“Nada vai nos parar”, disse apoiadora de Trump um dia antes de morrer
Em suas últimas horas de vida, manifestante morta em invasão ao Capitólio dedicou-se a realizar uma das atividades favoritas de seu líder: tuitar. Veterana das Forças Armadas, ela divulgou mensagens que demonstravam a sua crença de que Trump se manteria no poder
“Nada vai nos parar! Eles podem tentar e tentar e tentar, mas a tempestade está aqui e está caindo sobre Washington DC em menos de 24 horas. Da escuridão à luz.”
A frase acima foi postada nas redes sociais por Ashli Babbitt, de 35 anos, horas antes da invasão ao Capitólio. Em suas últimas horas de vida, a mulher dedicou-se a realizar uma das atividades favoritas de seu líder: tuitar.
A apoiadora de Trump é uma das quatro pessoas que morreram na ação violenta que chocou o mundo nesta quarta-feira (6).
Ashli Babbitt era uma veterana da Força Aérea e morava em San Diego, na Califórnia. A identidade foi confirmada pelo marido dela, Aaron McEntee, à KUSI-TV, uma emissora local. Segundo ele, a esposa era fanática pelo atual presidente dos EUA.
McEntee não foi com a esposa para Washington porque tinha que cuidar da empresa de ‘manutenção de piscinas’ do casal. Mas, em declarações a outros veículos, chegou a admitir que não sabia que sua mulher tinha viajado à capital.
O marido disse ao ‘The Washington Post’ que Babbitt serviu no Afeganistão, Iraque e Kuwait durante os 14 anos de sua passagem pelas Forças Armadas, onde se conheceram. Separaram-se em 2019, mas se reconciliaram e voltaram a casar recentemente. “Era muito barulhenta e firme nas suas opiniões”, disse o homem.
A sogra da manifestante não se mostrou tão entusiasmada. “Sinceramente, não sei por que ela decidiu ir. Estou estarrecida. Estou devastada. Ninguém de DC (Washington) notificou meu filho e descobrimos na TV”, disse a sogra de Ashli, Robin Babbitt, ao jornal The New York Post.
Fontes do New York Post informaram que Babbitt foi baleada pela Polícia do Capitólio. O chefe do departamento de polícia confirmou também que houve outras três mortes, sendo dois homens e uma mulher. As ocorrências foram registradas nos arredores do Capitólio.
Na última gravação de Babbitt com vida, ela olha para cima, para o vazio, e parece que sua respiração se interrompe. Tem o pescoço cheio de sangue. De um lado, um grupo de policiais armados. Do outro, os seguidores de Trump apontam seus celulares para ela.
Quem organizou a invasão?
As raízes de um dos momentos mais sombrios da democracia americana remontam a pelo menos 4 de novembro, um dia após a eleição presidencial que Trump perderia para Biden. Naquele dia, o primeiro grupo Stop the Steal (“Parem o roubo”, em tradução livre) foi formado no Facebook — e rapidamente decolou, chegando a ter uma média de 100 novos membros a cada 10 segundos. O grupo chegou a 320 mil seguidores antes de o Facebook fechá-lo.
À medida que centenas de novos grupos Stop the Steal continuavam a surgir, o Facebook tornou-se mais agressivo ao fechá-los, levando apoiadores de extrema direita de Trump — incluindo alguns envolvidos em milícias e grupos de conspiração — a migrar para redes sociais menos restritivas, incluindo Parler e Gab. E foi nesses ambientes que um movimento para organizar um protesto pró-Trump em Washington ganhou tração.
Vários ativistas de extrema direita, incluindo Ali Alexander, um operador republicano antes conhecido como Ali Akbar, começaram a emergir como líderes do Stop the Steal. Suas teorias conspiratórias e sem base sobre fraude eleitoral replicavam as de Trump.
Em meados de dezembro, dezenas de ações judiciais movidas por apoiadores de Trump contestando os resultados haviam fracassado. Então, em 14 de dezembro, Biden garantiu votos suficientes no Colégio Eleitoral para confirmar sua vitória. A última formalidade antes de sua posse em 20 de janeiro seria a contagem oficial dos votos eleitorais pelo Congresso, a ser supervisionada pelo vice-presidente Mike Pence em 6 de janeiro.
Alexander e outros instaram os apoiadores de Trump de todos os lugares a irem ao Capitólio enquanto o Congresso estaria formalizando a vitória de Biden.
O momento tem sido tradicionalmente visto como mais uma garantia da transferência do poder na República. Mas Trump e seus apoiadores estavam publicamente classificando a formalidade deste ano como criminosa, fraudulenta — até mesmo traidora. E o presidente continuava tuitando:
Em 27 de dezembro: “Nos vemos em Washington em 6 de janeiro. Não perca. Informações a seguir”.
Em 30 de dezembro: “SEIS DE JANEIRO, VEMOS VOCÊ EM DC [Washington, D.C.]!”
Em 1º de janeiro: “O grande protesto” em Washington, D.C. acontecerá às 11h em 6 de janeiro. Detalhes da localização a seguir. StopTheSteal!”
No dia seguinte, 2 de janeiro, o senador Ted Cruz, do Texas, e 11 outros senadores republicanos juntaram-se a outro republicano, Josh Hawley, do Missouri — além de outros 100 membros republicanos da Câmara dos Deputados — prometendo contestar a certificação da vitória de Biden.
Naquele momento, os apoiadores extremistas de Trump — incluindo os Proud Boys e outros grupos conhecidos por incitar a violência, bem como grupos conspiracionistas como o QAnon — estavam trabalhando no que poderiam fazer em 6 de janeiro em Washington. A página da Red-State Secession no Facebook até encorajou seus 8 mil seguidores a compartilhar os endereços de “inimigos” — juízes federais, membros do Congresso e progressistas conhecidos.
com informações da mídia internacional