As “bobagens” que Bolsonaro diz
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Esses dias ouvi uma entrevista do Roberto Justus sobre o Bolsonaro. Tratava-se dum vídeo antigo, talvez até de pouco antes das eleições. Mas a data não importa muito. Refleti sobre a essência do que ele falou.
Mas, antes, voltemos quase um século, na Alemanha pós-Primeira Guerra.
Quando Hitler fazia seus discursos ufanistas e odiosos, obviamente conquistava significativa parcela alemã que viu nele a reprodução de seus mais íntimos preconceitos, insensibilidades e desumanidades. Mas desse pessoal, com velados ignorancismos e preconceitos, já é de se esperar que apoiem quem legitima seus ódios com discursos relativizadores e até legitimadores desses pensamentos. E os preconceituosos velados existem em qualquer povo a qualquer época. Eles sempre estiveram entre nós, no fundo sabíamos.
Porém outra parte da população alemã que talvez até racionalmente não fosse preconceituosa, mas apoiou o Nazismo, foram muitos burgueses e comerciantes.
Com receio de que ideias socialistas ascendessem na sociedade, a burguesia da época menosprezou o ódio explícito de Hitler contra os judeus e o apoiou politicamente. Era o medo do fantasma do comunismo (búúú). O mesmo que embasou o golpe de 64 aqui no Brasil e em outros lugares. Como fantasma, poucos têm o dom de vê-lo efetivamente.
Ou seja, em nome de ideias econômicas conservadoras (ainda que Hitler fosse contra o Liberalismo, por exemplo, num conservadorismo às avessas), os donos do grande capital alemão apoiaram, e quero crer que sem poder prever, o genocídio de milhões de judeus e de outros grupos.
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Voltando ao Justus, foi mais ou menos isso que ele defendeu na entrevista. Disse que temos que menosprezar as bobagens e exageros que o Bolsonaro diz (disse). E o próprio Justus reconhece que o presidente fez algo grave ao afirmar que não estupraria uma deputada só porque ela não merece.
Para Justus, ressalvada a verborragia presidencial, o que importa é que ele tinha excelentes ideias na área econômica e que não iria assaltar o país com corrupção. Como disse, não sei se ele gravou o vídeo depois de Bolsonaro já ter assumido a presidência, pois acreditava que ele não seria corrupto.
Apesar de em voga tanto de um lado como de outro, tenho muita resistência em acusar alguém, um grupo ou uma instituição de Nazista ou mesmo Fascista. Considero que talvez seja um desrespeito às mais de seis milhões de vítimas, pois estamos banalizando o conceito. Além disso, se o Nazismo calou milhões, acusar alguém de sê-lo é, então, também uma forma de Fascismo, já que sumariamente anula a ideia dessa pessoa, uma vez que os fascistas por lei, convenção e razoabilidade não merecem mesmo serem ouvidos.
Portanto, não acuso o Bolsonaro e nem o bolsonarismo de fascista. Mas as “bobagens” que diz, propagando ódio, preconceito e violência devem sim serem levadas a sério. Há muitos que só esperam uma legitimação para pôr em prática horrendas ideias. E se essa legitimação advir daquele que é (deveria ser) nosso líder, aí é pior.
*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”
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