Como o bolsonarismo consegue eleger tantos parlamentares?
Lula teve 6 milhões de votos a mais do que Bolsonaro, mas não reverteu isso na mesma proporção do bolsonarismo em transferência de votos para parlamentares ao redor do Brasil. É preciso tirar o chapéu para a organização dos bolsonaristas nas eleições para cargos do legislativo. Partido de Bolsonaro fez deputados mais votados em quase todos os estados da federação, inclusive nos redutos petistas
A eleição de domingo (02/10) para o Senado Federal, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas foi uma demonstração da capacidade de organização política da extrema-direita no contexto político atual. O bolsonarismo se consolidou em praticamente todos os estados e ganhou força nas casas legislativas de todo o Brasil.
O PL, partido de Jair Bolsonaro, fez os deputados mais votados até nas regiões onde Lula e o PT historicamente predominam. A sigla presidida por Valdemar Costa Neto sai de 77 deputados para 99 parlamentares na Câmara Federal. O PL não conseguiu eleger candidatos somente em quatro estados: Acre, Alagoas, Piauí e Roraima.
O PT tinha 56 deputados e agora chega a 68 — foi o segundo partido mais vitorioso na Câmara. O PSOL sai de 8 para 12, enquanto outra siglas de esquerda definharam: PSB cai de 23 para 14 e o PCdoB de 8 para 6. Ao todo, partidos de direita ficaram com 273 deputados e os de esquerda 138 cadeiras.
Melhor desempenho em duas décadas
O desempenho do PL é o melhor de um partido político no Brasil nos últimos 24 anos. Até 1998, apenas PSDB e PFL haviam conseguido eleger 105 e 99 deputados, respectivamente. O deputado federal mais bem votado do país, com 1,47 milhão de votos, Nikolas Ferreira (MG), também faz parte da sigla que terá a maior bancada na Câmara.
Em Pernambuco, onde Lula teve 65% dos votos, o deputado federal mais votado foi o bolsonarista André Ferreira (PL). O PL fez 4 deputados federais no estado — que é um dos principais redutos petistas do país. O PT, por sua vez, elegeu apenas 1 deputado federal em Pernambuco.
Na Paraíba, Lula obteve 64% dos votos e o PT quase não conseguiu eleger um deputado federal. Luiz Couto (PT) entrou na última vaga, enquanto Cabo Gilberto (PL) foi um dos mais votados no estado.
Os dois deputados federais mais votados do Ceará são do PL: André Fernandes e Júnior Mano receberam mais de 200 mil votos cada um. Enquanto o PT elegeu apenas 3 federais no Ceará, o PL fez 5 no estado onde Lula teve 66% dos votos e Bolsonaro 25%.
“O PFL, PMDB e PSDB já elegeram bancadas muito expressivas para o Congresso, mas numa época em que o número de partidos políticos era drasticamente menor do que hoje. Além disso, era um voto relacionado ao coronelismo e a um poderio financeiro bastante significativo. O que acontece hoje com o PL me parece ser um fenômeno diferente”, pontua Luis Soares, editor do Pragmatismo.
“É importante esclarecer que não se trata do PL, mas do bolsonarismo. Aconteceu com o PSL em 2018 e agora com o PL em maior proporção. Engana-se quem imagina que essa força na votação para deputado surge espontaneamente, na esteira do carisma ou da popularidade do presidente. Há um direcionamento ideológico do voto muito bem orientado e que revela o poder de comunicação das redes bolsonaristas. O PT e a esquerda ainda não conseguiram se aproximar desse nível de organização. No campo progressista, apenas o PSOL no Rio de Janeiro consegue fazer algo semelhante, mas de maneira localizada e menos sofisticada”, observa.
“Por que Bolsonaro faz mais deputados do que o PT em estados onde Lula venceu com 65% dos votos? Até no Maranhão, estado que deu 68% dos votos a Lula, dois dos três deputados federais mais votados são do PL, que elegeu três parlamentares para a Câmara Federal no reduto petista, enquanto o PT fez apenas 1. Está claro que a esquerda precisa se modernizar e repensar a maneira de fazer campanha política, redefinir suas estratégias e modelos de atuação”, acrescenta Soares.
O cientista político e historiador Christian Lynch analisou a nova composição da Câmara dos Deputados como uma virada muito mais à extrema direita e com o PT como contenção. “PT elegeu mais vinte deputados e ampliou a bancada no Senado. Seu candidato não levou no primeiro turno por 1,7%. Não parece tão ruim para a esquerda. O centro é que parece estar mirrando diante de uma direita atrevida e de uma extrema-direita”, observou.
Senado Federal
O PL também terá a maior bancada no Senado Federal após as eleições gerais de domingo. A sigla elegeu oito senadores e, com isso, ocupará 14 das 81 cadeiras do Senado na próxima legislatura, que começa em 2023. Os mandatos dos senadores têm duração de oito anos.
Em segundo lugar, vem o União, que passará de seis para 10 senadores. O MDB foi quem mais perdeu no Senado: passa de 12 para 9 senadores, e de primeira para quarta maior bancada. O PT passa de sete para nove senadores, empatando com o MDB na quarta posição.
Podemos, PSDB e PTB perderam duas cadeiras, cada. No caso do PTB, eram as duas únicas e, com isso, a sigla não terá senadores quando os mandatos terminarem.
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