Marília Arraes é vítima de uma das campanhas mais sórdidas da história
Desesperados com a possibilidade de perder a eleição no Recife, campanha de João Campos apela ao que há de mais sórdido em ataques contra Marília Arraes, com direito a chuva de panfletos apócrifos e temas bíblicos. Filho de Eduardo Campos conta com as estruturas de duas grandes máquinas públicas
A disputa do segundo turno pela prefeitura do Recife (PE) tem sido uma das mais sujas do Brasil. Isto porque o candidato João Campos (PSB) está enfrentando um cenário muito mais adverso do que se previa há três meses.
O filho de Eduardo Campos teve 29,17% dos votos válidos no primeiro turno, enquanto a adversária política e prima Marília Arraes (PT) terminou a disputa com 27,95%. A diferença foi bem menor do que indicavam as pesquisas.
No segundo turno o cenário se inverteu. Tanto Ibope como Datafolha já colocam Marília Arraes em vantagem: 55% a 45%.
Desde a manhã da última quinta-feira (19), Recife tem amanhecido com cartazes apócrifos colados em vários muros da cidade e panfletos distribuídos e jogados nas ruas (vídeo abaixo).
Em um deles, aparece a imagem de Marília Arraes e a mensagem “PT nunca mais”. Em outro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com uma imagem em referência à falta de um dos dedos na mão do petista e a palavra “basta”.
Na época em que era apontado como favorito nas pesquisas eleitorais, João Campos prometia “oferecer uma proposta a cada agressão sofrida”. O tom mudou radicalmente após o novo desenho da disputa.
Bater no PT
A estratégia de bater com força no PT é considerada pelo PSB a cartada mais importante para vencer a eleição. “Você lembra quem faz parte do PT nacional? José Dirceu, Gleisi Hoffman, Mercadante. Pense antes de votar. Eles querem voltar”, diz a propaganda de Campos, que mostra um avião decolando em direção à capital pernambucana.
Nas palavras de João Campos, o PT não pode falar em corrupção porque sequer é possível contar nos dedos a quantidade de pessoas do partido que foram presas.
Embora conte com as estruturas de duas grandes máquinas públicas — governo de Pernambuco e prefeitura do Recife –, João Campos escondeu o governador Geraldo Julio e o prefeito Paulo Câmara na propaganda eleitoral do primeiro turno. As gestões de ambos são mal avaliadas pela população.
Geraldo sofreu intenso desgaste após recorrentes operações da Polícia Federal na Prefeitura do Recife. As investigações apontam indícios de desvios de recursos públicos destinados ao combate da pandemia.
Bíblia
Em um golpe ainda mais baixo, João Campos acusou Marília em sua propaganda de TV de “ser contra a Bíblia”. A justiça proibiu Campos de questionar a religiosidade de Marília, católica, e que ontem ganhou o apoio de 13 igrejas evangélicas.
A seis dias do segundo turno, as últimas cartadas da campanha de Campos são as mais sórdidas possíveis. A pesada pancadaria é considerada arriscada até mesmo por fontes do próprio PSB, que acreditam que a estratégia pode se mostrar um erro.
(continua após o vídeo)
João Campos
Filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, João entrou na política em 2018.
Naquele ano, fez toda sua campanha se autointitulando “o filho da esperança”. Obteve expressivos 460.387 votos. Em 1986, quando Arraes venceu a disputa pelo governo de Pernambuco após voltar do exílio, um dos slogans era “a esperança está de volta”.
Ao se lançar na vida pública, aos 24 anos, contou com o apoio intenso do governador Paulo Câmara e do prefeito Geraldo Julio.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2014, ao lado da mãe, Renata Campos, resolveu apoiar o candidato Aécio Neves (PSDB).