Afinal, é errado torcer pela Argentina na final da Copa América?
Discussão começou após Neymar questionar patriotismo e xingar brasileiros que não irão torcer pela seleção brasileira. Jornalistas se manifestaram: "Patriotismo é um conceito abstrato e a relação de cada um com sua nação deveria ir além de vestir uma camisa ou espetar uma bandeira na janela do carro"
A seleção brasileira de futebol enfrenta neste sábado (10) a equipe da Argentina na final da Copa América. Na decisão de hoje, especialistas afirmam que o Brasil é favorito para vencer dentro de campo. No entanto, uma polêmica maior sobre a partida se criou após muitos torcedores brasileiros declararem abertamente nas redes sociais que não irão torcer pelo time comandado por Tite.
As manifestações provocaram a reação de Neymar — o principal jogador da seleção brasileira. “Sou brasileiro com muito orgulho e muito amor. Meu sonho sempre foi estar na Seleção Brasileira e ouvir a torcida cantando. Jamais torci e torcerei se o Brasil estiver disputando alguma coisa, seja lá qual for o esporte: concurso de modelo, Oscar ou o c… Se tem Brasil eu sou Brasil. E quem é brasileiro e faz diferente? Ok, vou respeitar… mas vai para o caralho”, publicou o futebolista em seu Instagram.
Depois de Neymar, o zagueiro Marquinhos se pronunciou. “É difícil. A gente vê tantos brasileiros, tanta gente na imprensa que não apoia a Seleção Brasileira e não tem nenhum prazer e orgulho de assistir e torcer por nós. Mesmo sabendo da história grandiosa, maravilhosa e saber que já teve muito jogador bom aqui, que vestiu essa camisa’, desabafou o defensor de 27 anos.
O comentarista Casagrande, da TV Globo, comparou Neymar a Bolsonaro e disse que o jogador não sabe o que é ser patriota. “Eu nunca vi o Neymar ficar bravo com toda a crise que a gente vive no Brasil. O problema do Neymar é torcer para a Argentina, aí ele fica bravo, aí ele se acha um patriota, aí ele se sente um brasileiro. Ele acha que ser brasileiro é isso? A definição de brasileiro do Neymar é não gostar quando alguém fala que torce pela Argentina”.
“Nós estamos com problema até a testa, pra cima da cabeça, com gente morrendo, discussão de vacina, e ele não fica bravo com isso, ele não fica bravo com as pessoas que morrem por causa de incompetência do governo Bolsonaro, ele não fica bravo que o governo não se mexeu pra comprar vacina e tá tendo suspeita de propina, de desvio de verbas e rachadinha. Aí ele não fica bravo. Quem fica bravo sou eu quando vejo isso”, continuou Casagrande.
“O Neymar poderia simplesmente não gostar das pessoas que vão torcer pela Argentina e falar isso, mas palavrão, ofensa e ser agressivo? Ele se comporta e ele fala com a mesma agressividade e grosseria com que fala o presidente Jair Bolsonaro. É a mesma coisa, do mesmo jeito. Ele não sabe o que é ser patriota, ele não sabe o que é ser brasileiro. Torcer pela Seleção Brasileira é uma coisa, ser patriota, sofrer com a situação do país, apoiar, ser solidário com as pessoas, se manifestar, reclamar e se posicionar com a situação do país.. Aí eu acho que é ser patriota”, finalizou o comentarista.
Júlio Gomes, colunista do UOL, lembrou que a realização da Copa América foi rejeitada por outros países por conta da pandemia e trazida pelo Brasil por Jair Bolsonaro como estratégia para melhorar sua baixa aprovação popular. O jornalista ainda fez um importante síntese acerca do que é ser patriota:
“Patriotismo é um conceito muito abstrato e a relação de cada um com sua nação deveria, a meu ver, ir além de vestir uma camisa ou espetar uma bandeira do país na janela do carro. Para mim, ser patriota tem a ver com o senso de coletividade, empatia e convivência. Desconfie destes que se declaram “patriotas”, pois, em regra, costumam ser os mais individualistas e despreocupados com os que estão em volta”.
