Delegada que já propagou discurso de ódio é substituída em investigação do assassinato de petista
Esse não é um caso qualquer sobre questões do cotidiano da violência no Brasil (...) É um assassinato por questões políticas, com assassino identificado, que pode determinar o rumo da eleição e da democracia.
Moisés Mendes*, em seu blog
Hoje, no contexto da violência produzida pelo fascismo brasileiro, essa informação não é irrelevante. A delegada Iane Cardoso, que estava investigando o assassinato de Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu, é do mesmo grupo político do assassino.
A delegada é militante bolsonarista ativa nas redes sociais.
Na entrevista à Globo, logo depois do crime, ela se referiu ao matador como vítima e se corrigiu.
CÚMPLICE! A delegada,em “ato falho”,chamou o assassino de VÍTIMA e vai investigar quem chutou o assassino, quando estava caído! @Sgt_Pimenta4 @WaimiriAtroari9 @lolaescreva @hilde_angel @beruta @oastorer pic.twitter.com/lLW59j4KCu
— Vel Andrade 🇵🇸🇵🇸🇵🇸 (@And2Vel) July 11, 2022
Uma militante de extrema direita deveria se declarar impedida para investigar um homicídio em que o assassino agiu como matador com clara motivação política de extremista de direita.
Não é a mesma coisa que, tempos atrás, um policial tucano investigar um crime cometido por um tucano. Vale para qualquer outro partido.
Até porque antes pouco importava se o policial era ou não engajado politicamente a algum partido.
Nesse caso, não tem jeito. Uma delegada com posições bolsonaristas exacerbadas (se é que isso não significa redundância) investigar as motivações e as circunstâncias de um crime de ódio, premeditado, por intolerância política, cometido por um bolsonarista?
Não pode. Não será bom para ninguém e muito menos nas atuais circunstâncias.
A delegada não é uma simples simpatizante do bolsonarismo, o que é um direito de qualquer um.
É uma ativista declarada, o que também é seu direito assegurado, apesar das posições do próprio bolsonarismo de tentar desqualificar a militância política de adversários.
E os posts dela no face? pic.twitter.com/8RCnqrmAdO
— Baêta (@fbaeta) July 11, 2022
A barreira institucional, profissional, ética e moral se ergue porque esse caso não pode ter uma autoridade com ativismo político de extrema direita investigando um episódio em que o assassino conhecido e provado é também de extrema direita.
Esse não é um caso qualquer sobre questões do cotidiano da violência no Brasil. Não é uma acusação, uma denúncia ou uma suposição de um possível delito a ser examinado por polícia, Ministério Público e Justiça.
É um assassinato por questões políticas, com assassino identificado, que pode determinar o rumo da eleição e da democracia.
Não há dúvidas sobre a autoria do crime, a premeditação e o momento do ataque covarde.
A delegada deveria dizer: estou fora. Se não, tudo o que fizer será questionado por direita e esquerda.
Principalmente se, para esculhambar com a investigação, começarem a surgir outras falsas motivações.
Como dizem os bolsonaristas: pede pra sair, delegada. Em nome da preservação da imagem da própria polícia, das instituições e da normalidade democrática. Se é que ainda há normalidade.
Substituição
Por decisão “técnica” da Secretaria de Segurança, a delegada Iane Cardoso será substituída pela colega Camila Cecconello.
Esse foi o motivo oficial: a decisão foi tomada porque a divisional de homicídios tem mais recursos e experiência para essa situação.
O dado positivo, em meio a tantas controvérsias e barbeiragens: uma mulher substitui outra mulher.
O governador Ratinho, filho do Ratão do SBT, pode ser bolsonarista, mas não é bobo.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)
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