Estado Islâmico Khorasan: Rival do Talibã ameaça a retirada dos EUA no Afeganistão
Isis-K: Grupo ainda mais extremista que o Talibã reaparece no Afeganistão. Embora os dois movimentos sejam formados por sunitas de linha dura, eles também são rivais e divergem em temas de religião e estratégia. Talibãs são considerados 'traidores' por negociarem com o Ocidente
Por G1
Enquanto afegãos desesperados tentavam embarcar em um voo para sair do Afeganistão e fugir dos talibãs, surgiram alertas para outra ameaça: o grupo Estado Islâmico (EI).
O presidente americano, Joe Biden, afirmou que existia um “risco agudo e crescente” de ataque no aeroporto por parte do braço regional do grupo, denominado Estado Islâmico-Khorasan (EI-K).
O EI-K também é conhecido pela sigla em inglês, ISIS-K.
Nesta quinta-feira (26) veio a explosão, deixando um número ainda desconhecido de mortos. O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade do ataque, segundo a agência vinculada ao grupo extremista, Amaq News.
Estados Unidos, Reino Unido e Austrália já haviam pedido a seus cidadãos que evitassem o aeroporto e procurassem zonas seguras.
Antes do ataque, ao ser consultado diretamente sobre a ameaça, um porta-voz talibã reconheceu o risco de “incômodos” que provoquem problemas na já caótica situação. Ele atribuiu o quadro atual à retirada liderada pelos Estados Unidos.
Veja abaixo perguntas e respostas sobre este outro grupo extremista (EI-K ou ISIS-K), com informações da agência AFP:
O que é o Estado Islâmico-Khorasan?
Meses depois de o EI declarar um califado no Iraque e na Síria, em 2014, combatentes que saíram do talibã paquistanês se uniram aos militantes no Afeganistão para formar um braço regional. Juraram lealdade ao líder do EI, Abu Bakr al Baghdadi.
O grupo foi reconhecido formalmente pelo comando central do EI no ano seguinte à sua instalação no nordeste do Afeganistão, nas províncias de Kunar, de Nangarhar e do Nuristão.
Também estabeleceu células em outras áreas do Paquistão e do Afeganistão, incluindo Cabul, segundo monitores da ONU.
As últimas estimativas de sua força variam de milhares de combatentes ativos até 500, conforme relatório do Conselho de Segurança da ONU divulgado em julho passado.
“Khorasan” é um nome histórico da região que inclui partes de onde ficam atualmente Paquistão, Irã, Afeganistão e Ásia Central.
Que tipo de ataques o EI executa?
O EI-K reivindicou alguns dos ataques mais violentos dos últimos anos no Afeganistão e no Paquistão.
O grupo massacrou civis nos dois países em mesquitas, santuários, praças e até hospitais, além de ter executado ataques contra muçulmanos de alas que considera hereges – em particular os xiitas.
Em agosto de 2019, o EI-K reivindicou a autoria de um atentado contra os xiitas durante um casamento em Cabul que deixou 91 mortos.
As autoridades suspeitam que o grupo foi o responsável por um ataque, em maio de 2020, que chocou o mundo. Homens armados abriram fogo na maternidade de um bairro de maioria xiita de Cabul. Nele, 25 pessoas morreram, entre elas 16 mães e recém-nascidos.
Nas províncias em que está presente, o EI-K deixou marcas profundas. Seus homens mataram a tiros, decapitaram, torturaram e aterrorizaram os moradores, deixando minas por todos os lados.
Além dos bombardeios e massacres, o EI-Khorasan não conseguiu controlar nenhum território na região e sofreu grandes perdas nas operações militares talibãs e americanas.
Qual a relação do EI-Khorasan com os talibãs?
Embora os dois grupos sejam militantes islâmicos sunitas de linha dura, também são rivais e divergem em temas de religião e estratégia. Cada um diz representar a verdadeira bandeira da Jihad.
As divergências provocaram confrontos sangrentos, dos quais os talibãs geralmente saíram vitoriosos desde 2019, quando o EI-Khorasan foi incapaz de controlar um território como fez seu grupo parente no Oriente Médio.
Em um sinal de inimizade entre os grupos jihadistas, os comunicados do EI se referem aos talibãs como apóstatas.
Como o EI encarou a vitória talibã no Afeganistão?
Nada bem. O Estado Islâmico critica o acordo assinado no ano passado entre Washington e o Talibã, que levou a um pacto para a retirada das tropas estrangeiras. O grupo acusa os talibãs de abandonarem a causa jihadista.
Após a rápida tomada do Afeganistão pelos talibãs, vários grupos jihadistas no mundo felicitaram o grupo, mas não o EI.
Um comentário do EI publicado após a queda de Cabul acusou os talibãs de traírem os jihadistas com o acordo com Washington e prometeu continuar sua luta, de acordo com o SITE Intelligence Group, que monitora as comunicações dos grupos extremista.
Por que o aeroporto de Cabul é alvo?
Autoridades dos Estados Unidos e de outros países ocidentais já vinham alertando que o aeroporto de Cabul, com milhares de soldados americanos cercados por uma multidão de afegão desesperados, estava sob ameaça do EI-Khorasan.
Nenhum país anunciou detalhes específicos da ameaça.
“ISIS-K é um inimigo dos talibãs, e eles têm um histórico de lutar um contra o outro”, disse Biden no domingo (22). “Todos os dias que temos soldados no local, estes soldados e civis inocentes no aeroporto enfrentam o risco de um ataque do ISIS-K “, acrescentou.