Médium Paulinho de Deus estuprou enteada durante 22 anos, aponta denúncia
Enteada do médium tinha apena 3 anos quando começou a ser vítima de abusos. Após a denúncia, filha do líder religioso também se manifesta e relata estupros: "ele é um monstro". Terceira vítima desabafa: "acabou com a minha infância"
O médium Paulo Roberto Reveroni, mais conhecido como Paulinho de Deus, foi preso no dia 4 de março por policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Catanduva (SP). Diretor do Centro Espírita Beneficente Paulo de Tarso, o líder religioso é acusado de estupro e ameaças.
A primeira denúncia foi feita pela ela ex-enteada do médium, que conta ter sido estuprada durante 22 anos. A jovem, hoje com 25 anos, disse que os abusos começaram quando ela tinha apenas três anos. “Ele ficava pelado na minha frente e colocava minha mão no pênis dele”, ressalta.
“Esses abusos, estupros, foram progredindo. Ele era meu padrasto, e ainda pior, dirigente da associação. Então, ele sempre foi uma pessoa conhecida, considerado caridoso, educado, que ajuda os pobres”, completa.
A ex-enteada do médium conta ainda que o homem usava a religião para manipulá-la e continuar os abusos. “Ele sempre usou uma manipulação psicológica muito forte comigo, muito bem embasada. Usava sempre a religião e as obras assistenciais que ele fazia na associação como forma de passar toda essa lavagem cerebral também. Eu fui estuprada por muitos anos assim por não entender o que era errado”, disse.
Filha
Depois da prisão de Paulinho de Deus, outras mulheres procuraram as autoridades para relatar abusos sofridos. Uma delas é a própria filha do médium, que hoje está com 38 anos.
“Ele é um monstro e merece estar preso. Só Deus sabe o inferno que passei dentro de casa e todos os traumas que carrego até hoje devido aos abusos. Foi terrível conviver com ele todos aqueles anos”, desabafou a filha de Paulinho.
Segundo relatos da filha, os abusos aconteciam na casa da família e começaram quando ela tinha apenas 11 anos. “Toda as vezes que ele tinha a oportunidade de ficar sozinho comigo em casa, ele tentava me molestar de alguma forma. Lembro-me que ele perguntava se eu tinha algum namoradinho na escola e dizia que iria me ensinar a beijar e a fazer outras coisas. Ele me forçava a beijá-lo e a tocar o corpo dele”, conta.
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A filha ainda relata que as perseguições aconteciam principalmente quando a mãe não estava na residência. Por diversas vezes o médium teria insistido para ajudá-la a tomar banho e costumava ficava observando a filhas nesses momentos. À noite, mesmo com a presença da genitora, Paulinho de Deus também teria cometido alguns abusos ao tocar, algumas vezes, o corpo da jovem enquanto ela dormia no quarto ao lado ao dos pais.
“Ele dizia que iria me ensinar a tomar banho, e mesmo eu me opondo a essas atitudes, ele insistia. Quando eu estava dormindo, ele tocava as minhas partes intimas. Me lembro uma vez que estava na cozinha lavando louça, ele me encurralou na pia e começou a esfregar o órgão genital dele em mim”, acrescenta a filha.
A mulher afirma ainda que, logo que os abusos sexuais começaram, tentou alertar a mãe, que não teria acreditado em seus relatos. Os abusos teriam continuado até a filha completar 16 anos, época em que os pais se separaram e passaram a morar em casas separadas.
“Anos mais tarde, ela (mãe) me contou que, na época, chegou a conversar e a pedir conselhos para algumas pessoas do centro espírita, mas todas desacreditaram do que eu falava, diziam que era amor de pai e eu estaria fantasiando a situação”, recorda a filha.
Há três anos, a filha do médium deixou o Brasil para morar na Itália. Mesmo longe do pai e sem ter contato com ele, a mulher acompanha a repercussão do caso. “Ele preso é sentir que um pouco que a justiça está sendo feita porque esse tipo de coisa não se faz com criança ou com uma mulher”, desabafa a filha.
Terceira vítima
Além da filha e da ex-enteada, uma terceira mulher registrou denúncia contra o médium na delegacia de Catanduva (SP). A mulher era frequentadora da associação espírita a qual Paulinho de Deus comandava no interior paulista.
Ela contou que começou a ser abusada por Paulo quando tinha apenas 8 anos. “Ele me falou que precisaria me dar um passe. Foi aí que tudo começou. Entrei na sala, e ele começou a dar o passe normal. Mas depois de um tempo, começou a pegar nos meus seios e a passar a mão. Quando abri os olhos, ele estava com o pênis para fora”, desabafa a jovem.
“Fiquei muito nervosa, saí chorando e falei não voltaria. Minha mãe e meu pai não entendiam o motivo. Achavam que era birra de criança. Até comentei com uma amiga minha que, hoje, é minha testemunha. Ela era criança e disse que ficou sem reação. Afinal, era o tio Paulo que estava fazendo aquilo”, complementa.
Para que ninguém descobrisse os abusos sexuais e psicológicos, a jovem relata que Paulo ameaçava matar o pai e a mãe dela.
“Sempre fiquei quieta. Até que as ameaças foram piorando. E assim foram quatro anos da minha vida. Ele acabou com minha infância. Isso aconteceu dos 8 aos 11 anos. Fiquei revoltada e comecei a ir em um psicólogo”, conta.
Além das ameaças que a impediam de denunciar o caso, a vítima afirma que o médium era uma pessoa influente em Catanduva, pois realizava projetos sociais e ajudava pessoas necessitadas.
“Ele dizia que não adiantaria contar, porque eu era uma criança, e ele o coordenador da Associação. Realmente, me sentia um grão de feijão no meio do mar, porque ele era o Paulo. Quem iria acreditar em uma menina de 8 anos que foi abusada dentro do Centro?”, questiona.
Os anos de abusos fizeram com que a vítima precisasse de apoio psicológico e psiquiátrico para tentar superar os traumas. “Isso acabou com minha vida, literalmente. Não me lembro de ter uma infância feliz. Lembro de ter muito medo de topar com ele na rua. Fiquei um bom tempo sem ter vida social. Achei que nunca mais seria feliz”, afirma.
Em nota, os advogados de Paulinho de Deus afirmam que as acusações contra o médium, além de infundadas, não retratam a realidade dos fatos. “Será demonstrado, através de provas documentais e testemunhais que referidas acusações foram realizadas com o objetivo de manchar a reputação de Paulo e da Associação Espírita Paulo de Tarso”.