Assessor de Bolsonaro que fez símbolo da supremacia branca será investigado
Flagrado fazendo o símbolo de supremacistas brancos, um dos homens mais próximos do presidente Jair Bolsonaro será investigado. Felipe Martins se acovardou e tentou justificar o gesto, mas histórico do assessor mostra que ele é reincidente
O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), anunciou que a Casa deverá abrir um procedimento investigativo para analisar se o assessor especial para assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins, efetivamente fez um símbolo de supremacistas brancos dos Estados Unidos.
O assessor de Bolsonaro acompanhava o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante a sessão onde os parlamentares imploraram para que o chanceler se demitisse. Em um dado momento, captado pela TV Senado, Martins faz um símbolo de “OK” com os dedos da mão direita.
O gesto é classificado como “uma verdadeira expressão da supremacia branca” pela Liga Antidifamação (ADL), organização que monitora crimes de ódio nos EUA. Martins é aluno de Olavo de Carvalho.
Assim que o gesto foi percebido, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) discursou afirmando que o gesto era um desrespeito e que Filipe deveria ser retirado das dependências do Senado. Ele compartilhou um vídeo com os senadores.
“É inaceitável, presidente. Em uma sessão do Senado federal, durante a fala do presidente do Senado, um senhor estar procedendo de gestos obscenos, está ironizando o pronunciamento do presidente da Casa. Não, presidente. Isso é inaceitável, é intolerável. Peço que conduza imediatamente este senhor, se ele ainda estiver aí, para fora das dependências do Senado Federal”, afirmou Randolfe.
“Isso é inaceitável. Basta o desrespeito que esse governo está tendo com mais de 300 mil mortos [pela Covid-19]. Não aceitamos que um capacho do senhor presidente da República venha aqui ao Senado, durante a fala do presidente do Senado, nos desrespeitar. Então, presidente, antes de começar a sessão, a primeira providência é que a polícia legislativa do Senado tome as providências necessárias em relação a esse senhor”, segue o parlamentar.
Mais parlamentares comentaram a situação: “Não sei nem que gesto importa tanto, se é um neofascista, se é uma ofensa depreciativa, o fato é que aqui não é local, nem momento para fazer gracinha, pagar aposta para ninguém. Não sei o que é isso aí, mas vai ser investigado. Certamente, o presidente não vai deixar isso aí acontecer dessa forma”, disse Jean Paul Prates (PT-RN).
Reincidente
A imagem de Filipe Martins é frequentemente associada a movimentos de supremacistas brancos, e mesmo seu perfil no Twitter é carregado de referências compartilhadas por estes grupos extremistas. Um militante de extrema-direita, que matou 51 pessoas em duas mesquitas na Nova Zelândia em 2019, se valeu da mesma frase que adorna o perfil do assessor na rede social. O extremista também utilizou o mesmo símbolo:
Luis Felipe Miguel, professor de Ciência Política da UnB, rechaçou a atitude de Martins e chamou atenção para a covardia do assessor de Bolsonaro:
“Filipe Martins está ameaçando processar todos que o chamarem de supremacista. Garante que estava apenas ajeitando a lapela do terno. Quem viu o vídeo do que aconteceu sabe que essa desculpa é um novo deboche.
Depois postou fotos de Lula e Felipe Neto fazendo gestos semelhantes. Mas mesmo um despreparado como ele sabe que o significado depende do contexto.
Os supremacistas brancos dos Estados Unidos fazem uso deliberado de símbolos ambíguos exatamente para depois dizer que era tudo inocente.
Não é como alguém que faz um protesto – atletas negros com o punho cerrado no pódio, por exemplo. A força moral do protesto está em assumir a responsabilidade pelo gesto.
É o contrário da provocaçãozinha baixa e covarde, preocupada em ter sempre uma porta de saída, desses neonazistinhas criados a leite com pera, que se acham espertos porque deglutiram as pretensas lições do charlatão Olavo de Carvalho.
Filipe Martins, aliás, é reincidente. É ele que, também por mera “coincidência”, tem, na foto de abertura do seu perfil no Twitter, um verso do poema de Dylan Thomas que se tornou associado ao extremismo de direita por abrir o manifesto do neonazista que matou 51 pessoas na Nova Zelândia.
O verso entrou no perfil de Martins no mês seguinte ao ataque terrorista na Nova Zelândia. Mas foi só “coincidência”.
No dia em que for pego fazendo uma saudação nazista, Martins vai dizer que estava só alongando o braço.
É possível pensar que o objetivo primordial da performance de ontem tenha sido causar polêmica e desviar um pouco a atenção da marca oficial de 300 mil mortos que o combo vírus + negacionismo presidencial alcançou ontem. Talvez.
Mas não é admissível que um assessor do presidente da República faça molecagem durante a fala do presidente do Senado.
E menos ainda que essa molecagem tome a forma de um aceno ao supremacismo branco.
É incrível que tenhamos chegado a esse ponto. Mas, antes tarde do que nunca, é preciso exigir a demissão de Martins e que ele seja devidamente responsabilizado pelo que fez.”
A oposição ao Governo atingiu um estado de decadência tão profundo que tenta tumultuar até em cima de assessor ajeitando o próprio terno. São os mesmos que vêem gesto nazista em oração, que forjam suásticas e que chamam de anti-semita o governo mais pró-Israel da história. pic.twitter.com/UkiyWN4Mbs
— Filipe G. Martins (@filgmartin) March 25, 2021
Estupefatos, tomamos notícia do gesto do assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República durante sessão no Senado Federal. Semelhante ao sinal conhecido como OK, mas com 3 dedos retos em forma de “W”, o gesto transformou-se em um símbolo de ódio. pic.twitter.com/gkvjsbOXm6
— Museu do Holocausto (@MuseuHolocausto) March 25, 2021