População vai às ruas no Paraguai após recorde de mortes por Covid-19
Com hospitais em colapso, vacinação lenta e recorde diário de infecções por Covid-19, população do Paraguai vai às ruas em protesto contra a má condução do governo na pandemia. Manifestação foi duramente reprimida pela polícia. Ministro da Saúde entrega o cargo
Cerca de 10.000 pessoas se reuniram nesta sexta-feira (6) numa praça central de Assunção, no Paraguai, para protestar contra o Governo do presidente Mario Abdo Benítez por conta da falta de medicamentos e de vacinas contra a covid-19.
A manifestação foi duramente reprimida pela polícia. Os incidentes deixaram um morto por arma branca e pelo menos 20 feridos, entre civis e policiais, segundo o balanço das autoridades.
Mais cedo, o ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, decidiu renunciar devido às pressões que sofria pelo manejo da política sanitária contra a pandemia. As informações são da agência Reuters.
Cerca de duas horas depois do início do protesto, os manifestantes foram dispersados pela tropa de choque da polícia, que usou gases lacrimogêneos e balas de borracha, resultando em uma batalha campal em pleno centro da capital paraguaia.
Uma mulher com seu bebê foi atingida por gás lacrimogêneo quando tentava entrar na sua casa. Os confrontos terminaram com uma cena insólita: a tropa de choque erguendo bandeiras brancas, num pedido de trégua, depois de ficar sem munição.
O arcebispo de Assunção, Edmundo Valenzuela, pediu aos dois lados que evitem novos confrontos. “Faço um apelo a toda a população que está neste momento convulsionada pela violência, um apelo aos meios de comunicação para que chamem à paz”, afirmou o prelado ao canal Telefuturo.
O ministro de Interior, Arnaldo Giuzzio, disse à imprensa que a atuação da tropa de choque foi justificada. “A polícia reagiu e tentou evitar que o protesto se espalhasse, que a esta altura ele já está contido em alguns pontos”, afirmou.
Covid no Paraguai
O Paraguai, um dos países com a melhor resposta à pandemia da covid-19 no primeiro semestre de 2020, agora atravessa uma crise no seu sistema hospitalar. Os mortos pelo vírus somam 3.278, e há 168.000 contagiados, mas até o momento o país recebeu apenas 4.000 vacinas, e não se sabe quando novos lotes chegarão.
As críticas ao Governo conservador do presidente Mario Abdo Benítez, filho do secretário privado do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989), crescem à medida que vão acabando os medicamentos de um sistema de saúde precário, considerado pelo Banco Mundial como insuficiente e desigual.
Paraguaios de classe alta costumam ser atendidos em clínicas particulares com preços equiparáveis aos dos Estados Unidos, enquanto o resto da população recorre a hospitais públicos onde, apesar dos esforços dos funcionários, a falta de recursos e de infraestrutura torna o atendimento muito deficiente.
Desde quarta-feira, médicos, enfermeiros, pacientes e seus familiares protestavam nas ruas de Assunção contra a falta de medicamentos. A taxa de infecção no Paraguai está em cerca de 115 por 100 mil habitantes nos últimos 7 dias. O país vacinou menos de 0,1% de sua população.
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