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ELEIÇÕES 2022 26/Out/2022 às 21:09 COMENTÁRIOS
ELEIÇÕES 2022

Farsa das rádios surgiu para abafar investigação da PF sobre a farsa de Roberto Jefferson

Publicado em 26 Out, 2022 às 21h09

A PF apresentou hoje indícios que apontam que a ação de Roberto Jefferson pode ter sido armação premeditada e combinada com o governo. O objetivo era provocar uma espécie de 'facada versão 2022' com fins eleitoreiros. A farsa das rádios surge como cortina de fumaça para abafar a farsa anterior

Bolsonaro farsa das rádios

Informações preliminares de uma perícia da Polícia Federal realizada na casa de Roberto Jefferson apontou, nesta quarta-feira (26), que o aliado de Bolsonaro pode ter premeditado a ação violenta contra os policiais federais que cumpriam uma ordem de detenção por violação de termos da prisão domiciliar.

As investigações indicam que o amigo de Bolsonaro montou o cenário após sua filha ter divulgado nas redes sociais um vídeo em que ele xinga Cármen Lúcia, ministra do STF, associando-a a termos como “prostitutas”, “arrombadas” e “vagabundas”.

A PF ainda tenta identificar se Jefferson fez o vídeo de propósito para provocar sua prisão ou se a premeditação ocorreu após a repercussão. Também encontraram um tripé para gravação de imagens e fita adesiva utilizada nas granadas, além de marcas de 60 tiros de fuzil. O laudo da perícia deve ficar pronto nos próximos dias.

A primeira farsa

O Ministro da Justiça do governo Bolsonaro já estava de prontidão para se dirigir até a casa de Jefferson — o que confirma a suspeita de envolvimento do próprio governo na ação. O objetivo da ‘resistência’ de Jefferson era reforçar a narrativa de que o bolsonarismo está sendo ‘vítima de censura e de perseguições’.

Jefferson gostaria de ter sido alvo da violência da PF, mas os agentes não reagiram. Se Jefferson fosse ferido ou morto no episódio, isso significaria ‘sangue bolsonarista derramado’ e, consequentemente, toda a tese vitimista seria utilizada para fins eleitoreiros. Porém, as coisas fugiram do controle.

“Já estava tudo armado: policiais amigos, a ida do Ministro da Justiça para negociar sua saída. O enredo foi por água abaixo quando Jefferson se precipitou, atingiu carros da PF, feriu policiais federais e chegou a jogar granadas nos veículos”, afirmou o jornalista Luis Nassif.

“O Ministro da Justiça tentou se safar com o álibi de que sua ida para a casa do ex-deputado visava impedir derramamento de sangue. Como assim? Um Ministro com a agenda em aberto, antes mesmo de haver informações públicas sobre o gesto de Jefferson?”, observou Nassif.

Farsa das rádios surge como cortina de fumaça

O ‘episódio Roberto Jefferson’ foi o que mais prejudicou a imagem de Bolsonaro neste segundo turno da campanha presidencial. Os assessores do presidente e a equipe de comunicação da campanha, através de monitoramentos, perceberam isso e precisaram agir rapidamente para abafar o caso.

Já no domingo a noite, horas após o atentado de Jefferson, Fábio Faria e Fabio Wajngarten convocaram uma coletiva de imprensa para o dia seguinte, segunda-feira, onde afirmaram que apresentariam ‘denúncias muito graves’ envolvendo o processo eleitoral. Era uma carta na manga para ser usada em situação de emergência.

Embora a denúncia fosse extremamente frágil e amadora — para não dizer uma farsa completa –, ela serviu ao que se propôs: tumultuar o processo eleitoral e impedir que a violência de Roberto Jefferson continuasse sendo repercutida.

Veja o que escreveu o jornalista Roberto Toledo sobre os acontecimentos:

A tentativa de homicídio de quatro agentes da Polícia Federal por Roberto Jefferson, fiel escudeiro de Bolsonaro, provocou 60% mais citações no Twitter do que a conquista da Copa do Brasil pelo Flamengo três dias antes. Foi um estouro de audiência e um desastre para a campanha bolsonarista – mas não por muito tempo. Bolsonaro conseguiu desviar a atenção das redes e da mídia para um factoide. De cúmplice, virou vítima.

Jefferson mal havia se acomodado em sua nova cela em Bangu 8 quando uma manobra diversionista da campanha de Bolsonaro roubou-lhe a cena. Uma história mal contada sobre inserções da campanha de Bolsonaro que não teriam sido veiculadas em algumas rádios virou, em dois dias, um assunto três vezes mais comentado no Twitter do que o atentado cometido por Jefferson contra os policiais e contra a democracia.

. De 1,6 milhão de citações (Twitter) no domingo, Jefferson caiu para 57 mil na quarta-feira.

. Ao mesmo tempo, as citações ao Tribunal Superior Eleitoral e ao presidente do TSE, Alexandre de Moraes, cresceram três vezes e bateram recorde: 843 mil citações nesta quarta-feira à tarde.

. Os dados foram coletados pela consultoria Arquimedes.

Não foi só no Twitter. Nesta quarta-feira, Jefferson perdeu as manchetes para a manobra de Bolsonaro. Com insinuações, meias verdades e ameaças, a campanha bolsonarista tentou envolver o TSE e o PT na história – embora nem um nem outro tenham nada a ver com ela.

Segundo a resolução 23.620 do TSE: “É responsabilidade exclusiva nas emissoras de rádio e TV obterem o material de campanha a ser inserido na programação”.

Ou seja, a Justiça eleitoral e outros partidos não têm nada a ver com isso.

Mais: “É responsabilidade exclusiva dos partidos políticos e das coligações fiscalizar a veiculação da propaganda. Só as emissoras e seus representantes estão sujeitos a sanções em caso de não cumprirem as inserções corretamente”.

Apenas a mais incompetente das campanhas eleitorais não contrataria empresas especializadas para monitorar diariamente a correta veiculação de sua propaganda. Os relatórios dessas empresas são enviados todo dia para dar tempo de, em caso de problemas, a campanha agir logo (não depois de semanas, como a de Bolsonaro).

Se a campanha de Bolsonaro não agiu quando deveria, só há duas hipóteses: 1) foi amadora e incompetente; ou 2) agiu de má fé.

Tudo isso acontece quando as pesquisas de intenção de voto mostram um favoritismo estável de Lula para vencer a eleição domingo. Além de desviar as atenções do público do atentando violento cometido por um seu aliado muito próximo, Bolsonaro prepara uma desculpa para sua eventual derrota. Não importa que venha a ser por sua única e exclusiva incompetência, ele sempre vai culpar outras pessoas e instituições.

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