‘Estudo do TCU’ citado por Bolsonaro foi feito por auditor amigo da família
‘Estudo’ citado por Bolsonaro para desacreditar mortes por Covid-19 foi feito de maneira clandestina e incluído no site do TCU por auditor amigo da família
O auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques foi identificado como responsável pelo “estudo paralelo” postado no site do Tribunal de Contas da União (TCU), às 18h39 do domingo (6).
Alexandre é amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano.
O tal “estudo” foi postado apenas algumas horas antes de ser mencionado por Bolsonaro, ao mais uma vez mentir sobre as mortes pela covid-19.
De acordo com o print divulgado pela Crusoé, às 18h39 do domingo (6), o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques que atuava na Secretaria de Controle Externo da Saúde acessou o sistema interno do tribunal e incluiu um documento não oficial com informações distorcidas sobre a possibilidade de supernotificação de casos de Covid-19 no Brasil.
A tela do sistema do TCU registra o acesso do auditor e comprova a criação do documento – em formato PDF e em papel não timbrado – intitulado “Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid”.
Quase 500 mil brasileiros já perderam a vida para a doença causada pelo novo coronavírus, mas Bolsonaro segue negando a gravidade da pandemia. As denúncias são do jornalista Vicente Nunes, em seu blog no Correio Braziliense, e da Crusoé.
Na segunda-feira (7), em conversa com apoiadores no “cercadinho” em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente disse que metade das mortes pela covid-19 no país não ocorreram. E citou o “estudo paralelo” postado por Alexandre no site do TCU. Bolsonaro chegou a alegar que os governadores aumentaram o total de óbitos para conseguir mais verbas do governo federal.
“O relatório final, que não é conclusivo, disse que em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União. Esse relatório saiu há alguns dias. Logicamente que a imprensa não vai divulgar. Já passei para três jornalistas com quem eu converso e devo divulgar hoje à tarde. Está muito bem fundamentado, todo mundo vai entender, só jornalista não vai entender”, afirmou o presidente.
Nesta terça (8), o presidente, mais uma vez pego em uma de suas mentiras, voltou atrás e assumiu que o “estudo” não é do TCU.
Estudo paralelo foi repudiado
Lotado na secretaria do TCU que trata de inteligência e combate à corrupção, o auditor solicitou acompanhar as compras com dinheiro público de equipamentos para o combate à covid, quando teve início a pandemia. Então, passou a elaborar o “estudo paralelo” citado por Bolsonaro. O levantamento, no entanto, não foi endossado por nenhum dos colegas de Alexandre por considerarem-no uma “farsa”, relata o Correio Braziliense.
O auditor chegou a ser veemente repreendido, pois os resultados do estudo deixavam claro a intenção de desqualificar os governadores e endossar o discurso de Bolsonaro.
“Assustados com a insistência de Alexandre, os colegas de trabalho comunicaram os ministros da Corte de Contas o que estava acontecendo. Mas o auditor entregou a sua tese aos filhos de Bolsonaro, e a tornou pública. O TCU abriu investigação para apurar a conduta de Alexandre”, informa a reportagem.
Segundo Vicente Nunes, nas redes sociais o auditor amigo da família Bolsonaro costuma compartilhar fake news, como os benefícios do uso de ivermectina no combate à covid, e incitar ataques a governadores.
Mesmo alertado por colegas de trabalho de que estava produzindo informações falsas, o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques estava disposto a incluir o seu “estudo paralelo” no 6º Relatório de Monitoramento da Covid-19 do Tribunal de Contas da União (TCU), informa o Correio. O novo documento oficial está previsto para ser divulgado na próxima semana. Mas o uso precipitado das informações falsas por Bolsonaro levou o TCU a conseguir a barrar a inclusão dos dados fale no documento.