Pessimismo migra para campanha de Lula após Bolsonaro reduzir vantagem em MG
Desde a redemocratização, Minas Gerais tem servido como uma espécie de termômetro para a eleição presidencial e, ao mesmo tempo, um estado pêndulo. Quem vence por lá acaba levando a Presidência. Com os novos números divulgados nesta sexta, pessimismo migra do comitê de Bolsonaro para o de Lula
Leonardo Sakamoto
Desde a redemocratização, Minas Gerais tem servido como uma espécie de termômetro para a eleição presidencial e, ao mesmo tempo, um estado pêndulo. Quem vence por lá acaba levando a Presidência. Sob esse contexto é que deve ser lida a pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta sexta (12), aponta Lula (42%) à frente de Bolsonaro (33%), em Minas Gerais, mas com redução significativa em sua vantagem.
A diferença entre ambos que era de 25 pontos, em março, caiu para 18, em julho, e nove, em agosto. O ex-governador Ciro Gomes marca 6% e a senadora Simone Tebet, 1%. A margem de erro é de dois pontos. Os dados apontam para o aprofundamento da polarização da disputa presidencial em Minas Gerais.
O Amazonas também tem apontado o vencedor, mas Minas ostenta uma proporção mais semelhante à votação nacional e é demograficamente relevante, sendo o segundo maior colégio eleitoral, atrás apenas de São Paulo. Se o Estado tivesse entregue uma expressiva maioria de seus votos ao seu ex-governador Aécio Neves (PSDB), em 2014, por exemplo, a história daquela eleição teria sido outra.
Ao mesmo tempo, a diversidade de seus 853 municípios o torna uma amostra social e econômica do Brasil e, consequentemente, um retrato de seu comportamento eleitoral. Do Vale do Jequitinhonha, passando pelo Vale do Aço, pela Grande BH, o Sul de Minas e o Triângulo Mineiro, há áreas pobres e ricas, urbanas e rurais, industrializadas e voltadas ao agronegócio e à agricultura familiar, mais secas e mais úmidas, com regiões com características semelhantes às macrorregiões do país.
E o que aponta esse termômetro, segundo a Quaest? Que a vantagem de Lula entre quem ganha até dois salários mínimos, ou seja, os mais pobres da amostra da pesquisa, foi de 47 pontos em março, quando Lula tinha 59% e Bolsonaro, 12%, para 28 pontos agora (51% a 23%). O petista continua também a uma distância consistente para o atual presidente entre os beneficiários do Auxílio Brasil (53% a 25%), mas a diferença já foi de 60% a 16%, em julho.
Como a liberação dos R$ 600 do Auxílio Brasil começou a ser pago apenas nesta terça (9), o ganho de popularidade de Bolsonaro junto a essa faixa etária pode estar vindo da expectativa do desembolso dos R$ 200 a mais, além do vale-gás e outros vouchers que foram garantidos em período eleitoral pela PEC da Compra dos Votos.
Também houve redução da diferença entre o que não recebem o auxílio, da mesma forma que o atual presidente ampliou sua liderança entre quem ganha mais de cinco salários por mês.
Minas vota ora com candidatos mais à esquerda, ora vota com os mais à direita
Isso torna a montagem de palanques para conquistar os corações e mentes dos mineiros um dos principais desafios dos pré-candidatos ao Palácio do Planalto. Pesou para Fernando Collor de Mello ter o mineiro Itamar Franco na chapa, da mesma forma que Lula contou com a ajuda do mineiro José Alencar.
Nesta eleição, Lula (PT) fechou aliança com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD). E apesar de ter Carlos Viana (PL) como seu candidato oficialmente, Bolsonaro está alinhado ao governador Romeu Zema (Novo), à frente nas pesquisas (46% a 24%, frente a Kalil).
Esse padrão de ser um termômetro da campanha nacional se repetirá em outubro deste ano? Em política, tendência não é destino.
Situação semelhante à de Minas Gerais era a de Ohio, Estado-pêndulo para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, ora apontando para um lado, ora apontando para outro. De 1964 a 2016, quem levava no Estado ganhava a Casa Branca. O folclore durou até 2020, quando Joe Biden perdeu de Donald Trump por lá, mas venceu, de forma consistente, a eleição nacional.
Abaixo, arredondados, os votos válidos nacionais e em Minas Gerais nos últimos 33 anos:
1989: Collor vs Lula
Em 1989, considerando resultados nacionais, Fernando Collor de Mello foi eleito com 53% dos votos válidos, enquanto Lula teve 47%. Em Minas Gerais, Collor teve 55% a 44%, vencendo no segundo turno.
1994: FHC vs Lula
Em 1994, considerando resultados nacionais, Fernando Henrique Cardoso foi eleito com 55% dos votos válidos, enquanto Lula teve 40%. Em Minas Gerais, FHC teve 65% a 22%, vencendo no primeiro turno.
1998: FHC vs Lula
Em 1998, considerando resultados nacionais, Fernando Henrique Cardoso foi eleito com 53% dos votos válidos, enquanto Lula teve 32%. Em Minas Gerais, FHC teve 56% a 28%, vencendo no primeiro turno.
2002: Lula vs Serra
Em 2002, considerando resultados nacionais, Lula foi eleito com 61% dos votos válidos, enquanto José Serra teve 39%. Em Minas Gerais, Lula teve 66% a 33%, vencendo no segundo turno.
2006: Lula vs Alckmin
Em 2006, considerando resultados nacionais, Lula foi eleito com 61% dos votos válidos, enquanto Geraldo Alckmin teve 39%. Em Minas Gerais, Lula teve 65% a 35%, vencendo no segundo turno.
2010: Dilma vs Serra
Em 2010, considerando resultados nacionais, Dilma Rousseff foi eleita com 56% dos votos válidos, enquanto José Serra teve 44%. Em Minas Gerais, Dilma teve 58% a 42%, vencendo no segundo turno.
2014: Dilma vs Aécio
Em 2014, considerando resultados nacionais, Dilma Rousseff foi eleita com 52% dos votos válidos, enquanto Aécio Neves teve 48%. Em Minas Gerais, Dilma teve 52% a 48%, vencendo no segundo turno.
2018: Bolsonaro vs Haddad
Em 2018, considerando resultados nacionais, Jair Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos válidos, enquanto Fernando Haddad teve 45%. Em Minas Gerais, Bolsonaro teve 58% a 42%, vencendo no segundo turno.
_______________________________________________________
PS.: Uma das luzes vermelhas que piscaram no comitê de Lula indica que Bolsonaro recupera no Sudeste votos que lhe faltam no Nordeste, onde leva uma surra do rival. A outra luz sinaliza que, graças à PEC da Eleição, que transformou o Tesouro Nacional em cabo eleitoral de Bolsonaro, as ameaças à democracia são diluídas no mar de dinheiro que o capitão manuseia na antessala da eleição. Recém-embarcado na canoa de Lula, o ex-presidenciável mineiro André Janones traduziu a nova pesquisa realizada em Minas Gerais: “Diferença entre Lula e Bolsonaro cai de 18 pra 9, com apenas 2 dias de auxílio em R$ 600. Ou a esquerda senta no chão da fábrica pra conversar com os operários ou já era. Detalhe: o chão da fábrica atualmente são as redes sociais, em especial o Face.”
→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… considere ajudar o Pragmatismo a continuar com o trabalho que realiza há 13 anos, alcançando milhões de pessoas. O nosso jornalismo sempre incomodou muita gente, mas as tentativas de silenciamento se tornaram maiores a partir da chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Por isso, nunca fez tanto sentido pedir o seu apoio. Qualquer contribuição é importante e ajuda a manter a equipe, a estrutura e a liberdade de expressão. Clique aqui e apoie!