Araraquara cria 'Uber' próprio com repasse de 95% dos ganhos ao motorista
Problemas enfrentados atualmente pelos aplicativos de transporte viram oportunidade de negócio em Araraquara. Prefeitura criou 'Uber' próprio e motorista embolsa 95% da tarifa – outros serviços repassam cerca de 60% aos trabalhadores
A Cooperativa de Transporte de Araraquara e a Prefeitura do município lançaram há quatro semanas o Bibi Mob — uma espécie de ‘Uber’ próprio que repassa 95% dos ganhos ao motorista. Como parâmetro de comparação, serviços que atualmente dominam o mercado como o 99 e o Uber repassam cerca de 60% aos trabalhadores.
O balanço do primeiro mês do Bibi Mob é considerado positivo, com 200 motoristas e 7 mil usuários já cadastrados. “Nós fizemos um lançamento no dia 3 de janeiro, um mês considerado muito fraco, por ser de férias, início de ano, com vários tributos a serem pagos, o movimento cai bastante, então superou as expectativas sim”, diz Kátia Cristina Anello, presidente da Coomappa.
Camila Capacle, coordenadora de Trabalho e Economia Criativa e Solidária de Araraquara diz que a Prefeitura, comandada por Edinho Silva (PT), tem um programa de incentivo ao cooperativismo, chamado Coopera Araraquara, e que a oportunidade de ajudar os motoristas de aplicativos surgiu após uma série de observações e algumas dificuldades.
“Assim como em todas as regiões, sabíamos dos diversos problemas que têm afetado os motoristas de aplicativos, como o preço dos combustíveis e a baixa remuneração. Aproveitando o mote do Coopera Araraquara, decidimos chamar esses motoristas para que eles montassem uma cooperativa”, disse.
“Estávamos encurralados. O aumento do combustível, os custos de manutenção e até a lavagem dos carros subiram de preço. Porém, o valor do quilômetro rodado pago pelos aplicativos sempre se manteve o mesmo”, declara Kátia Anello, que é motorista de aplicativo há quatro anos e revelou já ter recebido apenas 49% por uma corrida.
“Está cada vez mais penoso pedir um carro por aplicativo hoje em dia. Há muitos cancelamentos, os preços do serviço estão altos e clientes relatam queda na qualidade dos serviços. Para nós, motoristas, a jornada de trabalho pode superar as 14 horas diárias e os ganhos são ínfimos por conta dos repasses e do preço do combustível. Em suma, está ruim para os dois lados”, acrescentou Karina.
O desenvolvimento do Bibi Mob começou em novembro de 2020. Foram meses de capacitações, cursos e conversas. Assim como nos aplicativos comerciais convencionais, os motoristas têm que apresentar todos os documentos, o profissional precisa estar vinculado à cooperativa e também deve ter um atestado de antecedentes criminais.
O passageiro também precisa seguir protocolos de segurança. No cadastro, precisa enviar uma selfie e uma foto do documento de identidade. Então, assim como quem pede uma corrida vê o motorista, o condutor também vê quem é o passageiro.
“Com o Bibi Mob a situação melhorou bastante e é possível cumprir as metas, seja de quilometragem, ou de valor, em um tempo menor do que com os outros aplicativos. Outra questão: o índice de cancelamento de corrida é quase zero, e agora só acontece quando é realmente necessário suspender a viagem”, afirma. Karina.
Camila Capacle diz que a prefeitura está desenvolvendo mais dois aplicativos: para motofrete (já em fase de cadastro) e para delivery de comida (para o segundo semestre deste ano). O Bibi Mob pode ser baixado gratuitamente na Play Store e iOS.