"Fazia medicina para orgulhar a família", diz irmã de vítima de feminicídio
"Se eu soubesse, não deixaria ela se envolver com um monstro. É difícil, mas de alguma forma a gente sente culpada por não ter feito nada", desabafa a irmã gêmea
A estudante de medicina Gabriela Marcia dos Santos Meirelles, de 20 anos, foi vítima de feminicídio na madrugada do último sábado (10) na cidade de Araguari (MG). A jovem levou um tiro na cabeça do mototaxista Jose Hamilton de Jesus, de 43 anos.
Após cometer o crime, Hamilton enterrou o corpo de Gabriela no quintal de sua casa. Ao ser encontrado, o homem trocou tiros com a Polícia Militar (PM) e foi atingido por um disparo. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu.
Irmã gêmea da vítima, Itamara Meirelles afirma que Gabriela estava correndo atrás dos seus sonhos, pensando em dar o melhor para a família e orgulhar a mãe com o diploma de médica. “Ela estava pensando sempre em fazer o melhor que podia para orgulhar nossa mãe com este diploma”.
De acordo com as investigações, Gabriela e Hamilton não namoravam e se encontraram poucas vezes. “Me sinto muito pesada por não ter conseguido fazer nada. Se eu soubesse, não deixaria ela se envolver com um monstro. É difícil, mas de alguma forma a gente sente culpada”, contou a irmã.
Natural de São José dos Campos (SP), Gabriela cursava medicina em uma faculdade no Uruguai, mas por causa da pandemia de Covid-19 tinha aulas pela internet. A jovem queria juntar dinheiro para se mudar para o Uruguai e acabou sendo convencida pelo criminoso a ir para Uberlândia onde, segundo ele, seria mais fácil conseguir emprego.
“A Gabriela conheceu ele via internet, eles eram amigos virtualmente e ele dizia que a cidade em Minas era boa para arrumar trabalho para o custo da faculdade. Disse que a ajudaria até ela se estabilizar na cidade e ir para o Uruguai. Ele usou isso contra ela e sua vida”, afirma Itamara.
Na noite anterior ao crime, o mototaxista buscou Gabriela em Uberlândia, que fica a cerca de 30 km de Araguari, onde ocorreu o crime. Antes de ser morta, a vítima ainda enviou mensagens para uma amiga dizendo que estava com medo do homem e pediu para manter contato.
De acordo com os prints da conversa com a amiga, divulgados pela PM, a jovem dizia, ainda na sexta-feira (9) à noite, que o homem contava histórias estranhas sobre ter matado uma garota de programa. Desconfiada, ela mandou a localização e alertou que “Se não voltar até 8h (da manhã) você vem, tenho medo dele”.
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte da jovem. “A Perícia Criminal compareceu ao local dos fatos e realizou os primeiros levantamentos. Assim que os laudos forem finalizados, o caso será concluído e remetido à Justiça. A investigação segue em andamento na Delegacia de Polícia Civil de Araguari”.
Segundo as investigações, o autor do crime já havia cumprido 12 anos de prisão pelo homicídio da esposa, em 2006, também em Araguari. À época, ele enterrou o corpo da mulher debaixo da cama do casal.