O que é a 'doença da urina preta' que levou irmãs para a UTI no Recife
Após comer peixe, irmãs de 31 e 36 anos são internadas em hospital do Recife com ‘doença da urina preta’. Sintomas começaram 4 horas após o almoço
Após comerem peixe arabaiana, espécie conhecida também como olho de boi, as irmãs Flávia e Pryscila Andrade, de 36 e 31 anos, moradoras do Recife, em Pernambuco, foram diagnosticadas com a Doença de Haff, conhecida popularmente como a “doença da urina preta“.
De acordo com informações da Folha de Pernambuco, os sintomas começaram cerca de quatro horas após um almoço. Ambas sentiram fortes dores do corpo e rigidez muscular e estão internadas no Hospital Português.
“Após 4 horas de terem ingerido o peixe, começaram a passar mal, a pressão subiu, o corpo foi ficando duro como uma câimbra generalizada e não entendiam o que estava acontecendo“, explicou Betânia Andrade, a mãe delas, ao site da Folha.
O alimento foi comprado no bairro do Pina, na Zona Sul da capital.
“Flávia fez um almoço na última quinta-feira (18) e convidou eu e Pryscila. Além de nós, tinha o filho de Flávia, de 4 anos, e duas secretárias. Os cinco comeram o peixe, menos eu. Quatro horas depois, Pryscila enrijeceu toda, teve cãibra dos pés até a cabeça e não conseguia andar. Meu neto, de madrugada, teve dores abdominais e diarreia, e as duas secretárias sentiram dores nas costas“, disse Betânia.
A origem exata da síndrome, que causa ruptura de células musculares, ainda é desconhecida. No entanto, a literatura médica aponta que todos os pacientes diagnosticados, mesmo fora do Brasil, consumiram algum animal que vive na água, muitas vezes a doce
Acredita-se que o alimento ingerido tenha sido contaminado com algum tipo de toxina não identificada. A possibilidade de uma bactéria foi levantada por especialistas, mas considerada pouco provável, já que os peixes foram cozidos ou fritos — processos pelos quais o micróbio não sobreviveria.
Ainda de acordo com a mãe delas, o diagnóstico da doença de Haff foi informado pelo hospital no sábado (20).
“Flávia foi visitar Pryscila na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e escutou o médico conversando com outra pessoa sobre uma doença associada ao consumo de arabaiana. Ela interrompeu a conversa e contou que tinha comido, com a irmã, esse peixe. Foi quando ele diagnosticou a síndrome de Haff em Pryscila e encaminhou Flávia para fazer exames, sendo internada no quarto, pois ela não aceitou ir para a UTI“, disse.
Após a ingestão da possível toxina, ocorre uma lesão muscular difusa que causa a liberação de proteínas dos músculos na circulação do sangue (chamada de rabdomiólise), causando dor intensa.
A mãe também contou que, nesta terça-feira (23), Flávia continuava no quarto e Pryscila e permanecia na UTI.
“Flávia está no apartamento, pois baixaram as taxas dela, como de leucócitos. Já as taxas de Pryscila continuam altas, pois ela comeu uma porção maior do peixe e está com o fígado comprometido, os rins paralisados e com água no pulmão“, afirmou Betânia.
Sintomas
Os sintomas da Doença de Haff costumam aparecer entre duas e 24 horas após o consumo de peixe ou crustáceos cozidos.
Além dos incômodos sentidos pelo corpo e a coloração escura da urina, o quadro pode causar insuficiência renal. Isso acontece pois os músculos, quando lesionados, liberam uma substância chamada mioglobina no sangue, o que pode prejudicar os rins (e também é responsável pelo xixi preto).
As sequelas mais graves, no entanto, só costumam acontecer caso o paciente não tenha cuidado rápido e eficiente.
Outras sensações comuns são a falta de ar, dormência, perda da força do corpo.
Exames podem ser pedidos para confirmar o diagnóstico, mas como não se sabe exatamente o que causa a doença, o mais importante será ouvir o histórico dos pacientes.
Por ser rara, identificar a doença pode ser difícil, mas a recomendação é que um profissional de saúde seja procurado assim que os sintomas surgirem.
Como é feito o tratamento
O tratamento é feito com base nas consequências que a doença deixou. Os pacientes geralmente ficam internados,e são tratados com reposição de fluídos e suporte intensivo ou semi-intensivos.
Os profissionais de saúde buscam amenizar sintomas como dores, falta de ar e auxiliando a situação dos rins com aparelhos, quando necessário.
Se for um quadro leve, os indícios da síndrome somem em alguns dias, sem a necessidade de internação ou uso de aparelhos médicos. Porém, ainda sim, a avaliação médica é importante.
Apelo
A mãe das duas pacientes fez um apelo para que informações sobre a doença sejam mais divulgadas para a população com o objetivo de evitar outros casos.
“Essa é uma síndrome pouco conhecida, inclusive nos hospitais, é uma raridade. A fiscalização tem que bater em cima, pois estamos na Quaresma, quando se come muitos peixes e crustáceos. A população precisa ficar ciente que pode haver uma infecção”, relatou Betânia.
Casos da doença em Pernambuco
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que, no fim da tarde da segunda-feira (22), “foi notificada, pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) do Recife, de cinco casos de mialgia aguda, suspeitos para doença de Haff“.
A pasta explicou que dá apoio técnico para a investigação epidemiológica conduzida pela secretaria municipal de Saúde do Recife.
“Após a notificação, a SES orientou sobre a investigação epidemiológica de todos aqueles que consumiram o alimento, assim como a coleta do referido insumo para encaminhamento ao Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) para que sejam providenciadas as análises laboratoriais. A doença de Haff é caracterizada pela presença de toxina biológica presente em pescados“, disse.
Ainda segundo a secretaria, Pernambuco registrou, entre 2017 e 2021, 15 casos da doença, sendo dez confirmados (quatro em 2017 e seis em 2020) e cinco em investigação (em 2021).
“Por meio da Rede de Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Rede Cievs), acompanha e mantém toda rede de serviços de atenção e vigilância do Estado alerta para a notificação de casos suspeitos da doença“, afirmou.
Também por meio de nota, a Secretaria de Saúde do Recife disse que “os casos estão sendo investigados pela Vigilância Epidemiológica do município“.
VivaBem e G1