Babá muda depoimento e admite que Henry sofria nas mãos de Jairinho
Thayná de Oliveira Ferreira admite que mentiu no primeiro depoimento após pedido de Monique. Babá relata que o vereador, quando chegava mais cedo em casa, costumava se trancar no quarto com Henry por cerca de 30 minutos
Em mais de oito horas de depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca), a babá Thayná de Oliveira Ferreira, que cuidava do menino Henry Borel, de 4 anos, admitiu ter mentido ao depor anteriormente sobre a morte do menino, ocorrida em 8 de março.
A advogada Patrícia Sena, que acompanhava a profissional, disse que sua cliente contou ter apagado mensagens de WhatsApp nas quais relatava agressões do namorado da mãe do garoto, o vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho. Segundo reportagem da Rede Globo, Thayná declarou aos policiais que agiu assim a pedido de Monique.
“Ela narrou toda a dinâmica dos fatos”, disse a advogada, em entrevista a emissoras de televisão. “Enfim, ela disse tudo o que tinha para dizer, sem colocar nada que desabonasse a conduta dela. Ela fez o que deveria ter sido feito.”
Foi com base nessas mensagens, recuperadas por técnicos com a ajuda do aplicativo israelense Cellebrite Premium, que a Polícia concluiu que a babá mentira no primeiro depoimento. Chegou a cogitar sua prisão, por falso testemunho, mas permitiu que se retratasse e prestasse novas declarações no inquérito. O conteúdo dessas novas declarações não foi oficialmente divulgado, mas foi em parte obtido pela emissora.
De acordo com essa reportagem, Thayná afirmou no depoimento que não viu as agressões do político contra o menino, mas soube que ocorriam – pelo menos duas vezes. A babá contou que em uma ocasião os dois entraram em um quarto no apartamento no Condomínio Majetic, na Barra da Tijuca, na zona oeste. Dr. Jairinho aumentou muito o volume da televisão – aparentemente, para abafar ruídos. Depois que saíram, Henry disse que estava com dores de cabeça e se sentia mal.
A babá afirmou ainda que outras pessoas – uma empregada e parentes do casal – sabiam das agressões de Dr. Jairinho contra o menino. A profissional também disse aos policiais que mentiu por ter medo de Dr. Jairinho.
O político, formado em medicina, foi eleito com base eleitoral em Bangu, na zona oeste, em região dominada por milicianos. É filho do ex-deputado estadual Coronel Jairo, policial militar da reserva e que esteve preso na Operação Furna da Onça, que investigou corrupção na Assembleia Legislativa fluminense.
Thayná chegou à 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso, às 12h15, com o rosto coberto, e não falou com a imprensa. O delegado Henrique Damasceno, responsável pela investigação, chegou por volta de 13h15, e logo depois, a advogada da babá. O depoimento começou por volta de 15h30 e durou mais de sete horas.
Jairinho e Monique foram presos provisoriamente, por 30 dias, na semana passada, por determinação da juíza Elisabeth Louro, do II Tribunal de Júri. São acusados de atrapalhar as investigações. É possível que, com o depoimento de Thayná, o inquérito se acelere e, com a denúncia pelo Ministério Público, seja pedida a prisão preventiva dos suspeitos.
Monique diz que foi agredida
Monique Medeiros falou para interlocutores nos últimos dias que também era agredida pelo vereador Dr Jairinho. A Polícia Civil do Rio já foi informada sobre esses novos relatos de Monique. A pedagoga está presa no Instituto Penal Ismael Sirieiro, em Niterói, cidade da região metropolitana do Rio.
Outras mulheres que se relacionaram com o vereador já admitiram também terem sido agredidas por ele. Ana Carolina Ferreira Netto, ex-mulher de Jairinho, relatou uma agressão em 29 de dezembro de 2013.
Durante a briga, o ex-marido segurou Ana Carolina pelo braço e chegou a arrastá-la até a cozinha. Depois passou a chutá-la por diversas vezes, em meio a diversos xingamentos. Ela chegou a fazer um exame de corpo de delito para demonstrar as agressões, mas depois desistiu da denúncia.
Troca
Monique Medeiros decidiu trocar de advogado. Será defendida por Thiago Minagé, criminalista que integrou a equipe de defesa do ex-deputado Eduardo Cunha. Até então, seu defensor era André França Barreto, o mesmo de Dr. Jairinho. Há expectativa de que, a partir de agora, os dois suspeitos tenham estratégias de defesa divergentes.
Polêmico, França Barreto assistiu a declarações de outros depoentes, o que gera acusações de obstrução de justiça e coação de testemunhas.
Fábio Grellet e Wilson Tosta, Estadão