Relembre o que diziam as pesquisas a 6 meses das eleições presidenciais desde 1989
Candidato que liderava as pesquisas a seis meses da votação venceu a disputa em quatro das oito eleições presidenciais. As mudanças significativas ocorreram em 1989, 1994, 2010 e 2018
Flávia Said, Metrópoles
Pesquisas do Instituto Datafolha sobre eleições presidenciais realizadas desde 1989, quando ocorreu o primeiro pleito direto depois da redemocratização, mostram que o candidato que liderava as enquetes a seis meses da votação venceu a disputa em quatro das oito eleições. Houve mudança significativa no cenário entre abril e outubro nos anos de 1989, 1994, 2010 e 2018.
O Instituto Datafolha foi selecionado para a análise, porque é o único que presta o serviço da mesma forma desde a volta da democracia ao país, e com constância e regularidade na divulgação de pesquisas eleitorais. As informações são do portal Metrópoles.
O levantamento baseou-se nos acervos do instituto e em notícias veiculadas pela imprensa. Foram consideradas perguntas estimuladas com o principal cenário apresentado ao eleitor. Para as apurações finais das eleições, foram consultados os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desde 1994, as eleições são realizadas no Brasil no mês de outubro.
Portanto, foram observadas as pesquisas de abril realizadas em 2018, 2014, 2010, 2006, 2002, 1998, 1994 e 1989. O pleito que elegeu Fernando Collor (então no PRN) ocorreu entre novembro (primeiro turno) e dezembro (segundo turno) de 1989, mas, como não há registro de levantamento em maio, também foi considerada a pesquisa realizada no fim de abril daquele ano.
Na primeira eleição direta pós-redemocratização, Collor, Lula (PT) e Leonel Brizola (PDT) estavam tecnicamente empatados, com 14%, 13% e 12% das intenções, respectivamente. Collor cresceu a partir de junho, mas, ainda assim, o confronto foi para uma segunda votação, com Collor e Lula disputando a preferência do eleitorado.
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Em 1994, Lula apresentava 42% das intenções de voto, segundo o Datafolha, ante 16% de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). FHC, porém, conseguiu virar o jogo e vencer ainda em primeiro turno, com 54,24% dos votos válidos, embalado pelo Plano Real.
Em 2010, a sucessora de Lula, Dilma Rousseff (PT), contabilizava 28% das intenções de voto em um primeiro momento, 10 pontos percentuais atrás do principal adversário, o tucano José Serra, com 38%. Ela acabou eleita em segundo turno, por 56,05% a 43,95%.
Em 2018, pesquisas aplicadas por diferentes institutos acertaram, ao mostrarem a tendência de alta do candidato Jair Bolsonaro, então no PSL, apesar de nem todas terem acertado sua vitória em segundo turno. O mandatário frequentemente ataca os levantamentos para questionar dados que apontam aumento na sua rejeição.
Bolsonaro registrava, no último levantamento do Datafolha antes do primeiro turno, 35% das intenções de voto, ante 22% de Fernando Haddad (PT) . Nas urnas, Bolsonaro obteve 46,03% dos votos válidos e Haddad, 29,28%.
2022
A mais recente pesquisa divulgada pelo Datafolha para as eleições presidenciais de 2022 mostra o ex-presidente Lula na dianteira, com 43% das intenções de voto, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 26%, e pelo ex-juiz Sergio Moro (então no Podemos), com 8%. O levantamento consultou 2.556 pessoas nos dias 22 e 23 de março. Ainda não foi divulgada pesquisa no mês de abril.
Segundo o próprio instituto, a pesquisa de março não é diretamente comparável à anterior, feita de 13 a 16 de dezembro, por aplicar cenários distintos — basicamente, retirando nomes que saíram da disputa, como os do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) e do ex-ministro Aldo Rebelo (sem partido), e incluindo outros nomes: de Vera Lúcia (PSTU), André Janones (Avante) e Leonardo Péricles (UP).
Na rodada anterior, Lula oscilava de 47% a 48%, e Bolsonaro, de 21% a 22%. Os números comparáveis com dezembro mostram uma leve melhoria do cenário para o atual presidente.
Em abril de 2018, Lula também liderava as pesquisas, mesmo ainda estando preso em Curitiba (PR), após condenação por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá – sentença atualmente anulada. Ainda não tinha saído a decisão judicial oficial que o tiraria da eleição.
Seis meses antes do pleito de quatro anos atrás, o petista aparecia com 31% das intenções de voto, contra 15% de Bolsonaro. Desde então, já se apontava que o PT e Bolsonaro deveriam ser os protagonistas da eleição, visto que o terceiro colocado, Geraldo Alckmin (PSDB), apresentava menos de 10% das citações.
“Fotografia do momento” e tendências
Especialistas alertam que as pesquisas eleitorais registram uma “fotografia do momento” e devem ser analisadas em contexto mais amplo, ao apontarem tendências.
Max Stabile, diretor do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), faz uma analogia entre as pesquisas eleitorais e os placares de partidas de futebol.
“As enquetes eleitorais são um placar do jogo aos 45 minutos do segundo tempo. No caso dos seis meses, é o placar do jogo no primeiro tempo, nos primeiros 15 minutos”, explica Stabile. “Aos 45 minutos do segundo tempo, muitos placares mudaram”, continua ele, explicando que, por mais que um lado tenha jogado melhor, pode haver uma mudança derradeira no resultado.
“Essas pesquisas medem o retrato daquele momento. Num jogo político, está todo mundo trabalhando para que ele mude”, prossegue, detalhando que as pesquisas encomendadas pelos candidatos miram justamente em mudanças de cenários.
Prorrogação
Em outra analogia futebolística, Stabile ressalta que as pesquisas não captam a prorrogação do jogo, porque a própria regra eleitoral exige um intervalo entre a divulgação do levantamento e a data em que os eleitores depositam seus votos nas urnas. “As pessoas podem mudar de opinião na véspera”, explica o especialista.
A literatura aponta que as pesquisas podem ter um resultado diferente da última divulgação, principalmente em municípios menores, em localidades em que haja uma alta competição entre os candidatos e onde exista um número grande de indecisos.
Para 2022, Stabile alerta sobre a importância de analisar o agregado das pesquisas, mas enfatiza que ainda é cedo – pode haver uma virada no cenário, a exemplo do que ocorreu em 2014, com a morte de Eduardo Campos (PSB), e em 2018, com a facada em Bolsonaro. “O jogo ainda nem começou”, avalia.
Além das pesquisas para presidente, há casos de viradas no jogo também em âmbito estadual. Por exemplo, o sucessor de Sérgio Cabral no governo do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), começou a disputa de 2014 com 3% de intenções de voto e a campanha foi bem-sucedida em ampliar a margem e elegê-lo, com mais de 55% dos votos válidos.