Professor é barrado em vacinação por usar camisa contra Bolsonaro
Censura: Professor é constrangido e impedido de tomar vacina contra a Covid em quartel dos Bombeiros do Rio por usar camisa crítica ao presidente Jair Bolsonaro
O professor Luiz Carlos Gomes de Oliveira, 61, foi impedido de receber a segunda dose de vacina contra a covid-19 em um quartel do Corpo de Bombeiros enquanto vestisse uma camisa crítica ao presidente Jair Bolsonaro.
A camisa traz a seguinte mensagem: “A segunda dose da vacina nos livra da covid-19. O que nos livrará do Bolsovírus será o impeachment ou seu voto em 2022”. O caso aconteceu hoje no Grupamento de Busca e Salvamento, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
A professora Dirlene Barros de Oliveira, esposa de Luiz, também foi impedida de receber o imunizante. Eles só puderam receber a vacina depois de serem obrigados a trocar de roupa, em uma situação constrangedora. A corporação disse que vai abrir uma sindicância para apurar os fatos.
Segundo Luiz Carlos, eles estavam na fila do posto de vacinação dentro do quartel dos Bombeiros, quando foram abordados por um militar que, por ordem do comando, disse que eles não poderiam ser imunizados com manifestações contra o governo Bolsonaro.
O professor disse que colocou sua camisa ao contrário ali mesmo na fila e sua esposa, que estava com outra blusa por baixo, apenas retirou a camisa com as palavras de protesto.
Luiz Carlos ainda teria dito ao soldado que a atitude era ilegal. Ele disse ainda que o soldado alegou que caso eles decidissem se vacinar com as camisas, o comandante da unidade poderia manter o soldado preso por até 30 dias.
“É uma decisão autoritária, que não tem sustentação nenhuma. Eles avisaram que se alguém visse algum tipo de manifestação política no momento da vacinação, o soldado que estivesse ali poderia ser preso por até 30 dias. Todos falavam a mesma coisa e aparentavam ter muito medo”, relatou o professor.
Ainda de acordo com os relatos do casal, outro militar orientou que os dois não fizessem fotos na calçada da unidade militar com as camisas de protesto.
“Já fora das dependências do quartel, a minha esposa quis tirar uma foto já com as camisas do lado normal. Mas um bombeiro que estava do lado de fora disse para que a gente tirasse a foto do outro lado da rua, porque ali também era área militar e daria problema para ele”, completou.
Na opinião de Luiz Carlos, essa determinação contra os protestos só surgiu agora por conta da queda de popularidade do Governo Federal. O professor lembrou que em abril, quando recebeu a primeira dose da vacina, foi com uma outra camisa contra o governo e não teve problema para receber o imunizante.
“Quando eu tomei a primeira dose, com a minha mulher, no mesmo quartel, com as mesmas pessoas, não tivemos problemas. Como a aprovação do governo era boa, não teve problema nenhum. É muito sintomático o que está acontecendo. É uma tentativa de criar um tipo de censura das pessoas que querem se manifestar contra o que o governo ta fazendo”.
“Eu acho ruim é que fica misturando uma instituição de estado com uma questão política. No momento que o Governo Federal está bastante fragilizado, faz um procedimento para limitar e impedir a liberdade de expressão daqueles que se opõe, que é um direito nosso”, concluiu Luiz Carlos.
Luiz leciona história na rede municipal do Rio de Janeiro. Ele contou que seu primeiro pensamento ao ouvir a determinação passada pelo soldado foi que estava numa volta ao passado. “Me senti na adolescência, quando vivemos na ditadura. Naquela época, a censura era extremamente violenta e as liberdades completamente cerceadas. Foi uma volta negativa no tempo e uma violação dos nossos direitos.