Que país é esse?
Para quem dizia temer a venezuelização do Brasil, o pacote que Bolsonaro produziu supera os piores pesadelos
Anderson Pires*
O Governo Bolsonaro e sua turma no Congresso Nacional resolveram meter o pé no acelerador no desmonte do país. Em poucos dias, aprovaram mudanças no processo eleitoral e deram mais um golpe nos trabalhadores com a flexibilização de direitos trabalhistas. Novamente, a desculpa da geração de novos empregos foi usada.
Em paralelo, o presidente manteve os ataques à urna eletrônica. Tenta, assim, produzir uma cortina de fumaça à constante queda de popularidade, além de insuflar seus apoiadores para um possível golpe em caso de derrota eleitoral. O alvo favorito continuou sendo o Ministro Roberto Barroso, presidente do TSE.
Mas nada é tão ruim que não possa piorar. No quesito vergonha alheia fomos destaque. Um desfile de tanques pela Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes rendeu mais uma cena patética. O nosso projeto de Mussolini conseguiu gerar uma enxurrada de memes e manchetes pejorativas por todo mundo. O espetáculo foi interpretado como forma de ameaçar os parlamentares no dia em que a proposta do voto impresso seria votada.
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Como existem personagens que são imprescindíveis numa tragédia, Roberto Jeferson voltou a ser preso. Em plena sexta-feira 13, o macabro político recebeu a visita da Polícia Federal por fazer parte das milícias digitais, que propagam ataques a instituições e a democracia brasileira. Seus vídeos com insanidades em apoio à Bolsonaro incitavam a violência armada ao STF e políticos que se opõem as arbitrariedades do presidente.
Mas não acabou. Num país em que políticos manipulam as regras das eleições conforme a conveniência, o presidente espalha argumentos para justificar um possível golpe, tanques desfilam pelas ruas, direitos trabalhistas são surrupiados, só falta um componente para a desgraça ser completa: inflação em disparada e economia sem qualquer perspectiva positiva.
O que mais poderia acontecer de ruim numa mesma semana?
Pois é, aconteceu. Diante da maior crise sanitária do mundo, com centenas de milhares de mortes, milhões de pessoas ansiosas por receber pelo menos uma dose de vacina, descobre-se que cerca de 10 milhões de doses estavam travadas no Centro de Distribuição em Guarulhos, São Paulo. O Ministério da Saúde está mais preocupado em encobrir os indícios de corrupção apurados pela CPI da Pandemia, que destravar as doses de vacina que chegam ao país.
Para quem dizia temer a venezuelização do Brasil, o pacote que Bolsonaro produziu supera os piores pesadelos. Não existe nada de positivo para sustentar a defesa desse governo: corrupção, golpismo, negacionismo, incompetência, economia em frangalhos, inflação descontrolada, pobreza e fome estampadas pelos sinais de trânsito e ataques constantes a democracia. Mesmo assim, ainda temos que conviver com os fundamentalistas preocupados com o comunismo e rosnando que a culpa é do PT.
Para os próximos dias, teremos novos capítulos do desmonte estatal. Os Correios prestes a privatização. Outros serviços públicos, a exemplo de água e esgoto, também serão alvo. Como é praxe, o presidente continuará a terceirizar a culpa para Governadores, o Supremo, a China e quem sua desonestidade resolver atacar. Pois é, se a vizinha Venezuela era o fantasma temido pelos fascistas, aqui a situação anda de mal a pior. Lá, pelo menos, a Gasolina barata serve de consolo.
*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.