Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 07/Fev/2022 às 16:10 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

Isa Penna é ameaçada de estupro e familiares da deputada sofrem ataques

Publicado em 07 Fev, 2022 às 16h10

Familiares de Isa Penna sofrem ataque após ameaças de estupro e morte à deputada. Parentes da parlamentar tiveram endereço divulgado e remetente é o mesmo usado em ataque contra o ator e BBB Douglas Silva

Isa Penna ameaçada estupro familiares deputada sofrem ataques
Isadora Martinatti Penna (Imagem: Alesp)

A deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) revelou que ela e a família estão sendo ameaçados por grupos de extrema-direita, que se organizam na deepweb – isto é, no submundo da internet. Ao mesmo tempo que a participação das mulheres cresce na política, as ameaças feitas por extremistas se radicalizam.

Em 2018, o número de mulheres eleitas cresceu 51% em relação ao pleito anterior – mas ainda é pequena. Hoje, a Câmara dos Deputados tem 77 mulheres entre as 513 cadeiras, representando 15% das parlamentarem na casa. No Senado, 13 mulheres ocupam cadeiras – sendo que 12 foram eleitas e Eliane Nogueira entrou no lugar do filho, Ciro Nogueira, que deixou o posto para ser Ministro da Casa Civil.

O Mapa das Mulheres na Política 2021, feito pela ONU e pela União Interparlamentar, mostra que o Brasil está em 142º lugar no ranking de representação feminina no Parlamento. O país está atrás, inclusive, da Arábia Saudita, em 119º.

Apesar da baixa representação, há um lento progresso. A evolução claramente incomoda os grupos extremistas, que tentam a todo custo minar a representatividade de minorias, incluindo mulheres, negros e indígenas, das formas mais violentas possíveis. Em entrevista à rádio CBN, Isa Penna afirmou que crimes como o sofrido por ela, de ameaças, precisam ser cortados pela raiz agora.

Eu acho que não só o que veio a acontecer comigo, mas o mesmo ataque que eu sofri também sofreu o ator que está no BBB, o Douglas Silva”, relevou. “É uma mulher e uma pessoa negra. Talvez eu não só pelo caso que eu sofri, mas pela trajetória política que eu tenho. Eu virei uma referência na luta contra a referência contra as mulheres, talvez essa seja a razão porque eles me escolheram para esse tipo de ameaça”.

A deputada pediu que as instituições estejam ao lado das vítimas e se mostrem fortes. Caso contrário, as eleições de 2022 podem ser “mais um episódio traumático na história do Brasil”. Isa Penna lembrou ainda da vereadora Marielle Franco, assassinada de forma brutal em 2018.

A morte de Marielle ainda é investigada e, nesta semana, um quinto delegado assumiu o caso. O mandante segue desconhecido, apesar de os dois homens que executaram o assassinato, Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, estarem presos.

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Outros tipos de intimidação

Isa Penna falou ainda sobre uma perda de individualidade. Hoje, ela está impossibilitada de ir até a esquina sem escolta policial, dada a intensidade dos ataques. Mas, antes de ser vítima de intimidações de forma virtual, ela também sofreu assédio durante uma sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo.

A deputada foi apalpada na lateral do seio por um colega, Fernando Cury. Esse tipo de ação é também uma ferramenta de intimidação, que leva mulheres a se sentirem acuadas no ambiente político, o que pode leva-las até mesmo a incorreta conclusão de que não pertencem àquele espaço.

Outro caso bastante recente aconteceu no dia 2 de fevereiro. Única mulher na Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia (GO), a vereadora Camila Rosa defendia a presença de mais mulheres na política quando teve seu microfone cortado. Essa também é uma forma de violência. É silenciamento no sentido literal da palavra. Ela registrou um boletim de ocorrência por violência política contra a mulher.

O assassinato brutal a uma vereadora, as ameaças de morte e de estupro a uma deputada federal e o silenciamento da única mulher em uma Câmara Municipal são formas diferentes de promover a violência, mostrando a força da tentativa de limar a participação feminina da política.

Perpetuação da exclusão

Com poucas mulheres na política, a tendência é que as brasileiras – que representam 52% da população – sigam sem representatividade e, consequentemente, sem políticas públicas pensadas para elas.

Em “Feminismo e política”, Flávia Biroli e Luis Felipe Miguel explicam que as decisões leis e políticas que afetam as mulheres brasileiras seguem sendo definidas por homens. Isso, avaliam, afeta diferentemente a democracia.

Teorias da democracia, da justiça, teorias que estariam centradas na problemática da liberdade e da autonomia dos indivíduos passam ao largo dessas questões quando silenciam sobre o impacto do gênero na posição social dos indivíduos e sobre a relação estreita entre as hierarquias em diferentes esferas da vida”, explica.

Leia também: Mulheres em tempos sombrios: a humilhação de existir

Na lógica perpetuada durante séculos, a mulher foi colocada como aquela que ficam em casa e cuida da família. O sociólogo Pierre Bourdieu explica que essa divisão entre os sexos parece estar “na ordem das coisas”, de forma tão arraigada que parece ser inevitável.

A força da ordem masculina se evidencia no fato de que ela dispensa justificação: a visão antrocêntrica impõe-se como neutra e não tem necessidade de se enunciar em discursos que visem legitima-la. A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica que tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça: é a divisão sexual do trabalho, distribuição bastante estrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instrumentos”, afirma. “É a estrutura do espaço, opondo o lugar de assembleia ou de mercado, reservado aos homens, e a casa reservada às mulheres”.

Apesar de parecer antiquado falar em divisão dos trabalhos dessa forma em 2022, é esse tipo de pensamento que baseia radicalismos, como os que levaram aos episódios de violência contra mulheres na política. É a impossibilidade de aceitar a mudança de paradigma social levado ao extremo, somado à ideia de dominação masculina, que leva grupos supremacistas a se sentirem no direito de ameaçar uma mulher porque não aceitam que ela ocupe um espaço que, antes, era totalmente masculino.

Anita Efraim, Yahoo

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