Carla Zambelli pede suspensão do BBB caso participante teste positivo para Covid-19
Embora cobre que os participantes do programa sejam testados, Zambelli nunca teve participação ativa na formulação de políticas públicas de combate à pandemia. Ela, na verdade, é expoente do movimento antivacina e uma das defensoras do chamado “tratamento precoce”, conjunto de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença
Agência Estado
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) formalizou um pedido na Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro para que os participantes do programa Big Brother Brasil, da TV Globo, sejam testados “urgentemente” contra a covid. A parlamentar cobrou uma atitude da emissora após usuários das redes sociais notarem que alguns participantes apresentam sintomas da doença. Após o anúncio do requerimento, a hashtag “#GloboTestaBBB” ganhou popularidade no Twitter.
Como evidenciado pelo perfil de Zambelli nas redes sociais, a petição ganha contornos políticos na medida em que é usada para suscitar provocações à forma como a emissora noticia ações do governo de Jair Bolsonaro (PL). A parlamentar compartilhou a publicação de um empresário argumentando que a TV Globo deveria ser pressionada a divulgar os resultados dos exames para ser coerente, segundo ele, com a linha editorial de seus programas jornalísticos. A emissora já era alvo comum de bolsonaristas, que costumam compartilhar #GloboLixo com frequência.
Na avaliação da cientista política Tathiana Chicarino, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), a atitude da deputada faz parte de uma estratégia comum dos políticos na era da internet. Graças às redes sociais, as campanhas se tornaram permanentes, fazendo com que os parlamentares sejam instigados a mostrar serviço de forma constante.
“É comum pegar esses assuntos que estão ‘bombando’ e usar como estratégia para estar sempre com a sua imagem repercutindo na rede”, afirma Tathiana.
No caso dos bolsonaristas, como assinala a professora, “mostrar serviço” é agir para fortalecer a imagem de uma identidade coletiva. Tathiana salienta que é uma característica dos apoiadores do presidente a busca por contradições na mídia, sobretudo no que diz respeito à pandemia. “Para eles, é um fator de coesão do grupo: se reunir em torno de tudo aquilo que os coloca na situação de observar contradições de quem é considerado um opositor”.
Embora cobre que os participantes do programa sejam testados, Zambelli nunca teve participação ativa na formulação de políticas públicas de combate à pandemia. Ela, na verdade, é expoente do movimento antivacina e uma das defensoras do chamado “tratamento precoce”, conjunto de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença. A deputada, inclusive, é autora de um projeto de lei para proibir a exigência de passaporte sanitário no País.
Como observado por Tathiana, não é a primeira vez que bolsonaristas entram nos “temas quentes” do momento para incluir o nome do presidente da República no debate. Nesta quarta-feira, 2, o próprio chefe do Executivo fez uma publicação em apoio ao podcaster americano Joe Rogan, que tem sido muito criticado nos últimos dias por promover desinformação sobre a covid em seu programa no Spotify. Na contramão de artistas como Joni Mitchell e Neil Young, que cortaram laços com a plataforma devido à controvérsia, o mandatário brasileiro saiu em defesa do que classificou como “liberdade de expressão”.
Recentemente, a deportação do tenista Novak Djokovic pelo governo australiano, motivada pela recusa do atleta em apresentar comprovante de vacinação contra a covid, também movimentou perfis de políticos bolsonaristas nas redes. Apoiadores do presidente passaram a ver no atleta um exemplo a ser seguido em defesa do que classificam também como liberdade. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (Patriota-RJ) chegou a fazer uma publicação elogiosa chamando o sérvio de “líder mundial” antivacina.
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