Delmar Bertuol
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Barbárie 22/Jan/2022 às 10:05 COMENTÁRIOS
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Crueldade: e se a Damares estivesse certa?

Delmar Bertuol Delmar Bertuol
Publicado em 22 Jan, 2022 às 10h05

Vamos, pelas próximas linhas, supor que a Damares, o Queiroga, o Bolsonaro e os que torcem contra a vacinação estivessem infelizmente certos e a menina quase veio a óbito por ter tomado a vacina...

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Imagem: Anderson Riedel | PR

Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Tão logo soube que uma menina teve parada cardíaca horas depois de tomar a vacina contra a covid, o Governo(?) agiu e enviou a Ministra Damares a São Paulo para visitar a paciente e seus pais. O Ministro Queiroga foi junto, mas esse é como se fosse um placebo no Governo(?). Claro que a ideia era explorar o fato de que o acontecimento tinha relação com a vacinação, que o Governo(?) não apoia.

Ocorre que ficou comprovado que a adversidade não tinha nada a ver com a vacina. A menina sofre duma doença rara, que lhe ocasionou o problema.

Fosse em outra situação, a equivocada viagem só seria mais uma patacoada do Governo(?) e seus ministros patéticos e/ou inertes. Mais uma pagação de mico minimizada pelos seus defensores. Mas, dada as circunstâncias e a pessoa envolvida (uma criança!), o caso é bem mais grave.

Vamos, pelas próximas linhas, supor que a Damares, o Queiroga, o Bolsonaro e os que torcem contra a vacinação estivessem infelizmente certos e a menina quase veio a óbito por ter tomado a vacina.

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Dada a hipótese, a premissa é de que a Ministra, enviada pelo Presidente(?), foi lá puramente fazer política. Tornar a imunização (ou não) algo ideológico. Mais uma ode à ignorância.

Bem, que os governos de verdade e do Bolsonaro fazem política e defendem suas ideologias nas mais variadas oportunidades sabemos. Até certo ponto, isso pode ser legítimo. Mas este caso extrapolou.

Se a menina estivesse a beira da morte por ter tomado a vacina não-obrigatória, uma ministra que é contra a vacinação nada mais ia fazer lá do que expor a ideia do “eu avisei”.

Pai, me coloco no lugar deles, dos pais da menina. Por mais que eles estivessem agido pensando estar fazendo o melhor pra filha, se ocorresse algo relacionado à opção deles em vaciná-la, impossível não ficarem com a consciência pesada. Com algum remorso.

E era esse sentimento de culpa, de tristeza, de dor da família, que a Ministra da Família queria em nome do Governo(?) explorar.

Esse fato é pior do que quando Bolsonaro, em meio a enchentes na Bahia, foi andar de jet-ski. Naquele episódio, o Presidente “só” foi indiferente e insensível às mortes. E, cá entre nós, alguém ainda espera sensibilidade e preocupação do Bolsonaro? Agora, entretanto, ele não se limitou a ignorar uma quase-morte. Usou o fato, que envolvia uma criança, e o sentimento não só de dor da família como um hipotético sentimento de culpa dos pais, pra fazer propaganda do que, sem comprovação científica nenhuma, ele defende. Foi cruel, foi desumano, foi perverso.
Ele já disse que “não é coveiro”, mas, quando lhe convém, parece torcer pela morte pra ir chorar no enterro.

A Damares, por sua vez, quer ser candidata ao Senado…

*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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