Mais dois brasileiros morrem em combate na Ucrânia: "Explodiu tudo"
"Ela dizia que as atividades por celular estavam sendo monitoradas por drones russos". Thalita do Valle estava na Ucrânia há apenas 3 semanas e era modelo, socorrista e estudante de direito, enquanto o gaúcho Douglas Búrigo era ex-militar do exército brasileiro
Mais dois brasileiros morreram em combate na Ucrânia no último sábado, 2 de julho. Thalita do Valle (39) e Douglas Búrigo (40) foram atingidos por um bombardeio russo na cidade de Kharviv. As informações foram confirmadas pelos familiares das vítimas. Além deles, o brasileiro André Hack Bahi morreu ao ser atingido em um confronto em Sieverodonets em 5 de junho.
Thalita era atriz, modelo, estudante de Direito, ativista de causas animais e socorrista. Segundo relatos de combatentes, o bombardeio russo atingiu o bunker da Legião Internacional. Douglas conseguiu fugir do local após o primeiro míssil, mas ao se dar conta de que Thalita havia ficado para trás, voltou para tentar ajudar a modelo. Quando retornou, uma outra bomba atingiu o bunker e matou os dois.
Thalita já tinha experiência em conflitos anteriores. Socorrista e com cursos de tiro no Brasil, participou de uma missão contra o Estado Islâmico no Iraque, Curdistão iraquiano e Curdistão Sírio há três anos, conforme registros em seu canal no YouTube. A experiência estava sendo registrada em livro redigido por Thalita em parceria com um escritor, diz a família.
Segundo o irmão Théo Rodrigo, a especialidade de Thalita era atuar como socorrista. “A função primária é fazer o resgate. Mas também tem a função de fazer a proteção, dando cobertura para quem está avançando, como atiradora de precisão”.
Embora saiba que a irmã precisava usar armas no conflito, Théo a define como uma “progressista genuína defensora da paz”. “Ela pegava em armas apenas porque era um contexto de guerra”, explica.
Théo diz ter falado com a irmã pouco antes da viagem para a Ucrânia. “Ela falou que estava indo para a Polônia [na divisa com o território ucraniano] para fazer a função de socorrista, ajudando as pessoas a saírem do país em guerra. Mas logo já foi para a área de conflito”, conta.
Após informar à família que estava na capital Kiev, a região foi alvo de bombardeios. Thalita só voltou a falar com os parentes 48 horas depois dos ataques.
“Quando a gente conversava por telefone, eu queria saber tudo. Mas ela dizia que não podia falar muito, porque as atividades por celular estavam sendo monitoradas por drones russos. Ela ligava só para avisar que estava bem”, explica Théo.
O último contato, lembra ele, ocorreu na tarde de 27 de junho, há uma semana, quando Thalita tinha acabado de se deslocar para a cidade de Kharviv, onde ocorreu o bombardeio que a matou.
Douglas Búrigo
Natural de Uruguaiana (RS), Douglas foi militar do Exército brasileiro. Nos últimos anos, passou a morar com os pais na cidade de São José dos Ausentes, também no Rio Grande do Sul, onde era dono de uma borracharia.
Ele deixou o Brasil ao embarcar em um voo no aeroporto internacional de Guarulhos (SP) em 24 de maio. No dia seguinte, pisou pela primeira vez no país invadido. O combatente brasileiro tinha uma filha de 15 anos.
Cunhado de Douglas, o empresário Carlos dos Reis diz que a família tentou convencê-lo a não se alistar junto às tropas ucranianas. “Mas não adiantou. A ideia dele era ir à Ucrânia para ajudar na reconstrução do país”, relata.
“O comandante do pelotão nos informou que a tropa conseguiu escapar depois do primeiro bombardeio. Mas o Douglas voltou para buscar a companheira de farda, que ficou para trás. Foi quando os mísseis atingiram em cheio o alojamento. Explodiu tudo”, lamentou Carlos dos Reis.