Relatório dos militares não aponta fraude na eleição, mas estimula golpistas
Relatório dos militares não apontou a ocorrência de fraudes nas eleições. Isso bastaria para enfraquecer o discurso de bolsonaristas que pedem golpe, mas eles vão ler o que querem ler. O relatório entrega um chinelo velho para um pé cansado, ou seja, ao tratar de "riscos hipotéticos" anima os golpistas em sua jornada psicodélica pela realidade paralela
Leonardo Sakamoto*, em seu blog
Um aguardado relatório das Forças Armadas sobre a fiscalização das urnas eletrônicas e do sistema de votação, divulgado nesta quarta (9), não apontou a ocorrência de fraudes nas eleições. Isso bastaria para enfraquecer o discurso dos bolsonaristas que estão nas ruas pedindo golpe militar por não reconhecerem os resultados. Mas, infelizmente, eles vão ler o que querem ler. E o relatório garante elementos para ser instrumentalizado nesse sentido pelo presidente.
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“Conclui-se que a verificação da correção da contabilização dos votos, por meio da comparação dos Boletins de Urna (BU) impressos com os dados disponibilizados pelo TSE, ocorreu sem apresentar inconformidade”, afirma o relatório em sua página 24, pouco antes de listar um resumo das “oportunidades de melhoria”.
No ofício com o qual encaminhou o relatório das Forças Armadas ao Tribunal Superior Eleitoral, o ministro da Defesa Paulo Sérgio de Oliveira tentou dar uma “apimentada” na história. Destacou que “foi observado que a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação do código-fonte e consequente geração dos programas, pode configurar relevante risco à segurança do processo”.
E que a partir dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, “não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”.
Percebam o uso do verbo “poder”. Apesar de não ter fatos que corroborem sua hipótese, ele trabalha com hipótese para criar fatos. Algo que não provou ser falso não é necessariamente verdadeiro, da mesma forma algo que “pode” acontecer não aconteceu necessariamente de fato.
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Mas isso é suficiente para ajudas a estimular o naco golpista da militância bolsonarista, que vai abraçar a existência da hipótese levantada pelo relatório como um fato consumado.
A falta de elementos que apontem fraude foi imediatamente percebida pelo presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, que emitiu nota recebendo com “satisfação” o relatório final que “não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”. Completou, afirmando que as sugestões eles verão depois.
A fiscalização das urnas eletrônica e do sistema de votação não é atribuição das Forças Armadas, mesmo assim foi isso o que elas fizeram a pedido de Jair Bolsonaro. Com uma fronteira que é mais porosa que um queijo suíço, e onde nossa soberania é aviltada diariamente, surpreende que o setor de inteligência dos militares tenha tempo e recursos sobrando para lidar com algo que não é de sua competência. E que, como podemos ver, funcionou normalmente.
Que o próximo governo garanta que as Forças Armadas não precisem se submeter a esse tipo de humilhação.
*Leonardo Moretti Sakamoto é um premiado jornalista brasileiro. Além da graduação em jornalismo, possui mestrado e doutorado em ciência política pela Universidade de São Paulo.
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