Mídia internacional ridiculariza desfile de Bolsonaro: “República de Bananas”
Imprensa internacional ainda comentou que aliados do presidente usaram imagens de desfile militar da China como se fosse do Brasil
A imprensa internacional ridicularizou o desfile de tanques organizado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (10) em Brasília.
O jornal britânico The Guardian chamou o ato de “desfile de República de Bananas” e ainda comentou que aliados do presidente usaram imagens de desfiles na China em postagens sobre o evento.
Para exaltar o desfile militar no Brasil, o líder bolsonarista Otoni de Paula (PSC) postou uma foto de tanques de guerra chineses enfileirados. “Oh, formosa! Nunca uma simples manobra militar mexeu tanto com meu patriotismo”, escreveu o parlamentar, dando a entender que se tratava de uma imagem do desfile de Bolsonaro. A fake news repercutiu e o deputado apagou a postagem horas depois.
O The Guardian ainda destacou que o ato durou “apenas dez minutos” e que os tanques soltavam fumaça. O jornal também citou a baixa presença de apoiadores e que críticos classificaram o desfile de “fiasco” e “patético”.
O jornal francês Le Monde destacou que o desfile era “inédito” nos 30 anos da democracia, em um momento de queda de popularidade de Bolsonaro diante da morte de 564 mil pessoas no Brasil devido à pandemia da covid-19. Aspas
A publicação afirma que há no Brasil um temor de um “cenário a la Trump”, numa situação de um presidente que se recusa a deixar o poder. “Bolsonaro, que sabe que as instituições de Brasília são mais frágeis que as de Washington, não faz nada para dar garantias”. E lembraram declaração do presidente, em janeiro: “Se não tivermos voto impresso em 2022, teremos um problema pior que nos EUA”.
Em Portugal, Bélgica, Canadá ou Estados Unidos, a imprensa também fez uma relação entre o desfile e a situação pouco confortável de Bolsonaro nas eleições de 2022 — a reprovação popular ao atual governo atinge níveis recordes em todas as pesquisas eleitorais.
O desfile dos tanques das Forças Armadas aconteceu no dia em que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), marcou a votação, em plenário, da PEC do voto impresso, defendida por Bolsonaro. Mesmo com os tanques nas ruas, a PEC foi rejeitada. Saiba mais:
— VEJA COMO VOTARAM OS DEPUTADOS NA PEC DO VOTO IMPRESSO
Desfile para intimidar
Assessores presidenciais que falaram ao jornalista Valdo Cruz, do G1, admitiram que o desfile ocorreu para intimidar o Judiciário e o Legislativo e tentar passar uma demonstração de força neste momento em que o governo está na defensiva.
Auxiliares de Bolsonaro disseram que a ideia do evento partiu do Comando da Marinha e foi encampada pelo Ministério da Defesa,. A pasta levou a proposta ao presidente da República, que deu aval para a realização do desfile.
O objetivo seria passar a mensagem, segundo esses assessores, de que o presidente conta com o apoio das Forças Armadas num momento em que ataca o Judiciário.
Os exercícios militares da Marinha na cidade de Formosa (GO), próxima de Brasília, ocorrem desde 1988, mas até então nunca havia acontecido um desfile dos carros e blindados da Marinha na Esplanada dos Ministérios. E também nenhum presidente havia recebido na rampa o convite para assistir os exercícios.