Redação Pragmatismo
ELEIÇÕES 2022 10/Out/2022 às 11:01 COMENTÁRIOS
ELEIÇÕES 2022

Hang ajudou eleição de bolsonarista ao Senado, o que é proibido

Publicado em 10 Out, 2022 às 11h01

Não é a primeira vez que a Havan é acusada de interferir em uma eleição. Em 2018, o Ministério Público do Trabalho processou as lojas Havan e seu proprietário, Luciano Hang, em, pelo menos, R$ 25 milhões por dano moral coletivo por intimidar seus empregados a votarem em Jair Bolsonaro

Hang ajudou eleição bolsonarista ao Senado proibido tse eleições
Jorge Seif (PL), senador eleito por SC, e o empresário Luciano Hang, da Havan

Leonardo Sakamoto*, em seu blog

Jorge Seif (PL) foi eleito ao Senado por Santa Catarina com a ajuda da estrutura de comunicação e de assessoria de imprensa da Havan, rede de lojas do empresário Luciano Hang, aponta reportagem do jornal Valor Econômico desta segunda (10). Pela lei eleitoral, isso pode levar à perda do mandato. Seif é tão íntimo do presidente que foi apelidado por ele de filho “06”.

A lei eleitoral impede que pessoas jurídicas contribuam ou façam doações a campanhas, o que configura abuso de poder econômico e pode levar à perda do mandato. A investigação de Ricardo Mendonça, do Valor, apurou que a Havan foi além disso.

Divulgava fotos, releases, discursos, entrevistas e até a agenda de campanha de Seif, usando mailing e logotipo da empresa. Quem precisasse de mais informações sobre eventos com o candidato era orientado a ligar para a Havan. A estrutura da empresa também era usada para fazer a cobertura dos atos de campanha. O conteúdo era reproduzido por veículos de imprensa de Santa Catarina.

“Luciano Hang e Jorge Seif convidam para coletiva de imprensa” é exemplo de um dos documentos, enviado em 19 de setembro. “É o meu candidato e o candidato do presidente Bolsonaro. Precisamos eleger o presidente e também levar para Brasília candidatos que estão comprometidos com as mudanças do nosso país”, disse Hang no release.

Hang ajudou eleição bolsonarista ao Senado proibido tse eleições
Release da Havan promovendo a candidatura de Jorge Seif

O ex-secretário da Pesca do governo Bolsonaro teve 39,8% dos votos, enquanto que o ex-governador Raimundo Colombo (PSD) ficou com 16,3%.

Com a maior bancada no Senado a partir de 2023, com 14 assentos, o PL já reivindica a Presidência da casa, enquanto Rodrigo Pacheco (PSD) tenta a reeleição. Seu partido terá 11 senadores e pode chegar a 12 na hipótese de Seif ter a candidatura impugnada. Nesse caso, o PL iria a 13.

A questão, portanto, não é apenas de mudança na representação de Santa Catarina na câmara alta do Congresso Nacional, mas pode afetar o jogo pelo controle do próprio Senado e, portanto, pela aprovação de leis e até a cassação de ministros do STF.

Há, contudo, grande chance da palavra final do Tribunal Superior Eleitoral ser dada sobre isso apenas no ano que vem. A Justiça Eleitoral só pode começar uma ação após uma denúncia ser apresentada formalmente por um partido que se sentiu prejudicado, por exemplo. Daí, precisará avaliar materiais e ouvir testemunhas. O caso passaria pelo Tribunal Regional Eleitoral de SC.

Saiba mais: Luciano Hang tem redes sociais bloqueadas pelo STF

Segundo a reportagem, a campanha de Seif disse que isso foi feito “à revelia da campanha” e que Hang se colocou à disposição como “ativista” – apesar de a questão não ser Hang, mas o uso da Havan. A empresa não respondeu ao jornal. A coluna também tentou contato com a Havan, mas não teve sucesso.

Em 2018, MPT acusou Havan de coagir empregados a votar em Bolsonaro

Não é a primeira vez que a Havan é acusada de interferir em uma eleição. Em 2018, o Ministério Público do Trabalho processou as lojas Havan e seu proprietário, Luciano Hang, em, pelo menos, R$ 25 milhões por dano moral coletivo por intimidar seus empregados a votarem em Jair Bolsonaro na eleição presidencial.

Além disso, o MPT também pediu R$ 5 mil a cada um dos cerca de 15 mil empregados, na época, como dano moral individual, o que elevaria o montante em R$ 75 milhões, totalizando um valor em torno de R$ 100 milhões. O caso ainda está em análise judicial.

De acordo com a ação civil pública, o proprietário promoveu campanhas políticas em prol do candidato com o envolvimento obrigatório de empregados em “atos cívicos”. Ele teria feito ameaças explícitas de fechar as lojas e dispensar os empregados, caso o adversário de seu candidato ganhasse a eleição.

Além disso, os trabalhadores teriam sido constrangidos a responder, em mais de uma ocasião, enquetes internas promovidas pela Havan em seus terminais de computadores, informando em quem votariam – num momento em que já era conhecida a preferência do dono da empresa. Na época, esta coluna procurou o departamento jurídico da Havan, que não quis se pronunciar.

*Leonardo Moretti Sakamoto é um premiado jornalista brasileiro. Além da graduação em jornalismo, possui mestrado e doutorado em ciência política pela Universidade de São Paulo.

→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… considere ajudar o Pragmatismo a continuar com o trabalho que realiza há 13 anos, alcançando milhões de pessoas. O nosso jornalismo sempre incomodou muita gente, mas as tentativas de silenciamento se tornaram maiores a partir da chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Por isso, nunca fez tanto sentido pedir o seu apoio. Qualquer contribuição é importante e ajuda a manter a equipe, a estrutura e a liberdade de expressão. Clique aqui e apoie!

Recomendações

COMENTÁRIOS