Bolsonaro quer matricular filha em colégio militar sem passar por seleção
Bolsonaro pede para Exército matricular filha em colégio militar sem passar por processo seletivo. Unidade em Brasília abriu concurso para apenas 15 vagas no sexto ano, e presidente pede que Laura seja matriculada de forma excepcional
O presidente Jair Bolsonaro solicitou ao comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, um tratamento especial à filha dele, Laura Bolsonaro, de 10 anos. Pediu, também, que ela seja matriculada no Colégio Militar de Brasília sem ter de passar por processo seletivo.
A informação foi confirmada ao jornal Folha de S.Paulo pelo Centro de Comunicação Social do Exército. O órgão acrescentou que o comandante da Força ainda não proferiu uma decisão e que ele aguarda uma manifestação do Departamento de Educação e Cultura.
Na última terça-feira 24, Bolsonaro confirmou a apoiadores o desejo de matricular a filha no colégio militar.
“Minha filhota, do Colégio Militar de Brasília”, disse um bolsonarista ao presidente em contato no ‘cercadinho’ do Palácio da Alvorada. “Legal. A minha deve ir ano que vem para lá, a imprensa já tá batendo. Eu tenho direito por lei, até por questão de segurança”, respondeu Bolsonaro.
Em 2019, o filho da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) foi matriculado na instituição, sem passar por processo seletivo, para cursar o sexto ano do ensino fundamental. À época, a parlamentar declarou que pediu a vaga por causa de ameaças sofridas por ela e pelo filho.
O Colégio Militar de Brasília é uma unidade do Exército. Os concursos para seleção de crianças para estudarem na unidade e em mais 13 colégios -Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Santa Maria (RS), Fortaleza, Manaus, Belo Horizonte, Juiz de Fora (MG), Salvador, Recife, Curitiba, Campo Grande e Belém-abriram inscrições no último dia 18.
As inscrições prosseguem até 24 de setembro. Depois, há um longo calendário até a efetivação da escolha dos alunos que estudarão nos colégios militares do Exército.
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Em Brasília, conforme o manual do candidato publicado, estão disponíveis apenas 15 vagas para o sexto ano do ensino fundamental. São três as etapas a que serão submetidas as crianças candidatas: exame intelectual, que tem caráter eliminatório e classificatório; revisão médica e odontológica, eliminatória; e “comprovação dos requisitos biográficos dos candidatos”, também eliminatória.
O exame intelectual, que será aplicado em 17 de outubro, consiste em 12 questões de matemática, 12 de língua portuguesa e uma redação de 15 a 30 linhas.
Já os exames médicos, para quem for classificado, incluem: radiografia do tórax, glicose, hemograma completo, sumário de urina, parasitologia de fezes, eletrocardiograma e exame clínico e odontológico. A biografia consiste na análise do histórico escolar.
Para concorrer a uma das 15 vagas, o edital exige que o candidato seja brasileiro, que esteja cursando ou tenha terminado o quinto ano do ensino fundamental e que tenha entre 10 e 13 anos.
As matrículas das crianças que passarem na seleção estão previstas para o período de 17 de janeiro a 12 de fevereiro de 2022.
Filhos e filhas de militares também podem ser matriculados nos colégios do Exército em condições específicas, independentemente de seleção, como órfãos, dependentes de militares que mudaram de sede e dependentes de militares aposentados por invalidez.
Essas previsões estão no Regulamento dos Colégios Militares, o R-69, vigente desde 2008 por meio de uma portaria editada pelo comandante do Exército. Ele prevê ainda acesso a anos escolares para os quais não há processo seletivo, conforme regulação do departamento de ensino da Força.
Para esses casos, são feitos sorteios, mediante inscrição direta dos interessados no Colégio Militar. O de Brasília, por exemplo, publicou no último dia 23 um comunicado com informações sobre sorteios para eventuais vagas ociosas no sétimo, oitavo e nono anos do ensino fundamental, além de segundo e terceiro anos do ensino médio, todas elas para 2022. O sorteio inclui os casos especiais previstos no R-69.
O mesmo R-69 é usado para as autorizações excepcionais, as matrículas de alunos por decisão direta do comandante do Exército.
No caso do filho da deputada Zambelli, o então comandante do Exército usou o artigo 92 do regulamento. É o último do R-69: “Os casos considerados especiais poderão ser julgados pelo comandante do Exército, ouvido o DEP [Departamento de Ensino e Pesquisa].”
As vagas nos colégios militares são disputadas. Em 2017, na unidade em Brasília, houve 1.212 candidatos para 25 vagas ofertadas para o sexto ano, ou 48 candidatos por vaga.
Zambelli admitiu ter sido privilegiada no ano passado em relação à matrícula de seu filho.
Carta Capital e O Tempo