganoso e incentivador da lipofobia. Decerto que era para cabelos opacos e quebradiços. Comentei com ela: “uma moça bonita, filha. Representa bem a natureza!”. Claro que na inocência de seus quatro anos, ela sequer desconfiou da malícia do meu comentário. Lhe foge à compreensão tais assuntos. Viramos a página.
Brincadeiras à parte, fato é que considero as mulheres como uma bela representação do natural, da complexidade do meio ambiente. Eu adoro mulheres. Homem heterossexual, sinto atração sexual por muitas delas. Mas não só por isso. Eu as adoro com outros sentimentos também. Eu adoro as mulheres geralmente e algumas, específicas, mais.
Admiro minha mãe por todas as dificuldades que passou e passa na vida; adoro minha filha pela mudança que me fez passar, me forçando a amadurecer. Mas também pelos pequenos momentos, como o tema da escola que juntos fazíamos e que inspirou este texto; eu amo a mãe dela mesmo não estando mais com ela. Um amor despretensioso e bom de se sentir, pois entendo que somos parceiros nessa missão também complexa de criá-la, educá-la; eu admiro minhas colegas de profissão (são a maioria) que, no dia a dia da rotina escolar, demonstram empiricamente que de “sexo frágil” elas nada têm. Aliás, como professor, só tive um chefe homem. E que ele não leia este texto, mas não foi o melhor diretor; eu adoro a minha irmã, mesmo ela me dando dicas de conquista que nunca deram certo; eu tenho amigas mulheres, e, se são minhas amigas, obviamente lhes tenho apreço.
Enfim, eu admiro e gosto de muitas mulheres. Assim como admiro e gosto de muitos homens também, é claro. Mas as mulheres que admiro, todas e sem exceção, tiveram e têm que enfrentar dificuldades e adversidades além das dificuldades e adversidades que os homens também passam. Muitas vezes, elas precisam mostrar que são capazes, “apesar de serem mulheres”.

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Elas precisam provar que são capazes de controlar uma turma de adolescentes numa sala de aula com pulso firme. Ou mesmo de dirigir uma escola com mil adolescentes e mais algumas dezenas de subordinados reclamando da chefia, pois isso é intrínseco: toda chefia é antipática. Logo, todos os subordinados reclamam. Eu não sou diferente, inclusive. Também tô no grupo do whats feito pra reclamar do chefe. Mas eu admiro o profissionalismo das minhas chefes. Sim, tenho mais de uma. Mulheres. Felizmente, não sou machista e aceito isso. Minhas reclamações no grupo não são tocantes a questões de gênero.
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Eu admiro as mães pelas suas jornadas duplas. Com minha mãe era assim. Com a mãe da minha filha é assim. Com amigas mãe percebo isso também.
Eu admiro as feministas que tem que lutar contra rótulos, estereótipos e até mesmo contra pensamento de mulheres que são contra o movimento feminista. Não posso crer que por má-fé. Acho que é desinformação mesmo. E sobre as feministas, cabe um parênteses: (um dos rótulos que elas têm é que são “feias”. A beleza é muito relativa e subjetiva, eu sei. Mas, de minha parte, estudante de Letras e de História que fui, conheci muitas feministas. Todas elas gatas. Minha irmã até me deu dicas de como conquistar uma. Não deu certo.)
Eu infelizmente vislumbro que minha filha passará por alguns percalços simplesmente porque ela é menina. Estamos, a mãe dela e eu, tentando lhe criar para que não se abale com isso e compreenda o seu papel. Com rímel nos olhos, que ela é vaidosa, e coragem no peito, que ela é atrevida.
Realmente não consigo compreender o índice alarmante de agressões contra as mulheres e feminicídios. Só posso crer que são homens, além de covardes, invejosos. Têm inveja da capacidade da mulher ou mesmo da resiliência que ela teve de terminar a relação, retocar o batom e seguir sua vida, sem ficar dando fiasco em locais públicos, por exemplo.
De minha parte, ao contrário. Eu gosto de mulheres justamente porque elas são mulheres. São guerreiras, são vaidosas, são gatas pra carai e, definitivamente, não são sexo frágil.

*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e
estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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